Estrela da ginástica dos EUA critica tuíte de dirigente sobre campanha da Nike
Um dia depois que a USA Gymnastics, a federação americana de ginástica artística, apontou uma presidente interina para ajudar a modalidade a deixar para trás meses de tumulto e escândalo, a organização se envolveu em uma nova controvérsia no sábado (13) –e foi criticada por uma das maiores estrelas do esporte.
A nova presidente da federação, Mary Bono, foi criticada por um tuíte anti-Nike que ela postou em setembro, dias depois de a empresa anunciar uma campanha publicitária estrelada por Colin Kaepernick, ex-quarterback da NFL que se ajoelhava durante a execução do hino dos Estados Unidos antes das partidas em protesto contra a desigualdade racial e pelas mortes de negros causadas por ações policiais.
Críticos reagiram prometendo um boicote contra os produtos da Nike, e Bono postou uma foto que a mostrava usando uma caneta hidrográfica para apagar o logotipo da Nike em seus sapatos de golfe.
Simone Biles, que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de bronze pelos Estados Unidos na Olimpíada de 2016 e voltará a fazer parte da equipe americana no campeonato mundial deste ano, destacou o tuíte em um post crítico publicado no sábado.
"Não se preocupe, não é como se precisássemos de uma presidente inteligente na USA Gymnastics ou de patrocinadores ou coisas assim", escreveu Biles, que é patrocinada pela Nike.
No sábado à noite, Bono se desculpou e apagou o tuíte.
"Lamento profundamente ter postado o tuíte porque respeito as opiniões de todos e o direito das pessoas a expressá-las", afirmou Bono em um comunicado divulgado pela USA Gymnastics. "Isso não reflete de maneira alguma como abordarei minha posição na USA Gymnastics. Farei tudo que puder para ajudar a mudar a cultura e trabalhar com a nossa comunidade a fim de construir um ambiente aberto, seguro e positivo".
Uma porta-voz da USA Gymnastics não respondeu na noite de sábado a perguntas sobre como a federação havia verificado os antecedentes de Bono, ou se concordava com a posição contrária à Nike expressa por ela.
A USA Gymnastics vem passando por um período de intensa desordem e cometeu muitos erros, enquanto tenta se recuperar de um amplo escândalo de abuso sexual envolvendo Larry Nassar, antigo médico da equipe nacional de ginástica que molestou diversas jovens atletas. Biles revelou este ano que havia sido vítima de abuso sexual por Nassar.
A organização reformou o seu conselho, depois do escândalo, e forçou a saída de um antigo presidente, Steve Penny, que está sendo investigado por ter sua conduta insatisfatória quanto a centenas de casos de abuso.
Mas o drama prosseguiu nos últimos meses, quando a federação contratou Mary Lee Tracy, uma experiente treinadora que inicialmente defendeu Nassar, e em seguida pediu sua renúncia. Dias mais tarde, a mais recente presidente da organização, Kerry Perry, foi forçada a se demitir depois de menos de um ano no posto.
A USA Gymnastics apontou Bono, antiga deputada federal republicana por um distrito eleitoral na Califórnia, como sua presidente e presidente-executiva interina, anunciando a decisão na sexta-feira.
Ela foi ginasta e enquanto esteve no Congresso trabalhou para proteger os jovens contra a epidemia de abuso de opiáceos, informava o anúncio de sua indicação.
"Mary é conhecida como uma comunicadora notável, capaz de unir pessoas com opiniões e perspectivas diferentes", afirmou Karen Golz, a presidente do conselho da federação, em um comunicado à imprensa. "Mary é apaixonada pelo esporte e tê-la como presidente e CEO interina vai levar a organização em frente".
Mas a indicação de Bono causou sérios protestos quase imediatos, e apelos por sua demissão.
O tuíte redespertou o debate sobre Kaepernick e os protestos no futebol americano, que dividiram o país entre aqueles que os veem como desrespeitosos para com a bandeira nacional e as Forças Armadas, e aqueles que veem a oposição aos protestos como insensibilidade racial.
E isso pode colocar a USA Gymnastics em uma posição difícil. A federação, que perdeu o apoio de grandes empresas em meio ao escândalo quanto aos abusos, não conta com um patrocinador de material esportivo.
Rich Calhoun, pai de quatro filhos que participam da USA Gymnastics e competem em provas de ginástica em Massachusetts, disse estar frustrado por a nova indicação para o comando da organização ter gerado ainda outra controvérsia.
"Depois de tudo que aconteceu, é isso que eles fazem?", ele questionou.
Calhoun disse que o tuíte de Bono parecia zombar daqueles que falam em defesa de pessoas que sofreram abusos. "Isso é o exato oposto do que a USA Gymnastics deveria fazer agora", ele declarou.
Tradução de Paulo Migliacci