Onda Bolsonaro elegeu muito aliado nanico, menos o homem do aerotrem

A campanha deste ano opõe um candidato que pede conselhos ao padrinho numa cela da Polícia Federal contra o rival que passou boa parte da reta final no hospital.

Ocorre que Jair Bolsonaro (PSL) criou uma onda que virou de cabeça para baixo a política nacional elegendo gente que ninguém nunca ouviu falar.

Levy Fidelix (PRTB) tinha todas as condições de tirar proveito. Ele é presidente do único partido que fechou com o capitão e indicou o vice. Mas os 32.113 votos obtidos não renderam a desejada vaga de deputado federal. Foi a 13ª derrota da carreira política. O cartel não tem uma vitória sequer.

Fidelix ficou conhecido como o homem do aerotrem. A proposta era repetida por ele fosse na campanha para prefeito, governador e presidente. A hamburgueria hipster que fica ao lado da sede do PRTB no bairro Moema, em São Paulo, ajuda a entender as derrotas de Fidelix que vêm desde 1984. Ele pediu votos a todos os funcionários quando eles visitavam a sala do político que encomendava comida. 

Somente um deles digitou o número do candidato no domingo. Era uma rapaz que deslegitimava o uniforme de gângster da hamburgueria usando um chapéu verde com penugem vermelha e a palavra Oktoberfest escrita.

Ele votou em Fidelix porque achava engraçado um político ter como prato preferido um lanche chamado Al Capone. Livia Fidelix, a filha do presidente do PRTB, era mais popular na hamburgueria, mas não estará na Assembleia Legislativa no próximo ano. Nem assim os garçons acreditam que a família ficará de mãos abanando.

"A gente sabe como é política. Ele tá fechado com o Bolsonaro e alguma coisinha deve pingar para eles", falou um dos garçons que não quis dizer o nome para não criar desconforto no futuro.

Apuração com churrasco

Os primeiros números da apuração animaram as pessoas que estavam na sede do PRTB. Eram outros candidatos, familiares e funcionários do partido.

Os bons números de candidatos da chapa PSL/PRTB Brasil afora obrigaram o motorista a ir ao mercado. Ele voltou com dois sacos de carvão e logo as pessoas apareciam na área externa para fumar com um espetinho na mão e uma lata de Skol.

O volume da televisão estava tão alto que a voz de Heraldo Pereira era ouvida da calçada. O jornalista era interrompido por risadas estridentes e gritos. Mas Fidelix não quis saber de imprensa. Avisou ainda no final da tarde que não falaria.

As pessoas que saíam e conversavam com a imprensa eram advertidas por uma mulher e chegavam a pedir desculpas a ela por ter parado para conversar. Logo, a mulher saiu da sede do partido com um celular e não disfarçou na hora de tirar foto da imprensa.

Os visitantes foram contados nos dedos —oitos pessoas que chegaram para partilhar dos espetinhos e as latas de Skol. Todas desembarcaram de SUVs. Quando circulou a notícia de que a Guarda Municipal do Rio de Janeiro estava tendo trabalho para controlar o trânsito por causa da aglomeração de pessoas chegando ao local onde estava Bolsonaro, houve agitação.

Mesmo proibidos de falar, todos que colaram na garagem disseram que o clima no interior da sede do PRTB era de otimismo. Mas quando ficou claro que não haveria vaga para deputado federal nem estadual para a família Fidelix, as pessoas começaram a ir embora.

Livia cumprimentou visitas ouvindo que estava bonita para a cerimônia de posse. Menos de três horas depois, lamentava que as pessoas não ficariam para o café.

Sem cargo, mas com influência

Levy Fidelix nunca esteve em posição tão boa para ter influência no cenário nacional. O general Mourão, vice de Bolsonaro, é do partido criado e até hoje presidido pelo homem do aerotrem.

Dizer que Levy é dono do PRTB não é exagero. Ele fundou e foi o presidente desde a fundação em dezembro de 1994. Agora, todo domínio da sigla estará aliado ao homem que pode ser o segundo na linha de sucessão.

Os garçons da hamburgueria dizem que nesta campanha já foi notada diferença. O dinheiro do fundo partidário fez aparecer um Subaru –SUV, claro, porque este parece ser o padrão de carro do PRTB.

Prova de que o general Mourão está fechado com o líder do partido é que na última semana de campanha, ele falou que o próximo presidente da Câmara do Deputados deveria ser Levy. As urnas negaram mais uma vez o cargo público. Mas ele pode vir pela caneta do presidente.

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