STJD vê mensagem política do Atlético-PR e estuda punição
Baseado em regras da Fifa, o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) analisa se punirá o Atlético-PR por manifestação política.
Na partida contra o América-MG no último sábado (6), quase todos os jogadores do time entraram em campo com uma camisa amarela com a frase “vamos todos juntos por amor ao Brasil”. O slogan tem sido usado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência da República.
A punição pode variar de multa até perda de pontos no Campeonato Brasileiro.
“A pena máxima seria exclusão do torneio, mas neste caso seria medida muito extrema, que não caberia”, disse à Folha o procurador do tribunal, Felipe Bevilacqua.
“Não estava escrito o nome do candidato, mas a mensagem política foi clara. Não adianta alegar que não”, completou o procurador do STJD.
Em conversas informais, integrantes do órgão afirmam que, embora seja preciso analisar o que determina a Fifa, não é provável que o Atlético-PR receba uma punição pesada pelo episódio. O CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) é omisso em casos de manifestação política, mas a Fifa os proíbe.
Como o caso foi relatado na súmula pelo árbitro Raphael Claus, o STJD tem prazo de 30 dias para se manifestar. Bevilacqua descarta que demore tanto tempo. A decisão sobre a ação a ser tomada acontecerá até o fim da semana.
É possível que o STJD consulte a Fifa sobre o caso. A Folha entrou em contato com a entidade internacional, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.
O único jogador do Atlético-PR escalado como titular no sábado a não usar a camiseta foi o zagueiro Paulo André. Ele entrou em campo com um agasalho do clube.
Procurado, disse que não gostaria de se manifestar.
Paulo André foi um dos líderes do Bom Senso FC, movimento de atletas que cobrava melhores condições de trabalho e chegou a ensaiar a convocação de uma greve dos atletas do Campeonato Brasileiro.
A manifestação do Atlético-PR não foi o primeiro ato político a causar polêmica no Brasileiro. Em entrevista após empate com o Bahia, o volante do Palmeiras Felipe Melo dedicou o gol marcado na partida ao “nosso futuro presidente Bolsonaro.”
O STJD chegou a cogitar uma punição a Melo também baseado nas normas da Fifa. Até agora nada aconteceu, o que pode indicar um bom precedente para o Atlético-PR.
Consultado pela Folha, a assessoria do clube paranaense disse que o presidente do conselho deliberativo, Mario Celso Petraglia, que de fato é a principal autoridade do clube, não se pronunciaria.
Antes do jogo de sábado, questionado nas redes sociais sobre em quem votaria para presidente, ele respondeu que apoiava Bolsonaro.
O estatuto da Fifa, no artigo 4, prega a neutralidade política, e a regra se aplica a todas as confederações filiadas.
Desde a Copa das Confederações de 2005, quando jogadores da seleção brasileira comemoraram o título com camisetas religiosas, a Fifa passou a vigiar mais de perto manifestações extra futebol.
No último Mundial na Rússia, a entidade multou Shaqiri e Xhaka, da Suíça, por manifestações políticas durante partida contra a Sérvia. Os dois são de origem kosovar, que vive em clima de tensão com os sérvios há décadas.
Cada um deles foi multado em 10 mil francos (R$ 37,8 mil em valores atuais).