Cientistas vão revelar a primeira imagem de um buraco negro supermassivo
Os buracos negros continuam a constituir um dos maiores desafios e mistérios para a física e por isso mesmo são objeto de muitos estudos e investigação científica, mas o anúncio da equipa de cientistas do Event Horizon Telescope, marcado para hoje, pode ajudar a desvendar alguns dos segredos.
Impossíveis de ver a olho nú, uma vez que são tão densos que nenhuma luz pode escapar, os buracos negros têm sido representados visualmente em muitas ilustrações artísticas mostrando habitualmente um buraco preto, rodeado de uma nuvem de gás brilhante como a de muitas imagens que nos habituámo a ver também em filmes.
A imagem que vai ser revelada hoje resulta de uma colaboração que envolve oito telescópios e uma equipa alargada de cientistas de vários projetos de diferentes países, reunidos Event Horizon Telescope que recorre à tecnologia para combinar o poder dos vários equipamentos e criar um telescópio virtual tão grande como a própria Terra, e que é poderoso o suficiente para capturar dados suficientes do buraco negro supermassivo no centro de nossa galáxia. Será o mais perto que vamos conseguir chegar de um buraco negro sem ser engolidos pela sua massiva atração gravitacional.
São 13 anos de investigação, e dois de colaboração entre as várias equipas e a comunidade científica mostra o seu entusiasmo pelo acontecimento.
O anúncio acontece às 15 horas CET, o que corresponde às 14 horas em Portugal Continental, e pode ser acompanhado em direto em vários sites de streaming.
O que vamos ver nesta fotografia do buraco negro?
Ainda não é claro o resultado obtido, e se será assim tão esclarecedor como se pensa. Mas mais do que a "fotografia" em si o que os cientistas pretendem é perceber a verdadeira natureza dos buracos negros e como eles são moldados. Também poderemos descobrir mais sobre como alguns buracos negros se transformam para representar milhões a milhares de milhões de vezes a massa do nosso Sol.
O Event Horizon Telescope observou dois buracos negros durante uma semana em abril de 2017: Sagitário A *, o buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea, e M87, que se acredita estar no centro de uma galáxia próxima chamada Virgem.
Ambos os objetos são incrivelmente densos e acredita-se que Sagitário A *, ou SgrA *, seja 4 milhões de vezes mais massivo que nosso Sol e 30 vezes maior. Mas por estar tão distante - uma distância de cerca de 26.000 anos-luz - o buraco negro aparece nos telescópicos na Terra como se fosse do tamanho de uma pequena bola na superfície da Lua.
Para ultrapassar esta limitação a equipa da Event Horizon utilizou telescópios no Chile, Havai, Arizona, Polo Sul e em diversas outras localizações de toddo mundo. Cada telescópio mediu a radiação proveniente das grandes áreas de gás e poeira que se acredita cercarem os buracos negros.
Essas nuvens de gás aquecem até milhares de milhões de graus e, como o material é tão quente, emitem muita radiação, que pode ser observada da Terra. Todos estes dados foram então combinados usando supercomputador para criar uma imagem que parecia ter sido obtida por um único telescópio gigante.
É precisamente o volume de dados que faz com que a investigação tenha durado tanto tempo, e que obrigue a esta escala do projeto. Os telescópios captam uma quantidade enorme de informação em cada noite de observação - cerca de um petabyte, ou um milhão de gigabytes e por isso foi necessário que a tecnologia do disco rígido evoluísse para que pudesse armazenar e gerir o volume de dados reunidos nesta investigação.
O resultado pode mudar nossa compreensão dos buracos negros, que os cientistas acreditam que deixam uma marca no espaço-tempo, distorcendo a gravidade e criando efeitos estranhos à sua volta