Doria e Covas negam dívidas e articulam para não perder F-1
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), negou que a prefeitura acumule dívidas com a organização da F-1. A afirmação foi feita por JR Pereira, executivo do consórcio interessado na construção do autódromo em Deodoro, ao jornal O Globo. Segundo ele, as supostas dívidas teriam motivado a organização da categoria a buscar o Rio de Janeiro como opção para realizar o GP Brasil.
“Para ter o Grande Prêmio, a prefeitura não paga nenhum valor para a F-1, desconheço qualquer dívida porque a nossa obrigação no contrato é realizar as obras anualmente para receber a corrida e fazemos isso com recursos do município, do governo estadual e federal”, disse Covas em entrevista coletiva ao lado do governador João Doria (PSDB), nesta sexta (10).
“Não vou iniciar um bate-boca com esse senhor que defende o seu lucro. Mas não há nenhum problema de caixa”, completou.
Levantamento da Folha, com base em informações de contratos publicados no Diário Oficial e também por jornais da época, mostrou que o autódromo de Interlagos recebeu investimento público de ao menos R$ 830 milhões (em valores corrigidos pela inflação) ao longo dos últimos 29 anos em que sediou o GP Brasil.
Doria, governador e ex-prefeito, justificou os investimentos com base no retorno para o turismo de São Paulo. O governador disse que os três dias de GP em Interlagos geraram 10 mil empregos e cada turista gastou, em média, R$ 3.000 durante o fim de semana de provas em 2018.
"Os hotéis registraram 97% de ocupação e o público é composto por 77% de turistas dos países vizinhos, da Europa, África do Sul", disse.
Segundo a SPTuris, a última corrida movimentou cerca de R$ 334 milhões com o turismo, um crescimento de 19,2% frente aos R$ 280 milhões registrados em 2017. O valor é superior ao Carnaval, com R$ 220 milhões, e a Parada do Orgulho LGBT, com R$ 288 milhões.
Covas afirmou que, desde o último GP do Brasil (em novembro de 2018) negocia a renovação do contrato –válido até 2020. No entanto, foi surpreendido após o presidente Jair Bolsonaro ter assinado na última quarta (8) um termo de cooperação para levar as provas para o Rio de Janeiro.
"As tratativas [para renovação] estão adiantadas, temos uma reunião no mês que vem com o novo CEO da F-1, Chase Carey, para dar continuidade aos termos do contrato. Em nenhum momento tivemos resistências do novo proprietário do evento ou qualquer dificuldade”, disse Covas. “Fomos pegos de surpresa com esse anúncio [de possível mudança para o Rio].”
Interlagos recebe a prova, desde 1990, mas não tem direito de preferência para renovar o acordo. No entanto, Doria acredita que a cidade possui muitas vantagens para continuar recebendo o GP.
“O GP está em Interlagos até 2020 e continuará. Se o Rio quiser disputar a F-1 com São Paulo, garanto que São Paulo tem mais chance de vencer”, disse o governador. “Os pilotos colocam Interlagos entre as melhores pistas. Não abriremos mão da F-1 em São Paulo. Já sobrevoei o campo de Deodoro e não tem nada ali, rigorosamente nada. Como imaginar um investimento que não existe? Temos um autódromo qualificado.”
Doria e Covas também trabalham nos bastidores políticos para convencer o presidente Bolsonaro a mudar de ideia. Covas convocou para a próxima segunda-feira (13) uma reunião com deputados federais “que defendem os interesses de São Paulo”.
Doria, que apoiou Bolsonaro durante a campanha, foi questionado se a ação do presidente teria, como pano de fundo, uma retaliação pelos seus posicionamentos recentes. O governador negou, disse que mantém conversas frequentes com ele, inclusive sobre Interlagos.
“O presidente até me mandou um áudio simpático sobre a F-1, não falamos todos os dias, mas falamos com frequência. Na semana que vem vou estar com ele em Nova York.”
Governo troca privatização de autódromo por concessão
Em outra frente, Covas desistiu do projeto de privatização do autódromo de Interlagos, que estava congelado na Câmara, e propôs o de concessão –o circuito continuaria como patrimônio do município e seria administrado pela iniciativa privada.
O prefeito pediu ajuda para o presidente da Câmara, Eduardo Tuma, para agilizar a votação da mudança. A concessão garantirá a Prefeitura mais facilidades para utilizar o circuito durante as provas.
"Com a mudança de privatização para concessão o Bruno Covas consegue manter o equipamento em poder do município, evita vendê-lo por um preço inferior ao que esperávamos e garante a permanência da F-1 em São Paulo", disse Tuma.