Chefe da Eletrobras diz que, se Bolsonaro quiser, 'tem interesse em continuar'
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, disse nesta terça (13) que vem mantendo relacionamento "produtivo" com a equipe de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e que tem interesse em permanecer no cargo caso o projeto de reestruturação da companhia esteja nos planos do novo governo.
"Chegamos aqui com a missão de fazer a reestruturação da companhia. Em havendo o interesse em continuar esse trabalho, este que vos fala tem interesse em continuar esse trabalho", afirmou ele, em teleconferência com analistas para detalhar o balanço do terceiro trimestre, no qual a empresa teve prejuízo de R$ 1,6 bilhão.
Ele disse que tem mantido contato frequente com um dos coordenadores da área energética da equipe de transição, o economista Luciano de Castro. "O relacionamento com a transição tem sido positivo", disse Ferreira Junior, frisando que as medidas tomadas pela gestão atual têm recebido aprovação.
Na segunda (12), Bolsonaro confirmou a primeira nomeação de estatal da área econômica: o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy assumirá o BNDES por indicação do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Há rumores de manutenção do presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, mas ainda não confirmados.
Ferreira Junior afirmou aos analistas que ainda não recebeu convite. "Formalmente, ainda não se sabe quem vai ser o ministro [de Minas e Energia] e entendo que [após ser nomeado] o ministro terá a prerrogativa de formalizar convite ou não", comentou o presidente da Eletrobras.
Em sua fala final na teleconferência, se disse animado com as perspectivas da empresa após trabalho de enxugamento, reestruturação de negócios e venda de ativos proposto por sua gestão, iniciada em 2016. "A gente plantou e já estamos começando a colher os frutos."
Na apresentação, Ferreira Junior destacou que o prejuízo do terceiro trimestre foi provocado por fatores não recorrentes, como aumento nas provisões para possíveis perdas em ações judiciais. Desconsiderando esses fatores, disse, a empresa teria lucro de R$ 497 milhões, 2% a menos do que no mesmo período do ano anterior.
Em 2018, a Eletrobras acumula lucro de R$ 1,2 bilhão, 53% a menos do que no mesmo período do ano anterior.
O principal impacto nas provisões foi a revisão de valores de ações judiciais pedindo ressarcimento sobre os empréstimos compulsórios, que eram cobrados na conta de luz até os anos 1990. Foram R$ 1,5 bilhão em provisões no trimestre.
Ferreira Junior explicou que a revisão foi iniciada em 2017, com a contratação de uma consultoria para rever cada um das cerca de 5.000 ações contra a Eletrobras. Após o trabalho, o passivo total dessa conta foi elevado a R$ 18,2 bilhões.
Segundo o presidente da Eletrobras, além de se defender na Justiça, a empresa estuda com uma consultoria uma alternativa para tentar reduzir o passivo, que deve ser anunciada no quarto trimestre de 2018. Ele não quis, porém, dar detalhes.
REVERSÕES
A Eletrobras deve lançar no primeiro semestre de 2019 edital para concluir a usina nuclear Angra 3, paralisada desde 2015. Com a retomada, a Eletrobras pode reverter provisões de até R$ 11,3 bilhões feitas nos últimos anos para perdas com o projeto.
Angra 3 teve sua tarifa ampliada de R$ 240 para R$ 480 por megawatt-hora (MWh) e prazo para início das operações postergado para janeiro de 2026. Agora, o governo busca parceiros com interesse em bancar parte do projeto.
A venda das distribuidoras que a estatal herdou do processo de privatização nos anos 1990 também terá impacto positivo no balanço. Já no quarto trimestre, a Eletrobras prevê reverter R$ 2,9 bilhões em patrimônio líquido negativo das quatro companhias já vendidas - que atendem Acre, Rondônia, Roraima e Piauí.
Outras duas, que operam no Amazonas e em Alagoas, ainda não foram vendidas - a primeira tem leilão marcado para o próximo dia 27 e a segunda, é alvo de disputa judicial entre os governos federal e alagoano. Caso sejam vendidas, a reversão de provisões com distribuidoras sobe para R$ 8,6 bilhões.
ENXUGAMENTO
O presidente da Eletrobras disse que a adesão ao último plano de demissão lançado pela companhia está abaixo do esperado e que novo programa pode ser lançado. Até esta terça, três dias antes do prazo final, apenas 200 pessoas aderiram —a meta é de 2.281.
Segundo ele, com a criação da área de serviços compartilhados e unificação dos sistemas, a companhia terá "excedentes importantes" de pessoal em todas as subsidiárias.
A Eletrobras já realizou um primeiro programa de demissões, com o desligamento de 2.056 empregados. Incluindo a transferência das distribuidoras ao setor privado, a companhia já reduziu em 32%, ou 8.420 pessoas, seu quadro de pessoal, com redução de R$ 2,1 bilhões na folha de pagamentos.
A meta é cortar mais cerca de 5.200 postos de trabalho, chegando ao fim do programa de reestruturação com 12.359 empregados.