Autoridades argentinas minimizam chances de resgate de submarino
São escassas as possibilidades de retirar o submarino argentino ARA San Juan —desaparecido havia pouco mais de um ano e cuja localização foi anunciada na madrugada do último sábado (17)— do local onde se encontra, a 250 milhas náuticas da costa da província de Chubut (na Patagônia) e a 907 metros de profundidade.
Isso segundo as três esferas envolvidas na busca, investigação e eventual resgate da embarcação. A primeira delas é a jurídica, qualquer operação para mover o submarino depende da decisão da juíza federal Marta Yáñez.
Na manhã deste domingo (18), ela declarou que não daria autorização se a operação fosse arriscar "mais vidas humanas dos que as que já se perderam" e antes de descobrir o que de fato ocorreu.
Yáñez revelou que a hipótese mais viável, segundo as investigações, é que o submarino estava em boas condições, porém continha uma falha que deveria ter sido reparada antes de zarpar e não foi, e que poderia ter causado a explosão. Ela acrescentou que detalhes do que seria essa falha seriam dados mais adiante.
O ARA San Juan saiu da Terra do Fogo em outubro de 2017. A última comunicação com sua base foi em 15 de novembro de 2017. Os indícios de uma "falha hidroacústica", ou seja, uma explosão ou uma implosão, detectada na época, sugere que o submarino teria colapsado algumas horas apenas depois deste último contato. "A prioridade agora é saber o que ocorreu, apurar as responsabilidades e avaliar o estado do ARA San Juan.
Qualquer resgate que exija, por exemplo, fratura-lo para tira-lo dali por partes está fora de cogitação pois seria alterar evidências e dificultar a resolução do caso", afirmou.
A juíza espera as 67 mil imagens que a embarcação Ocean Infinity, contratada pelo governo argentino, diz ter tirado do submarino. Com ela, espera armar uma maquete e, com ajuda de uma comissão de técnicos, aprofundar a investigação. No vídeo abaixo, é mostrado o momento em que o submarino foi encontrado.
Indagada sobre a reação de parte dos familiares, que querem os corpos dos 44 tripulantes mortos, a juíza disse que "entende, respeita e se solidariza com os parentes", mas que não podia autorizar qualquer tipo de operação de resgate dos cadáveres sem que se tenha certeza de que essa operação traria luz ao caso, que não fosse de alto risco para os envolvidos e que houvesse uma garantia das Forças Armadas de que possuem o material e o pessoal necessário para tanto.
A segunda esfera que pode influir na decisão é o grupo de expertos da Marinha, composto por oficiais veteranos e na ativa, que está ajudando a Justiça. Esta comissão, que se consultou com especialistas no exterior, também considera difícil a retirada do submarino.
Segundo explicaram seus integrantes, há riscos na extração do submarino. Como é possível que haja gases acumulados em seu interior, novas explosões podem acontecer caso ele seja movido.
Depois, pelo fato de as fotos demonstrarem que, após o acidente houve fissuras que encheram o submarino de água, ele agora deve pesar em torno de 2.500 toneladas, transformando-se em algo dificílimo de tirar da profundidade em que está em uma só peça.
Segundo o capitão Jorge Bergallo, que integra a comissão e cujo filho estava na embarcação, a ideia de parte dos familiares de resgatar corpos inteiros, caso se retire o ARA San Juan do fundo do mar, "pode trazer ainda mais dor, porque não há garantias de que os cadáveres estejam reconhecíveis e mesmo sem ter sido desmembrados". Bergallo é um dos poucos familiares que preferem que o ARA San Juan permaneça no fundo do mar, com seus integrantes dentro.
Por fim, a terceira esfera seria o próprio Executivo. A fala do ministro da Defesa, Oscar Aguad, no sábado (17) deixou claro que as Forças Armadas não têm recursos para realizar o resgate.
Logo depois, o presidente Mauricio Macri, ao declarar oficialmente a morte dos 44 tripulantes e decretar luto nacional, foi bastante significativa por não mencionar a possibilidade de resgate. Algumas de suas frases foram interpretadas como se essa alternativa fosse algo distante.
"Os 43 heróis e uma heroína que se encontravam no ARA San Juan haviam escolhido uma profissão de risco, dedicaram sua vida a defender-nos e a cuidar de nosso mar com dignidade e orgulho", afirmou. E acrescentou: "Seu sentido de propósito e de sacrifício devem ser um exemplo para os argentinos". Macri terminou reforçando que a prioridade agora é "conhecer toda a verdade sobre o que ocorreu".
Neste domingo (18), Macri assinou um decreto para que os 44 tripulantes sejam homenageados em vários atos.