Ateliê de artista chinês Ai Weiwei em Pequim é demolido sem aviso prévio
Uma escavadora rompe as janelas do amplo ateliê do artista Ai Weiwei, nos arredores de Pequim, enquanto várias pessoas retiram suas obras do edifício, prestes a ser destruído.
Nesta sexta-feira (3), começou a destruição do principal ateliê do artista e dissidente chinês Ai Weiwei, três anos depois de ele ter deixado o país.
Horas antes, o artista de 60 anos, que vive agora em Berlim, na Alemanha, havia publicado um vídeo no Instagram em que se vê uma escavadora em ação e vários homens olhando do interior do edifício quase deserto.
"Hoje começaram a derrubar meu ateliê 'zuo you' (esquerda e direita) sem aviso prévio", escreveu Ai Weiwei , em inglês, na rede social, que é bloqueada na China. "Adeus", escreveu.
O artista havia instalado em 2006 seu principal ateliê neste edifício de estilo industrial.
Não é claro se a demolição tem como propósito atingir o artista. As autoridades de Pequim demoliram grandes áreas dos subúrbios no ano passado em uma campanha de segurança de edifícios, geralmente avisando com dias de antecedência.
Filho de um poeta venerado pelos ex-dirigentes comunistas, Ai Weiwei participou como arquiteto no desenho do célebre estádio "ninho de pássaro" construído para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, mas caiu em desgraça por suas críticas ao regime.
Em 2011, passou 81 dias na prisão depois de ter sido preso no aeroporto de Pequim, quando pretendia embarcar em um avião para Hong Kong. As autoridades destruíram seu ateliê nos arredores de Xangai no mesmo ano.
Depois de ter o passaporte apreendido por quatro anos, o artista conseguiu recuperar o documento e se instalou em Berlim, em 2015.
Ele não demonstrou raiva ou surpresa com a destruição do ateliê, já que o contrato de aluguel deste espaço havia expirado no final de 2017, indicou Ga Rang, uma assistente que trabalhou a seu lado em Pequim por dez anos.
Segundo ela, que cuidava do ateliê, era impossível se mudar durante este período devido à grande quantidade de objetos armazenados no estúdio.
As autoridades encarregadas da destruição "vieram e começaram a romper as janelas sem nos avisar. Contudo, restam muitas coisas no interior", disse.
Os membros do ateliê haviam sido avisados de que a mudança era iminente, mas ninguém havia informado a data em que as escavadoras chegariam.
Nesta sexta-feira (3), perto do edifício, entre os escombros, restos de obras famosas do artista formavam uma estranha retrospectiva fantasmagórica.
Altas colunas de cerâmica verdes, amarelas e azuis, como as que usou na série "Pillar", em 2006, apareciam com barras de ferro retorcidas, recuperadas nas escolas destruídas em 2008 pelo devastador terremoto de Sichuan (sudeste), tudo cercado por um coro silencioso de raízes enormes e retorcidas semelhantes às de seu trabalho "Rooted Upon", de 2009, uma reflexão abstrata sobre a invasão da modernidade e do deslocamento.
Centros e edifícios comerciais
"As autoridades dizem que querem ampliar a área, construir centros comerciais e escritórios. Mas é uma lástima. Seria impossível encontrar outro lugar como esse em Pequim", lamentava Ga Rang. "O senhor Ai criou numerosas obras neste espaço, e muitas de suas obras emblemáticas foram fabricadas aqui".
Afastado do centro da capital chinesa, o ateliê do artista fica pero de "Big Wealthy Regal Industrial Park", uma área industrial cheia de tratores e edifícios antigos, onde vendedores de melancia perambulam pelas ruas.
O estúdio de Ai Weiwei domina o complexo industrial, em que muitos outros edifícios dos anos 1960 e 1970 já estão em ruínas.
No auge, essa região abrigava cerca de mil residentes, mas esse número começou a diminuir nos anos 1980, e somente 20 pessoas estavam morando no bairro nos últimos tempos.