Bancada feminista cresce e promete oposição a conservadores
Ao mesmo tempo em que o PSL de Jair Bolsonaro explodiu e garantiu a segunda maior bancada da Câmara, as mulheres feministas também obtiveram sucesso nestas eleições, prometendo fortes embates na próxima legislatura.
Levantamento realizado pela reportagem identificou que o número de feministas eleitas para o Congresso chegou a pelo menos 36, nove a mais do que no último pleito, em 2014. Já o número total de mulheres subiu de 56 para 84.
Mais do que isso, diferentemente do que ocorreu em 2014, algumas candidaturas se impulsionaram por meio da constante defesa do feminismo e de suas pautas, como a legalização do aborto e o combate à violência de gênero.
É o caso de jovens com forte presença nas redes sociais, como Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que teve cerca de 250 mil votos, Talíria Petrone (PSOL-RJ), que conquistou mais de 100 mil, e Marília Arraes (PT-PE), com quase 200 mil votos. Todas eram vereadoras e estreiam na Câmara dos Deputados.
A aprovação das propostas, no entanto, não será tarefa fácil. Projetos de lei e medidas provisórias só passam adiante com o voto favorável da maioria dos presentes na sessão. A Câmara tem 513 deputados.
Frentes parlamentares conservadoras, cujos deputados costumam se posicionar contrariamente a pautas feministas, têm ampla base na atual legislatura. Na Câmara, a bancada da bala conta com 270 deputados e evangélica, tem 150.
Ainda não é possível determinar quantos parlamentares cada bancada terá a partir de 2019, mas a ascensão do PSL, que elegeu 52 deputados, indica que o conservadorismo não deve arrefecer.
Sâmia, eleita por São Paulo, promete enfrentamento no seu mandato. “[A eleição de feministas] não significa só que vão ter mulheres debatendo temas feministas, mas que vai haver uma postura de não abaixar a cabeça, de fazer o enfrentamento, o debate”, disse à Folha.
Eleita vereadora de São Paulo em 2016, Sâmia, 29, teve sua votação multiplicada em 20 vezes. Ela credita o fortalecimento das candidaturas feministas aos movimentos de rua em defesa das questões de gênero e à vontade do brasileiro de eleger mulheres que representassem um contraponto a Bolsonaro.
Ela também considera que as redes sociais tiveram papel fundamental na divulgação. “Apareci uma vez na TV por 30 segundos e só. Alguns vídeos de materiais de Facebook e WhatsApp chegaram a 8 milhões de pessoas”, afirma.
As mulheres serão 15% dos 513 deputados a partir de 2019 —é o maior percentual feminino já alcançado na Casa, embora elas sejam mais de 51% da população. Em 2014, a eleição de mulheres atingiu 10%.
“A gente só está aqui por conta da luta feminista. Acredito que é um processo de ocupação desses espaços que historicamente eram masculinos”, avalia Marília, 34, eleita em Pernambuco.
Ela também prevê embates na Câmara. “A ala mais conservadora vai tentar levar o debate para o campo moral. A gente vai fazer o possível para aprovar pautas progressistas, mas vai precisar de mobilização popular e conscientização de outras mulheres”, diz.
Assim como Sâmia, Talíria, 33, também teve sua votação multiplicada em 20 vezes. Em 2016, foi eleita vereadora em Niterói (RJ), com 5.000 votos. Ela diz que a candidatura foi impulsionada pela revolta da sociedade frente ao assassinato de sua amiga, a vereadora Marielle Franco (PSOL), em março deste ano.
“Há uma mobilização de mulheres negras que nunca esteve em silêncio e, depois da execução da Marielle, se mostrou muito forte.”
Para ela, as redes sociais são um lugar “de disputar narrativa, ainda dominado pelo setor do fascismo”. “As fake news, as mensagens falsas de WhatsApp, infelizmente isso produziu uma vitória eleitoral desse setor. Nossa tarefa é ampliar nossa inserção”, diz.
Nas Assembleias, candidaturas feministas também venceram. O Rio, por exemplo, elegeu três mulheres negras que assessoraram Marielle, todas pelo PSOL.
Em São Paulo, Erica Malunguinho (PSOL) tornou-se a primeira deputada transexual do país. Ao seu lado na Assembleia, estará Isa Penna, 27, bissexual, também do PSOL.
Minas elegeu Andreia de Jesus (PSOL), apoiada pelo "Campanha de Mulher", união de ativistas para aumentar a representatividade feminina na política, e pelo coletivo "Muitas", que também defende causas progressistas e feministas.