Sombra de cartolas por duas décadas, assessor é demitido da CBF
Assessor especial da presidência da CBF, Alexandre Silva da Silveira foi demitido nesta segunda (23).
Funcionário há mais de duas décadas da entidade, Silveira era homem de confiança dos últimos três presidentes da entidade, Marco Polo Del Nero, José Maria Marin e Ricardo Teixeira. Ele viajava o mundo com os cartolas e era responsável por acompanhá-los em todas as agendas.
A Folha apurou que a demissão aconteceu após um desentendimento do funcionário com integrantes da cúpula da entidade, comandada atualmente por Antonio Carlos Nunes, o coronel Nunes. A CBF não comentou a decisão.
O assessor começou a perder o prestígio após o banimento de Del Nero pela Fifa em abril. O cartola foi considerado culpado pela Câmara de Arbitragem do Comitê de Ética da Fifa por suborno e corrupção.
Na confederação, era uma espécie de assessor especial do presidente. Em viagens e eventos públicos carregava a pasta do mandatário e resolvia problemas burocráticos.
Ele era o encarregado de fazer ligações e colocar os presidentes da CBF em contato com dirigentes da cúpula da Fifa e políticos em questão de minutos.
Desde a saída de Del Nero, Silveira foi deixado de lado. Ele ficou fora da delegação que embarcou para o Mundial da Rússia.
A cúpula da CBF acreditava que o assessor poderia ser detido no exterior por causa de sua proximidade com os últimos três presidentes da CBF.
Aliados dos ex-cartolas temem que o agora ex-funcionário possa revelar informações sobre negociações e rotinas na CBF. Teixera, Marin e Del Nero foram denunciados pelo FBI por receberem propina na venda de direitos de torneios no Brasil e no exterior.
Marin está preso desde 2015, quando o FBI fez uma operação na Suíça. Teixeira e Del Nero nunca mais deixaram o país temendo ter o mesmo destino de Marin.
A entidade agora é comandada por coronel Nunes, substituto de Del Nero. Ele ficará no poder até abril, quando Rogério Caboclo, que venceu a última eleição, assumirá o cargo.
Silveira ajudou Del Nero a deixar a Suíça às pressas durante a operação do FBI.
O assessor começou na CBF contratado por Teixeira nos anos 1990. Ele vendia queijo para funcionários da entidade. Teixeira, que tinha o hábito de beber uísque depois do expediente, acabou virando freguês de Silveira.
Em seguida, foi chamado para fazer a manutenção dos telefones da entidade até ser contratado para cuidar da agenda do cartola.
Nos últimos meses da era Teixeira, os dois romperam a parceria, mas Silveira conseguiu manter o seu poder com a dupla Marin e Del Nero.
Silveira sempre foi reservado e de fidelidade canina aos cartolas. Em 2013, ele mandou o motorista de Marin “passar por cima” da equipe da ESPN Brasil quando tentavam entrevistar o dirigente em Genebra, na Suíça.
O prestígio de Silveira era tanto que ele chegou a ganhar premiação pela conquista das últimas duas Copas (1994 e 2002). Ele recebeu R$ 75 mil brutos em 2002, cerca de R$ 220 mil atualmente.
Na ocasião, a CBF justificou o pagamento do “bicho” alegando que o assessor esteve com Teixeira “em atividades políticas”.
Mesmo após a operação do FBI em 2015, Silveira viajou dezenas de vezes para o exterior. Ele só ficou fora da Copa da Rússia. No seu lugar, a CBF colocou Gilberto Barbosa, conhecido como Giba, acompanhando Antonio Carlos Nunes, substituto de Del Nero no comando da entidade.
No mês passado, Giba quebrou uma taça na cabeça de um torcedor brasileiro durante uma discussão num restaurante em São Petersburgo. Ele foi obrigado a voltar ao Brasil às pressas para evitar problemas com a Justiça local.