Ex-juiz gasta metade de patrimônio em campanha para chegar ao 2º turno do RJ
Sem declarar à Justiça Eleitoral qualquer recurso em conta bancária, o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) gastou metade de seu patrimônio na campanha ao governo do Rio de Janeiro.
De acordo com dados de sua prestação de contas, ele transferiu R$ 185 mil para a campanha de 6 de setembro a 4 de outubro. Na lista de seu patrimônio entregue ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do estado, contudo, consta apenas uma casa de R$ 400 mil.
A assessoria de Witzel afirma que, no momento do registro da candidatura, quando a declaração de bens é entregue, a conta bancária de Witzel estava zerada.
Os recursos transferidos à campanha são, segundo a assessoria do ex-juiz, honorários recebidos durante o período eleitoral por trabalhos executados antes de a candidatura ter sido oficializada.
Desde que largou a magistratura, Witzel se dedicou à advocacia, tendo integrado o corpo jurídico do PSC, além de prestar consultoria e se associar a dois escritórios.
Questionado sobre a origem dos recursos transferidos para a própria campanha, a assessoria do candidato afirmou que ele “presta consultoria jurídica e recebeu, além de honorários, luvas para ingressar em dois escritórios de advocacia, um no Rio de Janeiro e outro no Espírito Santo”.
O ingresso nos escritórios está em processo de registro na OAB e, por isso, também não fizeram parte da declaração de bens.
Essa auto doação representou 9% do total de R$ 2 milhões gastos pela sua campanha no primeiro turno. Witzel deu uma arrancada na última semana de campanha e chegou ao segundo turno com 41,28% dos votos válidos, à frente do ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), com 19,56%, e que já gastou R$ 6,3 milhões, o triplo do adversário.
O ex-juiz decidiu usar dinheiro próprio na campanha quando o fundo eleitoral do PSC passou a escassear. O último repasse para sua campanha dessa origem foi em agosto. Já em setembro, a sigla enviou dinheiro do fundo partidário para dar o fôlego final à campanha.
A preocupação do comitê de Witzel neste momento é a escassez de recursos. O PSC já gastou quase todos os R$ 36 milhões que tinha disponíveis do fundo eleitoral com candidatos em todo o país —Witzel foi o terceiro que mais recebeu, R$ 1,5 milhão.
O caixa foi zerado porque a arrancada de Witzel foi inesperada até para a própria sigla, que não reservou recursos para um segundo turno. O PSC também tem como candidato a governador no segundo turno Wilson Lima, no Amazonas.
O crescimento do ex-juiz é associado à vinculação com a campanha do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL).
Há três semanas, Witzel e o grupo de Flávio unificaram a estratégia de campanha, realizando atos em conjunto.
Embora surpreendente para todos, o ex-juiz sempre demonstrou confiança que chegaria ao segundo turno.
Quando, na pré-campanha, era convidado para ser vice nas chapas de Paes, Romário (Podemos) e Anthony Garotinho (PRP), costumava retrucar ao oferecer a eles a vice em sua chapa.
Antes da campanha, ele também se encontrou com o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) para conversar sobre o cargo e o estado. Ele pediu para conhecer o Palácio Laranjeiras, residência oficial, e foi convidado, junto com a família, para um jantar no local.
Na manhã desta segunda-feira (8), ele foi à Central do Brasil cumprimentar eleitores e dar entrevista. Buscou não demonstrar preocupação com a adesão oficial do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) à sua campanha.
“A questão não é ele vir para o meu palanque. É questão de propostas. O povo avalia. As propostas minhas e dele têm um alinhamento.”
Ele também ironizou a declaração de Paes que o classificou como uma pessoa “desconhecida” do eleitorado.
“Tem que perguntar a 3,1 milhões de eleitores se eu sou desconhecido”, disse.