Chegou a hora de dizer tchau
A economia encolheu, as crianças tailandesas foram salvas da caverna, Lula foi solto e preso, sem nem sequer sair da cadeia. Trump fez inúmeras cretinices envolvendo famílias de imigrantes, e o Japão sofreu com a tragédia das enchentes.
Malala Yousafzai, ativista da educação e sobrevivente da intolerância misógina, veio falar no Brasil. Notícias diversas pontuando o dia a dia mundial com sua habitual brutalidade e alguma dose de resistência.
Mas o fato mais bizarro talvez seja que, diante da incorrigível sina humana de fazer coisas terríveis e sem sentido, tivemos 32 dias de trocas de outra ordem. Canalizamos nossos ódios e rivalidades, nossas ambições de glória e reconhecimento dentro do estádio. Temos como ápice desse fato os croatas chegando às finais em solo russo, país que apoiou a Sérvia contra eles na guerra dos Bálcãs. Mas no retângulo verde, a arma é a técnica, a estratégia, o talento e o trabalho grupal. Ainda que o resultado seja, por vezes, imponderável.
E para além do campo, uma aglomeração de pessoas de todas as raças, línguas e costumes compartilhou o espaço público em busca do encontro com a diferença, com a surpresa, com o estrangeiro. Boçais de plantão, como bem discutido nesse jornal ao longo das semanas, aproveitaram a confusão de línguas para dar vazão a sua violência covarde e costumeira. Claro, porque viajar e encontrar pessoas não garante transformação. A experiência é um acontecimento interno, não basta nem se locomover, nem se aproximar. Alguns, bem mais interessantes e interessados, deram um passinho para frente e aprenderam algo nesses encontros. Deixando-se encantar pela troca, voltaram diferentes.
Muita gente trabalhou incansavelmente e com entusiasmo pela realização e transmissão do evento. Outros pararam de trabalhar para torcer com mais entusiasmo ainda. Torcer no futebol envolve 90 minutos da perfeita mistura de sofrimento com alegria, seguidos de 30 minutos de mais sofrimento do que alegria, para descambar em puro sofrimento nos pênaltis (e, quem sabe, aquela explosão de incredulidade ao final).
O futebol pode ter a cara do mundo, indo do mais deplorável ao mais sublime. Acabada a festa, resta nos posicionarmos quanto aos próximos quatro anos. Afinal, é o destino de toda a nação que está em jogo. E do futebol também.