Entenda em três cenários os desdobramentos da eleição desta terça nos EUA

No último ano e meio o controle republicano da Casa Branca e das duas câmaras do Congresso conferiu poder enorme ao Partido Republicano, permitindo que este aprovasse cortes nos impostos, com consequências de longo alcance, e ao mesmo tempo conquistasse duas vagas na Suprema Corte.

Os resultados das eleições legislativas desta terça-feira (6) podem fazer Washington voltar ao tipo de situação de impasse ao qual ela havia se acostumado, tornando a política mais complicada e trabalhosa.

Seguem abaixo algumas das possíveis consequências de diferentes cenários no Capitólio.​

Democratas conquistam a Câmara e republicanos continuam com maioria no Senado

Comércio

O caminho para a aprovação no Congresso do USMCA, o acordo comercial entre EUA, México e Canadá, pode se complicar, mas sua aprovação final provavelmente continuará garantida em 2019 se os republicanos estiverem no controle do Senado. É possível que Trump não encare um resultado misto nas eleições como um veredicto sobre sua política comercial intransigente em relação à China.

Imigração

Alguns republicanos moderados tentaram se aliar a democratas neste ano para aprovar uma lei que protegesse os chamados “dreamers”, imigrantes não documentados que chegaram aos EUA na infância. Eles não foram suficientes para aprovar a reforma, mas podem ter mais sorte com uma Câmara controlada pelos democratas. Resta a ver se Trump acabaria sancionando a lei.

Economia

A volta de um impasse no Capitólio tornará mais difícil para o Partido Republicano aprovar novas reformas tributárias para consolidar a legislação republicana de dezembro de 2017 que cortou US$ 1,5 trilhão (R$ 5,6 trilhões) em impostos —por exemplo, medidas para tornar permanentes as reduções nos impostos sobre pessoas físicas ou para reduzir impostos sobre ganhos de capital. Com um Congresso dividido, os republicanos também terão mais dificuldade em aprovar reformas em gastos que não sejam de defesa.

Política externa

Podemos prever que os democratas na Câmara peçam mais investigações sobre as relações de Trump com a Rússia, além de mais sanções. Eles também podem exercer mais pressão sobre a administração por seus laços com a Arábia Saudita, promover mais audiências sobre gastos da defesa e dar ênfase maior aos esforços globais contra mudanças climáticas.

Saúde

O resultado provavelmente será uma inércia legislativa, se bem que existam alguns pontos sobre os quais os dois partidos podem formar um consenso, como a eliminação de alguns dos impostos introduzidos pelo Obamacare. Sendo a maioria na Câmara, os democratas poderão abrir investigações sobre a implementação republicana das reformas da era de Obama.

 

Republicanos continuam com maioria na Câmara e no Senado​

Comércio

O USMCA será aprovado pelo Congresso sem dificuldades em 2019, e Trump se sentirá incentivado pelo apoio dos eleitores à sua política comercial protecionista. Pode ser o prenúncio de novas tarifas sobre a China e tarifas sobre automóveis, à medida que o presidente intensifica a pressão sobre aliados dos EUA.

Imigração

Contrariamente ao que Trump afirma publicamente, nenhuma obra de construção física de seu muito alardeado muro na fronteira já começou. Podemos prever que o presidente retome essa questão e convença seu partido a implementar algumas de suas outras propostas imigratórias de linha dura, como eliminar o direito à cidadania por naturalidade para filhos nascidos nos EUA de pais que não são cidadãos americanos. O presidente enfrentará resistência mesmo de alguns setores de seu próprio partido.

Economia

O Partido Republicano procurará alongar o tempo de vigência de suas reduções de impostos e potencialmente acrescentar novos cortes dos impostos às reformas já vigentes, elevando ainda mais o déficit orçamentário crescente. O risco de paralisações de funcionamento do governo pode se reduzir, com deadlines de financiamento se aproximando em dezembro e no ano que vem. Em 2019 o governo também terá que discutir outra vez a necessidade de suspender ou elevar o teto da dívida nacional.

Política externa

Podemos prever que Trump continue seus esforços para reforçar as Forças Armadas “como nunca se viu”, que os setores de linha dura defendam o endurecimento de medidas contra o Irã e que haja uma segunda cúpula com o líder norte-coreano Kim Jong-un. O presidente russo, Vladimir Putin, pode visitar a Casa Branca em 2019.

Saúde

Os republicanos usarão seu controle sobre o Capitólio para impor modificações adicionais à lei de saúde de Barack Obama, por exemplo desobrigando estados individuais de se ater a certas partes da lei. Mas eles podem impedir a realização de uma das metas de Trump: a regulamentação maior das empresas farmacêuticas, para reduzir os preços dos medicamentos.

Democratas obtêm maioria na Câmara e no Senado

Comércio

Trump pode entrar em um impasse grave com o Congresso em torno do USMCA (o acordo comercial entre EUA, México e Canadá), com os democratas tentando arrancar concessões de um presidente enfraquecido. Trump pode ser pressionado a moderar seu impulso protecionista geral, incluindo suas posições sobre a China, a União Europeia e o Japão.

Imigração

Diga adeus ao muro de Donald Trump na fronteira. As duas câmaras do Congresso sob controle democrata se recusarão a aprovar qualquer orçamento que inclua verbas para o muro ou para a maioria das medidas de segurança na fronteira que o presidente gostaria de adotar. Os democratas buscarão uma solução legislativa para os "dreamers" e liderarão discussões sobre uma lei abrangente da imigração, que Trump provavelmente vetará.

Economia

O veto do presidente será um obstáculo a reformas radicais que os democratas querem adotar, mas pode haver algumas áreas de entendimento possível. Em especial, tanto Trump quanto a liderança democrata já disseram que querem fortalecer a infraestrutura. O presidente ficará livre para levar adiante sua agenda de desregulamentação, dado que boa parte disso ocorre fora do âmbito do Congresso.

Política externa

Podemos prever um esforço muito maior contra a Rússia, chamados por freios maiores aos gastos com a defesa, por acabar com as vendas de armas à Arábia Saudita e pelo fim da guerra no Iêmen. A mudança climática e a assistência externa podem voltar a ganhar destaque na agenda, e podemos prever um esforço de aproximação maior com aliados europeus irritados com alianças rompidas.

Saúde

Os democratas farão um esforço grande para impelir reformas da saúde, possivelmente lançando nova legislação para ampliar a cobertura. Essas leis nunca serão sancionadas por Trump, mas podem ser úteis como ferramenta de campanha da oposição na próxima eleição presidencial, em 2020.

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