Com discurso mastigado, 'Jesus' promete seduzir a plateia

Não é todo dia que a gente enxerga o rosto de Maurício Mattar em Joaquim, pai da Virgem Maria, igualmente surpreendente na voz de uma quase menina. Mas até que o vozeirão de Paulo César Pereio vem bem a calhar para um narrador que anuncia profecias bíblicas. Em meio a trilha sonora incidental que remete aos grandes épicos, a Record priorizou o discurso reto, sem rodeios, quase mastigado, para dar a largada em sua nova novela, “Jesus”.

E quanto mais exposição de maniqueísmo, melhor. . Embora autores e atores defendam que não ser só bom ou só mau humaniza os personagens, a maioria dos folhetins de grande audiência endossa que o público gosta mesmo é de saber o que esperar de cada um.

Dito isso, convém notar como o Demônio, praticamente um Darth Vader bíblico, cercou o anjo Gabriel por todos os lados, em um joguete de cena bem feitinho na edição final. O diabo surgiu lépido e ligeiro para aguçar temor e torcida no telespectador, estabelecendo, de cara, uma relação passional com a audiência.

O anúncio de que Maria dará à luz um menino que se chamará Jesus foi bem mais palatável que o beabá sobre o pecado original, visto pouco antes, com Adão e Eva praticamente saídos de um comercial de xampu, como sugere sempre a ideia clássica de paraíso. A serpente e a maçã, de um preto e de um vermelho reluzentes, respectivamente, reforçam a ideia de que a coloração da cena foi toda trabalhada na artificialidade dos recursos de pós-produção.

Na contramão do aspecto fake emprestado a Adão e Eva, a opção por abrir a história de trás para frente, com a crucificação, deu um breve indício do quanto esse personagem há de sofrer, e funcionou bem. Por mais que todo mundo saiba como o enredo termina, é bom testemunhar a grandeza dessa dor, filmada em locação especialmente pronta para tanto, no Marrocos. Com iluminação e textura competentes, as imagens tornaram críveis os últimos momentos do protagonista, dando ainda uma sensação muito concreta do peso da cruz que ele carrega e que depois ostentará seu corpo.

Narrações de trechos da profecia que se aproxima, com apoio de crianças que se põem a ouvir sobre esse futuro breve, serviram como apoio logístico para levar compreensão plena ao telespectador.

Audiência

Com uma hora de duração, sem intervalo comercial, o primeiro capítulo só deu um respiro para exibir a abertura. Entre 20h45 e 21h45, os dados prévios de audiência mensurados pela Kantar Ibope Media registraram 12,7 pontos na Grande São Paulo, ante 31,1 pontos da Globo e 14,7 pontos do SBT. Cada ponto, na região, corresponde a 71,85 mil lares.

Não foi uma estreia ruim, mas “As Aventuras de Poliana”, do canal de Silvio Santos, manteve-se na vice-liderança na região.

Já no Rio, onde cada ponto equivale a 45,25 mil domicílios, a Record ficou em segundo lugar com “Jesus”, alcançando 13,7 pontos, ante 9,4 do SBT e 34,4 da Globo. Em Brasília, onde 1 ponto corresponde a 9,59 mil lares, deu-se o mesmo, com 9,9 para a Record, 9,1 para o SBT e 33,9 da Globo.

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