EUA perderiam guerra contra China e Rússia, diz relatório
Os Estados Unidos enfrentam uma "grave crise na segurança e na Defesa nacional", segundo um relatório publicado nesta quarta-feira (14) por uma comissão que investiga a estratégia militar do presidente Donald Trump.
A Comissão de Estratégia de Defesa Nacional, composta por um painel de 12 ex-funcionários democratas e republicanos selecionados pelo Congresso, avaliou a Estratégia de Defesa Nacional (NDS, na sigla em inglês) do governo Trump, apresentada em janeiro passado.
A estratégia pedia uma remodelação do Exército americano, com mais foco na concorrência entre grandes potências mundiais. O relatório sugere que, se os Estados Unidos entrarem em guerra com países como China e Rússia, poderiam não ganhar.
"O Exército americano poderia sofrer baixas numa dimensão inaceitavelmente alta e perderia muitos recursos financeiros em seu próximo conflito. Pode lutar para vencer, ou talvez perca, uma guerra contra a China ou a Rússia", afirma a comissão. "Os Estados Unidos, particularmente, correm risco de sobrecarga se suas Forças Armadas forem forçadas a combater em duas ou mais frentes simultaneamente."
O texto diz ainda que a superioridade militar dos EUA "erodiu para níveis perigosos" e que sua habilidade para defender a si, a seus aliados e a seus interesses externos vem se tornando "cada vez mais duvidosa".
A comissão, que revisou documentos sigilosos e entrevistou funcionários do Pentágono (sede do Departamento de Defesa americano), aprovou os objetivos estratégicos da Casa Branca, elogiando a NDS como "um primeiro passo construtivo", mas questionou como as metas da Defesa serão alcançadas.
O relatório destaca que o governo Trump "com frequência demais, se apoia em suposições questionáveis e análises fracas" e não fornece "abordagens claras de como ser bem-sucedido competindo em tempos de paz ou em conflitos bélicos" contra os rivais militares dos EUA.
"Acreditamos que a NDS coloca o Departamento de Defesa e o país na direção certa, mas não explica adequadamente como devemos chegar lá", diz o texto. "Sem uma estratégia que seja mais integrada e que inclua todo o governo, diferentemente do que vem sendo evidenciado até agora, é improvável que os Estados Unidos consigam reverter o impulso de seus rivais dentro de um espectro evolutivo e complexo de competição."
O documento menciona as recentes agressões da Rússia no Leste Europeu, suas operações cibernéticas e as alterações que fez no seu arsenal nuclear como ameaças que os Estados Unidos e seus aliados na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) precisam abordar.
Nos últimos anos, as forças russas anexaram a Península da Crimeia, atuaram para desestabilizar a Ucrânia, reforçaram suas capacidades militares no Ártico e conduziram os maiores exercícios militares de sua história em setembro passado, com cerca de 300 mil soldados.
Apesar de não ter ido ao ponto de criticar abertamente a Otan, assim como Trump fez durante seu mandato até agora, a comissão destacou a necessidade da aliança de fortalecer suas capacidades militares.
"Para bloquear uma Rússia revanchista, os Estados Unidos e seus aliados na Otan precisam reconstruir as capacidades e competências das forças militares na Europa", afirmam os especialistas que redigiram a análise.
O texto também apresenta reflexões sobre os riscos representados por "organizações ameaçadoras transnacionais" –especificamente grupos terroristas islâmicos no Oriente Médio–, dizendo que o envolvimento dos EUA na região "não desaparece apenas por desejo".
"Enquanto o terrorismo for exportável, enquanto o Oriente Médio continuar sendo um grande produtor de petróleo, e enquanto os Estados Unidos tiverem aliados-chave e parceiros na região, os interesses americanos no Oriente Médio continuarão profundos", diz o documento.