Bolsonaro tem de aprender a ser poder

Os auxiliares de Jair Bolsonaro estão buscando chifre em cabeça de cavalo e a quadratura do círculo. Nessa trilha, vão acabar encontrando alguma formação estranha. Não será nem chifre nem milagre geométrico, mas confusão. 

O candidato do PSL está virtualmente eleito. Seus homens de confiança ainda não começaram a falar a linguagem de quem vai ser poder. Ao contrário. Eles se batem contra uma espécie de Leviatã comunista que estaria no comando, a ameaçar o Brasil, e isso lhes impõe uma retórica beligerante, reativa e agressiva. E que, levada a efeito, nos empurraria e a si mesmos para o buraco. Hora de parar.

O general Aléssio Ribeiro Souto, que cuida da educação, concede uma entrevista e trata das deficiências do setor. Reclama do ensino ideologizado. Fato. Geralmente em escola privada, com ar-condicionado. Talvez o militar devesse ouvir Nego do Borel: "Se eu não guardo nem dinheiro, o que dirá guardar rancor?"

Na escola pública, quando o aluno encontrar uma cadeira inteira em que se acomodar, o professor eventualmente fará seu proselitismo —no dia em que houver aula, claro! 

Souto demonstra a preocupação de fazer a verdade de 1964 chegar aos professores. Como? Acha ainda que criacionismo e evolucionismo são alternativas a serem oferecidas aos estudantes, sem direcionamento. Errado. Para o primeiro, o STF autoriza aulas de religião, quando houver condições de oferecê-las, a quem quiser.

O homem do agronegócio, do meio ambiente e da reforma agrária (é muita coisa reunida), Nabhan Garcia, da UDR, diz que há espaço para desmatamento na Amazônia. Bem lido o Código Florestal, há mesmo, desde que o dono ainda não tenha utilizado os 20% da terra que podem ser destinados à produção se a propriedade estiver em área de floresta. Então a boa conversa é defender a aplicação do código, um dos marcos legais que permitem ao Brasil, para o seu bem, entrar pela porta da frente no Acordo de Paris, que trata do clima. 

Isso é bom para os negócios, não ruim. O "desmatamento zero" tem como parâmetro o código. É um zero relativo, não absoluto. Mas aí Garcia reclama da fiscalização do Ibama, que seria abusiva. Bem, criem-se mecanismos contra os maus fiscais. O meio ambiente é hoje, no mundo, um critério e um filtro para fazer —ou não fazer— negócios. Produtores de ponta preveem problemas. E os haverá a ser mantida a proposta.
Garcia também diz que o governo não vai conversar com o MST. Considera suas práticas terroristas.

Algumas são mesmo. O país tem uma lei antiterrorismo, a 13.260, que traz uma marotice, no parágrafo 2º do artigo 2º. Se a prática violenta tem "propósitos sociais ou reivindicatórios", aí terrorismo não é. Faz sentido? Não! Atos terroristas costumam ter como justificativa o amor pela humanidade. 

Que se proponha, então, um projeto para mudar a lei. Mas venham cá: o MST é, em si, um movimento que pode ser tachado de terrorista? Todo ele? Será mesmo uma boa ideia juntar o meio ambiente com o agronegócio e cortar a interlocução com os sem-terra? 

Ousaria dizer que os competidores do Brasil aprovariam o pacote porque ele fragiliza a nossa reputação na arena global. E não adianta fingir que os outros não existem. Não parece inteligente.

Gustavo Bebianno, interlocutor do primeiro círculo do bolsonarismo, candidato a ministro da Justiça, diz que não haverá diálogo com a oposição. Ora, o pressuposto do regime democrático é a existência de grupos que se opõem. Nas democracias, que não cortam a cabeça de adversários no escurinho do consulado, o que legitima o governo é a oposição, que também é eleita pelo povo. 

Essa conversa de considerar o adversário inimigo da pátria é coisa de quem quer rachar o país em vez de uni-lo na divergência. E que considera que brasileiros de respeito são apenas aqueles que aderem ao vencedor. Já vi esse troço com sinal trocado. Termina mal.

Os mais otimistas apostam que a vitória será uma boa conselheira de Bolsonaro. Tomara! Saber ganhar é mais importante do que saber perder. Por motivos óbvios. Afinal, quem vence fica com as batatas.

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