Bragantino e São Paulo, para quem não sabe, já decidiram um Brasileiro

Nestes tempos bicudos para o empobrecido futebol brasileiro, recordar é viver.

E o embate dominical pelo modorrento Paulistinha remete a outros carnavais, embora em junho, mais precisamente 9 de junho de 1991.

Também caiu num domingo como devem ser as decisões de campeonatos. E naquele decidia-se o Brasileiro.

E em Bragança Paulista!

O São Paulo havia vencido o jogo de ida, no Morumbi, por 1 a 0, diante de mais de 67 mil torcedores, gol de Mário Tilico.

O empate daria, como deu, o terceiro título ao Tricolor, em jogo travado, 0 a 0, para pouco mais de 12 mil torcedores, no então chamado estádio Marcelo Stéfani, o menor público de uma decisão do Brasileiro, por motivo óbvio: não cabia mais ninguém.

No banco do São Paulo, Mestre Telê Santana, o técnico de duas Copas, em 1982 e 1986.

No do Bragantino, Carlos Alberto Parreira, que viria a ser campeão mundial na campanha do tetra, em 1994.

No ano anterior, em surpreendente decisão do Paulistinha, o Bragantino, dirigido por Vanderlei Luxemburgo, havia sido campeão ao superar o Novorizontino.

Comentei a nova decisão envolvendo o atrevido Bragantino na TV Globo e vi Telê Santana armar seu time para o 0 a 0. Ele também sabia ser pragmático, ao contrário do que diz a lenda.

O Tricolor tinha nada menos que sete jogadores que estariam no elenco do tetracampeonato nos EUA: Zetti, Cafu, que jogou a final contra a Itália, Ronaldão, Leonardo, que era titular na Copa, mas foi suspenso, Raí, o capitão da seleção brasileira até perder o lugar, e Muller. Além de Ricardo Rocha, que era titular, mas se machucou na estreia, embora tenha permanecido com o grupo.

O Bragantino também tinha um volante que jogou a final no Rose Bowl, titular absoluto, o competente Mauro Silva.

Isso mesmo, faço a conta fácil para vocês, rara leitora e raro leitor: oito jogadores que disputaram aquela final estadual foram campeões mundiais em 1994.

Verdade que Ricardo Rocha estava no Vasco, Ronaldão no Japão, Mauro Silva no La Coruña e Raí no PSG. Mas Zetti, Cafu, Leonardo e Muller permaneciam no São Paulo.

Ao ver a escalação dos dois times para o encontro deste domingo (3) de Carnaval, você acredita que algum dos 22 jogadores estará na Copa de 2022?

PROVOCAÇÃO ACEITA

Não se imaginou aqui que mesmo com os reservas o Racing eliminaria o Corinthians na Copa Sul-Americana?

Sim. E estava certo imaginar.

Só que tinha um Cássio no caminho da decisão por pênaltis e o Alvinegro seguiu em frente, depois de exigir, a bem da verdade, duas extraordinárias defesas do goleiro rival e marcar um golaço com Vagner Love.

Então o corintiano tem motivo para estar feliz?

Claro que tem.

E para estar satisfeito?

Não, não tem.

A menos que se satisfaça apenas e tão somente com resultados.

Porque mesmo na casa do adversário, mas com o El Cilindro à meia-boca, contra um time mais preocupado com o Campeonato Argentino e, por isso, com oito reservas, a prudência corintiana, a cautela, para não dizer covardia, não honram a história de nenhum grande clube brasileiro.

Soa contraditório com a constatação sobre o pragmatismo de Telê Santana?

Fábio Carille não tem o mesmo direito?

Pois é claro que tem. Excepcionalmente.

Como regra, não.

E convenhamos que apesar de o Corinthians estar obtendo os resultados em jogos grandes nesta temporada, contra Palmeiras, São Paulo e Racing, o futebol não alegra.

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