FBI prende líder de milícia que detém imigrantes na fronteira dos EUA
O FBI prendeu no sábado (20) o líder de uma milícia de direita que vinha detendo, com o uso de armas de fogo, famílias imigrantes que cruzam a fronteira dos Estados Unidos no sul do estado do Novo México. A milícia vinha enfrentando uma série de críticas por suas táticas.
Hector Balderas, o secretário da Justiça do Novo México, disse que agentes federais haviam detido o líder da milícia, Larry Mitchell Hopkins, que operava sob o pseudônimo Johnny Horton Jr. Balderas informou em comunicado que Hopkins foi detido por uma acusação de porte de armas não autorizado, já que uma condenação criminal anterior torna ilegal que ele carregue armas.
"Estamos falando de um criminoso perigoso que não deveria portar armas diante de famílias e crianças", disse Balderas. "A prisão dele pelo FBI indica claramente que a defesa da lei deve caber a agentes policiais treinados, e não a ativistas armados."
A acusação de porte de armas contra Hopkins não é muito grave. Mas deve servir como ponto de partida para uma investigação mais profunda sobre suas atividades e as da milícia, e abre caminho para que as autoridades apresentem acusações mais sérias, como sequestro e se fazer passar por agente policial ou funcionário do governo dos Estados Unidos.
A detenção de Hopkins surge em um momento de tensão crescente quanto às operações de grupos paramilitares ultraconservadores na fronteira sudoeste dos Estados Unidos. Organizações que se identificam como milícias têm um longo histórico de ações contra imigrantes vindos da América Latina, que remonta à criação de patrulhas de fronteira pela Ku Klux Klan, na década de 1970.
O número recorde de imigrantes vindos da América Central detidos pelas autoridades federais nos últimos meses veio acompanhado por um novo pico de atividade por parte das milícias na fronteira.
A organização liderada por Hopkins, conhecida como United Constitutional Patriots (patriotas constitucionais unidos ), recentemente postou vídeos que mostravam membros armados da milícia detendo crianças e seus pais em uma área deserta do Novo México, perto de El Paso, Texas; os imigrantes foram entregues posteriormente à Patrulha de Fronteira federal.
Líderes políticos do Novo México, um estado controlado pelo Partido Democrata, responderam furiosamente. A governadora Michelle Lujan Grisham disse que quaisquer maus tratos na fronteira eram "inaceitáveis". Os dois senadores democratas pelo estado, Tom Udall e Martin Heinrich, afirmaram em comunicado que as ações dos grupos armados "não podem ser toleradas".
A União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) denunciou as ações da milícia em uma carta divulgada na quinta-feira, afirmando que elas equivaliam a sequestros realizados por "justiceiros armados e racistas".
Mas essas denúncias não são unanimidade no estado. Um importante republicano do Novo México, Gavin Clarkson, que trabalhou para o governo Trump e está em campanha para o Senado, se reuniu com membros mascarados da organização em março e elogiou seus esforços, de acordo com um vídeo que mostra o encontro e foi postado no Facebook.
Mas Clarkson recorreu ao Twitter domingo para declarar que condena as atividades da milícia. "Os milicianos mascarados são a antítese do que uma república livre deveria ser", ele disse.
Jim Benvie, porta-voz da milícia, não respondeu de imediato a um pedido de comentário sobre a prisão de Hopkins.
O FBI anunciou em comunicado que a polícia de Sunland Park, no Novo México, havia colaborado na prisão. Hopkins, 69, deveria ter comparecido ao tribunal federal dos Estados Unidos do distrito de Las Cruces, Novo México, na segunda-feira (21).
Hopkins vive em Flora Vista, no noroeste do Novo México, e suas ações já vinham sendo acompanhadas por organizações que vigiam as milícias de direita nos Estados Unidos. Ele foi condenado em 2006 por se fazer passar por policial e por posse criminosa de arma de fogo, de acordo com o site Daily Beast.
A despeito das críticas recentes às suas operações no Novo México, a milícia liderada por Hopkins têm amplo alcance no Facebook e YouTube.
Conversando com uma pessoa que usava uma máscara contra gás e um sistema de distorção de voz, Hopkins aparece em um vídeo postado em um canal extremista de direita no YouTube, em novembro. Ele afirmou que estava em contato com o presidente Donald Trump, depois de encontrá-lo por acaso em um cassino em Las Vegas.
Tradução de Paulo Migliacci