Com 'cheiro de gol' e apoio de técnico português, Richarlison conquista Tite
O início promissor do atacante Richarlison, 21, na Europa e na seleção brasileira tem a participação direta de um treinador português.
Marco Silva, 41, atualmente comandante do Everton (ING), foi o responsável por convencer o atacante a desistir de uma negociação praticamente fechada com o tradicional Ajax (HOL) e acertar com o modesto Watford (ING), em julho de 2017.
Foi ele também que pediu a contratação do jogador, nascido em Nova Venécia, no interior do Espírito Santo, para o Everton, seu atual clube, no início desta temporada.
A transferência, concretizada em R$ 195 milhões, foi criticada pela imprensa inglesa pelo valor, considerado alto, mas o brasileiro vem dando respostas dentro de campo.
O apoio e as cobranças de Marco Silva a Richarlison não ficaram restritos aos gramados. Diversas vezes, o técnico português já o chamou em sua sala para dar explicações sobre a formação tática do time.
Ele também exigiu que o brasileiro aprendesse a língua inglesa, assim como fez com Bernard, ex-Atlético-MG, o colombiano Yerry Mina, ex-Palmeiras, e outros reforços contratados pela equipe na última janela de transferências.
O atacante segue os conselhos. Faz aula três vezes por semana, uma oferecida pelo clube e outras duas com um professor particular.
“Quero aprender rapidamente, porque será importante para a sequência da minha carreira”, diz o centroavante, que considera o frio do inverno inglês outra dificuldade vivida nesse período.
Ele também respondeu à confiança do treinador com boas atuações. No Watford, tornou-se a sensação do início do último Campeonato Inglês ao marcar cinco gols em 12 jogos e colocar a equipe na parte de cima da tabela.
O time, porém, perdeu o fôlego, viu o comandante ser demitido e terminou a competição em 14º lugar. O atacante também caiu de rendimento e não balançou mais as redes.
Richarlison só desencantou oito meses depois, justamente quando voltou a trabalhar com Marco Silva, agora no Everton. Na atual temporada, iniciada em agosto, tem quatro gols em seis partidas.
“O Marco Silva me ajudou muito. É um treinador muito organizado, que exige muito dos jogadores. Está sempre no campo de treinos mostrando como devemos fazer. Quando preciso de alguma explicação, vou ao escritório dele, conversamos e isso me ajuda em campo. Vejo o Marco como um pai. Ele foi ao Brasil para me trazer para a Inglaterra, e realizei o sonho de jogar no Campeonato Inglês”, afirma Richarlison.
Ele cita o goleiro brasileiro Gomes, 37, com quem jogou junto no Watford, como outra pessoa importante na sua adaptação ao futebol inglês.
A adaptação à Inglaterra ainda teve a ajuda do empresário Renato Velasco e da mulher dele, Giovanna. É ela quem cuida do prato preferido do atacante: arroz e feijão. Richarlison também levou um amigo para a Inglaterra.
O desempenho inicial do atacante no Everton chamou a atenção da comissão técnica da seleção brasileira, que já o observava desde os tempos de Watford. Assim, após Pedro, atacante do Fluminense, ter sido cortado por lesão, ele foi convocado para os amistosos contra Estados Unidos e El Salvador, realizados em setembro.
Richarlison deixou Tite entusiasmado durante os cinco treinos feitos nos Estados Unidos e os 69 minutos em que esteve em campo nos dois jogos. Ele marcou dois gols sobre El Salvador, na vitória por 5 a 0, e virou concorrente de peso para Roberto Firmino, 27, e Gabriel Jesus, 21.
O jogador do Everton e os dois remanescentes da Copa do Mundo disputam uma vaga no ataque nos amistosos contra Arábia Saudita, marcado para sexta (12), e diante da Argentina, quatro dias depois. Os jogos serão em Riad e Jeddah, respectivamente.
“Richarlison não olha para o lado, olha para o gol. É vertical, agressivo e cheira a gol”, diz o treinador da seleção sobre o jovem atacante.
“Esperava a convocação e fiquei em frente da televisão, mas não fui chamado. Infelizmente, teve a contusão do Pedro e ganhei minha chance. Tive a oportunidade e consegui aproveitar. Eu sempre busco o gol, e o Tite está acompanhando nosso trabalho”, afirma.
Richarlison se coloca à disposição para jogar em três posições do setor ofensivo: aberto por qualquer um dos lados e como centroavante. Ele admite, no entanto, a necessidade de evoluir no passe e no cabeceio.
“Pela minha altura [1,79 m], tenho poucos gols de cabeça. Hoje, me considero um falso nove, mas posso jogar nas três posições do ataque. O Firmino joga mais solto e buscando os atacantes. Jesus é mais agudo. Meu estilo é semelhante”.
Richarlison começou a carreira na equipe sub-20 do Real Noroeste (ES), mas ficou pouco tempo. Ele se destacou pelo América-MG em 2015, aos 18 anos, quando a equipe mineira conquistou o acesso para a Série A do Brasileiro. As atuações chamaram a atenção do Fluminense, que o contratou para a temporada seguinte.
Assim como aconteceu com o Everton, a diretoria do clube carioca foi questionada pelo investimento de R$ 10 milhões na contratação de um jovem que estava na segunda divisão nacional.
“Tudo aconteceu muito rápido na minha carreira. Sou uma pessoa tranquila até quando recebo críticas e elogios. Sei absolver. No Fluminense, me machuquei logo no primeiro ano, e os questionamentos começaram, mas dei a volta por cima. Agora, espero que a história se repita. Estou bem adaptado”, diz o atacante, que vê o futebol inglês mais intenso do que o praticado no Brasil.
“O nível aqui [Inglaterra] é melhor, e a exigência física também. Se o jogador não estiver bem fisicamente, não consegue jogar”.
QUEM É RICHARLISON
Natural de Nova Venécia, no Espírito Santo, Richarlison, 21, começou a carreira nas categorias de base do Real Noroeste, clube do estado.
Ele ficou pouco tempo na equipe, até ser aprovado no América-MG, onde se destacou na campanha do acesso do time para a Série A do Brasileiro.
Na sequência, defendeu o Fluminense, Watford (ING) e está no Everton (ING) desde o início desta temporada
TITE CHAMA LUCAS MOURA PARA A VAGA DE EVERTON, CORTADO
O atacante Lucas Moura, 26, do Tottenham, foi convocado pelo técnico Tite para os amistosos da seleção contra Arábia Saudita e Argentina, marcados para os dias 12 e 16 de outubro, respectivamente.
Ele foi chamado para o lugar de Everton, do Grêmio, cortado após sofrer uma lesão na coxa direita durante jogo do Campeonato Brasileiro.
Lucas não era chamado para a seleção desde junho de 2016, quando disputou a Copa América Centenário sob o comando de Dunga.