Final contrapõe planejamento a geração talentosa
Das 20 Copas do Mundo de 1930 a 2014, 14 foram vencidas por seleções dirigidas por técnicos que trabalhavam havia mais de três anos. A França se encaixa nesse perfil. A Croácia, não.
Zlatko Dalic chega à decisão em seu 14º jogo como treinador, mais apenas do que Rinus Michels. Na finalíssima de 1974, Michels estava no banco pela 9ª vez.
O trabalho francês começou 52 dias depois da eliminação da Euro-2012, para a Espanha, que seria campeã. Da estreia de Deschamps, 0 x 0 contra o Uruguai, restam Lloris e Giroud. Só os dois serão titulares neste domingo (15), no estádio Lujniki.
Embora a Itália de 2006 e a Espanha de 2010 contribuam para a estatística dos sete campeões com menos de três anos de trabalho, Marcello Lippi e Vicente Del Bosque foram campeões dando sequência a uma formação que já existia.
Del Bosque manteve o tiki-taka de Luis Aragonés, campeão da Euro-2008. Ganhou a Copa na África do Sul.
Empírico é o Brasil. Das cinco conquistas, quatro foram com treinadores com menos de três anos no cargo: Feola, Aymoré, Zagallo e Felipão. Só Parreira venceu como se faz mundo afora, com planejamento.
Só que o futebol atual é cada vez mais detalhista, estudado, treinado, cada dia precisa mais de estratégias de ataque, não só de defesa, para abrir espaço nos sistemas táticos que dividem linhas de defesa e meio de campo por 9,15 metros.
A medida não é exata, mas é a distância da marca do pênalti à meia-lua. Muitas vezes, a impressão é de que as linhas se espremem nesse minifúndio.
O jogo deste domingo não contrapõe apenas a miscigenação francesa ao nacionalismo croata. A França era miscigenada em 2010, eliminada na fase de grupos com seis titulares negros e cinco brancos. A Croácia era nacionalista em 2014, quando fechou em 19º lugar e só venceu Camarões, a pior das 32 seleções.
Miscigenação e nacionalismo são qualidades, mas não explicam tudo. Nada explica. Mas a final contrapõe modelos diferentes. Um time que planejou sua reconstrução, não mudou de filosofia após perder a Euro-2016 em casa e se renovou com uma geração campeã mundial sub-20, em 2013 --Pogba, Umtiti, Areola e Thauvin estavam na conquista.
A Croácia ama futebol, desde quando Boban e Suker defendiam a Iugoslávia. Mas seu sucesso será o de uma geração de talento. O futebol mudou muito, mas sempre vai permitir o acaso. Metáfora da vida.