Biografia recupera história de corretora carioca que ditou anos 1960
Há três formas de encarar “Os Leite Barbosa...”, como diz em prefácio o próprio editor do livro, José Luiz Alquéres: como um romance, uma saga familiar ou um texto sobre o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil.
A última opção se mostra a mais rica, apesar de, a princípio, parecer mais complicada.
Trunfo de jornalista, o autor George Vidor, ex-colunista do jornal O Globo, trabalha com objetividade para evitar uma escrita técnica.
O livro narra a história da família Leite Barbosa, da criação e ascensão à queda da corretora fundada pelo patriarca Mauricio Marcello, a M. Marcello Leite Barbosa, maior do Brasil no eufórico e desorganizado mercado dos anos 1960.
De uma família de fazendeiros cearenses, Marcello (1917-1977) chegou ao Rio nos anos 1930. Arrumou o primeiro emprego em um escritório de corretora quatro anos depois.
Na década de 1950, trabalhava com câmbio, mas seu grande sonho eram as ações. Queria ser um Salomon Brothers brasileiro —seu filho, Mauricio, fizera um estágio no banco de investimentos, um dos mais importantes de Wall Street à época.
Permeado por anedotas sobre a vida da elite carioca de então, quase como uma coluna de fofocas, o livro passa também por momentos importantes da história econômica do Brasil, como a promulgação da Lei de Mercado de Capitais.
Em 1965, ela definiu a criação das sociedades corretoras, permitindo que a M. Marcello passasse a ser uma instituição financeira apta a intermediar compra e venda de ações.
Marcello previu o crescimento do mercado e apostou na criação de fundos para atrair pequenos investidores e nichos específicos, como o público feminino —com campanhas de apelo questionável, como “Você já apresentou sua mulher ao Marcello?”.
O boom veio: o número de empresas listadas na Bolsa do Rio —núcleo financeiro do país antes de São Paulo roubar o posto— saltou de 26 em 1967 para quase cem em 1971.
A MMLB chegou a ter 1.400 funcionários, 58 mil clientes e 15 lojas. Segundo o livro, passaram pela corretora nomes como o empresário Marcel Telles, sócio da 3G Capital, dona de AmBev e Burger King, e o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, envolvido em investigações de fraude financeira no caso Marka-FonteCindan.
Com o ritmo frenético, no entanto, veio também a especulação. A custódia de muitas instituições era frágil, (não era raro papéis sumirem) e a fiscalização, pífia —a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) só foi criada em 1976.
A quebra da Bolsa do Rio era inevitável e não poupou a MMLB. A corretora sofreu uma “intervenção branca” do Banco Central que levou ao afastamento de Marcello e Mauricio do comando da empresa. A família vendeu a MMLB em 1987.
Aqui o livro é mais confuso. Há muito vaivém na história e não fica claro se havia de fato irregularidades na corretora.
Construído com suporte de personagens que participaram da história, o livro foi escrito também sob encomenda de Antonia, neta de Marcello.
No prefácio, Alquéres alerta que “visões pessoais sobre alguns fatos podem ser alvo de discordância”, mas garante que “houve empenho para produzir uma narrativa neutra.”
Não basta para tirar a pulga que fica atrás da orelha ao longo de todo o relato.
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Lista feita com amostra informada pelas livrarias Curitiba, Fnac, da Folha, Saraiva e Argumento; os preços são referências do mercado e podem variar; semana de 8/4 a 14/4; entre parênteses, a posição na semana anterior