Chicago confirma o grande ano das Majors

O mundo das maratonas também tem o seu Grand Slam. Como no tênis (Abertos da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e Nova York), são os grandes eventos que atraem a elite do esporte. No caso das maratonas, são as Majors, seis provas distribuídas ao longo do ano (Tóquio, Boston, Londres, Berlim, Chicago e Nova York).

Há uma premiação para os corredores que mais pontuam no conjunto das provas mas, ao contrario do tênis, não há como estar em todas. A maratona é cruel, desgastante. Na elite, a maioria dos corredores escolhe duas maratonas ao longo da temporada e tenta dar o melhor nas duas. Ao contrário do tênis também, nós, amadores, também podemos participar da festa. Até gostaria de bater uma bolinha no saibro de Roland Garros, só que eu precisaria nascer de novo para isso. No tênis, o palco é para os artistas profissionais. Nas maratonas, podemos dividir o asfalto com os caras. A única diferença é que eles largam um pouco antes e chegam muito antes.

As principais maratonas também são transmitidas nos canais esportivos por assinatura. Aí tem uma diferença, porém. Os jogos de tênis são palpitantes, a cada poucos segundos uma bola surpreendente pode fazer a gente soltar um palavrão da poltrona. Maratonas são, preciso admitir, monótonas. Demoram. Mais de duas horas, um-dois, um-dois, um passo após o outro. Em grande parte da prova, a turma corre em pelotões quase como se fosse um treino. Poucas ultrapassagens, poucas “fugas” de atletas tentando se desgarrar do pelotão.

Só que, de vez em quando, as maratonas nos reservam grandes histórias. Como em 2018, que ano espetacular. Em Berlim, tivemos uma inacreditável quebra de recorde mundial. Em Boston, um japonês amador venceu a prova. No domingo, 7 de outubro, tivemos uma enorme Maratona de Chicago disputada metro a metro até o final com a vitória do inglês Mo Farah.

Antes de mais nada, é necessário uma breve explicação sobre Mo Farah. Nascido na Somália, o atleta é bicampeão olímpico nos 5000 e nos 10000 metros. Encantou o mundo com arrancadas nas últimas voltas nos Jogos de Londres e Rio de Janeiro. Recebeu da Rainha da Inglaterra o título de “Sir”, resolveu se tornar gigante também nas maratonas. Só que o sucesso das pistas não veio tão rápido nas ruas como se esperava. Estreou em Londres em 2014 com um oitavo lugar. Esse ano, tentou de novo em Londres e ficou em terceiro. Pouco para um “Sir” das pistas. Pois em Chicago 2018 ele conseguiu. E com requintes de bondade. Suas 2h05min11 significaram o recorde europeu e o coroamento na maratona de alguém que já era gênio nos 5000 e 10000 metros.

Boston em abril já tinha sido uma prova especialmente emocionante. Uma frente fria enrijeceu atletas profissionais e amadores. Congelou performances em geral. Só que o amador Yuki Kawauchi, funcionário de uma escola no Japão, aproveitou o ritmo mais lento da prova e resistiu no pelotão da frente. Venceu em 2h15min58 surpreendendo a todos.

Em setembro, mais uma prova incrível. Não pela disputa em si, afinal o queniano Eliud Kipchoge liderou a Maratona de Berlim de ponta a ponta sem ser ameaçado. Seu duelo, porém, foi mesmo contra a história. Campeão olímpico na Maratona do Rio de Janeiro, o queniano tentava quebrar o recorde mundial da distância. Aos 33 anos, sabia que a ampulheta da performance descarregava os últimos grãos de areia. Kipchoge pulverizou o recorde anterior com suas 2h01min39 e fez até quem não gosta de corrida soltar palavrões da poltrona. Ainda falta uma Major para encerrar a temporada de 2018. O que Nova York pode reservar em 4 de novembro? Quem será o personagem principal? Qual grande história poderemos ter? Sugiro ficar de olho. Nunca se sabe.

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