Conduta de filhos nas redes sociais não é problema só para Bolsonaro; veja dicas

O vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, é uma espécie de pitbull nas redes sociais. Seus posts provocam crises constantes no Palácio do Planalto, já ajudaram a derrubar um ministro e atualmente têm como alvo principal o vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão.

Não sabe ao certo é quanto dessa metralhadora virtual de Carlos tem ou não o aval do pai, Jair Bolsonaro, mas a verdade é que não é só o presidente da República que precisa se preocupar com o que os filhos andam fazendo nas redes sociais.

Excessos em geral nas redes, como exposição da privacidade, ciberbullying e falta de interesse pelo mundo real, deixam pais aflitos. Ensinar desde cedo os limites da conduta virtual tem sido um imperativo dentro de casa e nas escolas. 

Facebook, Instagram e Twitter só permitem inscrição a partir dos 13 anos, por exemplo. Mas, mesmo com essas restrições nas políticas de uso de páginas e aplicativos, especialistas admitem que a vida digital dos pequenos é inevitável.

Uma pesquisa realizada com 3.102 crianças e jovens de 9 a 17 anos em todo o país mostrou que 73% dos que acessam internet usam redes sociais. Envio de mensagens instantâneas (79%) e assistir a vídeos online (77%) também fazem parte da rotina, segundo o estudo do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), ligado ao Comitê Gestor da Internet. 

"Em algum momento, no decorrer dos próximos três a cinco anos, não vai existir mais o mundo offline", afirma a psicóloga Andréa Jotta, do Laboratório de Estudos de Psicologia da Informação e Comunicação da PUC de São Paulo. "E preparar essas crianças para isso significa trabalho."

A base dessa orientação é mostrar que tudo o que é feito na internet deixa rastros, dificilmente é apagado e pode ser compartilhado, reproduzido e lembrado para o resto da vida. Assim, responsabilidade e respeito ao outro são princípios que ganham amplitude com o uso da tecnologia.

"Coisas que antigamente as crianças faziam, como bater boca e mandar um bilhetinho, em uma semana podiam estar esquecidas. Hoje essas atitudes se perpetuam e impactam no desenvolvimento afetivo e cognitivo delas", diz psicóloga Andréa. 

Não há consenso sobre a idade para as crianças entrarem nas redes. Até os dez anos, o ideal é usar junto com os filhos, participando de jogos ou o ajudando a mandar mensagens. Uma boa ideia é ter um perfil conjunto, e não apenas a senha da página da criança, como fazem alguns pais. 

Programas de controle parental também podem ser úteis para os mais novos, mas não são suficientes. “O seu filho sempre vai dar um jeito de quebrar essa segurança. Então, o diálogo e o acompanhamento constante são primordiais”, afirma Débora Sebriam, coordenadora de tecnologia educacional do Centro Educacional Pioneiro, em São Paulo. 
 

O início da vida digital deve ser acompanhado de perto, e uma solução é compartilhar um perfil com o filho. A partir da adolescência, quando a privacidade ganha relevo, o melhor é deixá-lo independente. 

E quando são os filhos que têm a senha individual dos pais? “Não é via de mão dupla”, diz a psicóloga e psicanalista Vera Iaconelli, colunista da Folha.

Com a senha do filho ou o perfil compartilhado, explica, o pai está cumprindo o papel de dar acesso ao mundo dos adultos —e o inverso não ocorre. “A senha do adulto é algo que diz respeito ao adulto.”

 

Quanto menor é a criança, menor é o tempo que ela deve ficar na internet. A fim de preservar espaço para atividades offline importantes para o desenvolvimento, muitas escolas têm adiado a permissão para o porte de celulares em sala de aula.

Em São Paulo, o colégio Stance Dual, que recebe alunos desde a educação infantil, só libera o uso do aparelho fora da sala de aula e a partir do oitavo ano (jovens na faixa de 13 anos de idade).

Nem sempre foi assim, explica a coordenadora educacional, Ana Claudia Esteves Correia. “Percebemos que os mais novos ainda não dão conta das consequências do mau uso. Colocam uma coisa na internet e não sabem como isso vai impactar, quantas pessoas vão ver. E uma criança de até 13 anos com celular na escola perde muito em convivência interpessoal.”

No ano passado, a escola implementou um projeto de “cybermentores”, em que alunos mais velhos com afinidade em tecnologia ajudam os mais novos em questões de segurança digital e dão apoio em situações como vazamentos e bullying virtual. 

“Enquanto a criança não provar que não vai fazer na internet algo que seja ruim para ela ou para os outros, é melhor não soltar”, orienta a psicóloga Andréa, da PUC.

E essa maturidade, explica, envolve desde ter cuidado para compartilhar conteúdos recebidos, como fotos íntimas ou notícias falsas, a pensar na própria imagem. “O jovem vai mudar muito, mas aquele post vai ficar ali para sempre”, diz. 

Mágoas e desentendimentos são mais fáceis de serem superados face a face, sem registros que podem ficar permanentes. Mesmo assim, as pessoas insistem em contar tudo e divulgar suas desavenças para amigos virtuais e seguidores. “É uma superexposição da antiga intimidade”, comenta a psicanalista Vera Iaconelli.

No Centro Educacional Pioneiro, um trabalho iniciado em 2011 ajuda os alunos a desenvolver empatia e a projetar consequências de postagens, com base em situações de constrangimento debatidas em rodas de conversa. “Tentamos promover a autorregulação emocional”, conta a coordenadora pedagógica.

A educadora ressalta que muitos dos problemas detectados na discussão sobre o que fazer nas redes não são exclusividade de crianças e jovens. "Os adultos também enfrentam isso."

TÁ OK?

Senhas compartilhadas, só para os pequenos
O início da vida digital deve ser acompanhado de perto pelos pais, e uma solução é compartilhar um perfil com o filho. Na adolescência, o melhor é deixá-lo independente

Não viva só online
Estimule o tempo fora das redes sociais, com outras atividades de lazer e amigos reais

Pense antes de postar
Publicações deixam rastros e não adianta apagar o post —qualquer deslize pode ser espalhado e lembrado por toda uma vida

Não exponha problemas nas redes
Mágoas e desentendimentos são mais fáceis de serem superados face a face, sem registros que podem ficar permanentes

Respeite a opinião do outro
Em caso de discordância, exponha seus argumentos sem fazer agressões. Demonstre que o respeito continua fora da rede

Peça desculpas em público
Se ofendeu alguém online, também faça aí a sua retratação; não adianta resolver nos bastidores, o que foi publicado é o que fica

 

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