Crianças e famílias detidas nos EUA não estão na "colônia de férias"

Na terça-feira (31), Matthew Albence, diretor interino do departamento de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos, afirmou que os centros de detenção onde estão presas famílias de imigrantes são como "colônias de férias".

“Esses indivíduos têm acesso a água e comida 24 horas por dia", disse o chefe do departamento de imigração americano. "Eles têm oportunidades de educação e recreação."

Essa não é a opinião dos médicos Scott Allen e Pamela McPherson, que fiscalizaram durante quatro anos abrigos para crianças e famílias de imigrantes nos Estados Unidos, onde estão hoje centenas de crianças e famílias pegas na política de tolerância zero do governo Trump. 

Algumas cenas que Scott e Pamela testemunharam: Um bebê de um ano e quatro meses perdeu um terço do peso em dez dias, por causa de uma diarreia, e ninguém pensou em interná-lo.

Um outro, de 27 dias, havia nascido durante a travessia e não foi examinado por um pediatra assim que chegou —cinco dias depois, teve uma convulsão, resultado de um sangramento no crânio que ninguém detectou. 

Várias crianças foram vacinadas com doses para adulto, por engano. Muitas quebraram o dedo nas pesadas portas de metal, típicas de prisões. Quase todas sofriam de ansiedade e muitas tinham depressão.

Com a política de tolerância zero implementada em abril, o governo Trump separou cerca de 2.500 crianças de seus pais e as mandou para centros de detenção. Diante da condenação mundial, Trump reverteu a política de separação de famílias dia 20 de junho e, pouco depois, a Justiça americana determinou que o governo reunisse as famílias o mais rápido possível. 

O governo Trump reunificou mais de 1.800 crianças, mas faltam ainda os casos mais complexos, como os mais de 450 pais que foram deportados sem seus filhos, que ficaram para trás, nos EUA. 

"Centros de detenção não são o lugar apropriado para abrigar crianças, seja sozinhas ou com suas famílias", dizem os médicos no relatório, que foi encaminhado ao Congresso americano e recebeu apoio das principais organizações médicas americanas.

Eles divulgaram seu alerta com ajuda do Government Accountability Project, que oferece assistência jurídica para pessoas que querem fazer denúncias.

A situação pode piorar. O governo e alguns legisladores tentam mudar o chamado Acordo Flores, de 1997, que determina que crianças não podem passar mais de 20 dias em centros de detenção que não tiverem condições mínimas para abrigá-los —que é o caso dos atuais abrigos nos EUA. 

Alguns senadores republicanos e o governo querem tirar essa limitação, e deixar as famílias detidas por tempo indeterminado, até que seja julgado seu pedido de refúgio. Como os juízes de imigração estão sobrecarregados, isso pode levar mais de um ano.

Com isso, deve aumentar os números de famílias de imigrantes detidas nos EUA. "Em vez de centros de detenção, há alternativas mais baratas e seguras", diz Dana Gold, advogada que representa os médicos e diretora de educação Government Accountability Project.

Em vez de manter os imigrantes detidos enquanto eles aguardam a conclusão de seus processos de refúgio, eles podem entrar em programas de monitoramento, em que são fiscalizados por meio de visitas presenciais, ligações com reconhecimento de voz e, em última instância, tornozeleiras eletrônicas. Eles também recebem assistência jurídica.

Tudo isso sai infinitamente mais barato do que manter os centros de detenção e é bastante eficiente —uma porcentagem muito pequena de pessoas descumpre as regras do programa e "some".

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