Semana de moda de NY corta calendário para não seguir rumo à irrelevância
“Há uma escolha, toda a semana de moda de Nova York segue rumo à irrelevância ou muda o calendário”. Foi assim que o novo chairman do CFDA (Conselho de Designers de Moda da América), Tom Ford, definiu em entrevista ao portal WWD as mudanças planejadas para o segundo evento mais longo do calendário internacional de desfiles.
A nova gestão do estilista, que só assume a cadeira no conselho em 1º de junho, enxugará a semana de sete para cinco dias. Isso significa que haverá cortes significativos na programação, que tem data marcada para acontecer entre 6 e 11 de setembro.
Inflada com 81 marcas, muitas delas sem relevância internacional –e pior, criativa–, a semana de moda de Nova York fica atrás apenas da semana de Paris, que tem nove dias intensos, mas justificados pelo êxodo de grifes robustas que vão atrás de uma lasca do poder midiático concentrado em suas temporadas.
A escolha de quem entra e quem sai, segundo Ford, está sendo feita em conjunto com editores e compradores do mundo inteiro, e não apenas nos Estados Unidos.
Ouvir a audiência internacional simboliza sua intenção de globalizar o calendário, uma das ideias que ele disse ter ao ser anunciado, em março, como substituto da estilista anglo-americana Diane Von Furstenberg na chefia do grupo. O propósito do CFDA é investir em projetos para aquecer a indústria e a cultura de moda local.
Na ocasião, ele disse ao site “Business of Fashion” estar chocado com o “isolamento” dos Estados Unidos. “Olhamos demais para nós mesmos. O que a moda americana precisa para se tornar mais relevante é pensar em si mesma não apenas como americana, mas como internacional”, afirmou.
Esse novo direcionamento significa uma mudança radical na forma como a semana de Nova York pode se comportar a partir de agora. Um dos possíveis movimentos será abraçar novos nomes de fora do circuito ocidental, de olho nas novas grifes e eventos que países como China, Coréia do Sul e Japão estão lançando no mercado.
Ao mesmo tempo, Ford pode usar sua influência para trazer de volta ao calendário gigantes americanos como Tommy Hilfiger, Proenza Schouler e Rodarte, que saíram da programação quando ela passou a descarrilhar.
Do ponto de vista geopolítico, a integração com outras culturas seria um recado contundente à política divisionista do governo americano, que, ao inflamar o discurso nacionalista, distancia mercados importantes para a moda como o mexicano e o chinês.
Se der certo, a gestão de Ford pode reverberar em toda a indústria de moda global, que precisa rever o que de fato importa mostrar numa passarela e o que é mero exibicionismo instagramável de suas marcas.