Folha foi a Portugal e Moçambique para contar a história do português
“Roberto, caso ainda não tenha pai, gostaria de assumir essa pauta sobre a língua portuguesa.”
Em 30 de maio de 2017, mandei esse email ao secretário de Redação da Folha Roberto Dias. Vinte meses se passaram desde então.
Na última terça (12), a SND (Society for News Design), principal entidade de design de notícias do mundo, divulgou os premiados na competição Best of Digital Design Competition (melhor do design digital). Na categoria “gênero, identidade e sociedade”, a Folha recebeu a medalha de bronze pelo projeto O Tamanho da Língua.
Fechava-se um ciclo de muitas dúvidas e horas de trabalho, mas também recompensas.
O projeto começou a ganhar corpo nas reuniões com a equipe do Núcleo de Imagem, formado por jornalistas como Thea Severino, Kleber Bonjoan, Daigo Oliva, Victor Parolin, entre outros.
Ao longo de cinco meses, equipes da Folha estiveram em Portugal e Moçambique, além de oito estados brasileiros: Pará, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
Uma ampla operação havia sido montada, mas as dúvidas persistiam. Teríamos um conjunto interessante de depoimentos de especialistas e leigos para os vídeos e os textos?
Da minha parte, a incerteza só começou a arrefecer com as meninas de Caruaru.
Entrevistadas por Thaís Nicoleti de Camargo e Bruno Santos, as adolescentes pernambucanas gargalhavam ao se lembrar de algumas palavras e expressões.
Nas semanas seguintes, recebemos outros registros divertidos. E alguns curiosos, reveladores, comoventes.
Em Portugal, os jornalistas Giuliana Miranda e Lalo de Almeida se impressionaram com a assimilação da cultura brasileira pelos habitantes do país europeu, o que torna fácil para eles a compreensão do português falado no Brasil —a recíproca não é verdadeira.
Os mais velhos se familiarizaram com os sotaques do outro lado do Atlântico por meio das telenovelas; os jovens se aproximam do jeito brasileiro muito por conta dos youtubers.
Os moçambicanos surpreenderam os jornalistas Cláudia Collucci e Marcus Leoni. Numa mesma frase, eles misturam vocábulos do português e palavras das línguas maternas do país. Em todo o Moçambique, existem oficialmente 20 línguas maternas.
Resultado do trabalho de mais de 30 profissionais, o projeto foi lançado em 23 de abril de 2018. Com uma linha narrativa que inclui seis vídeos, O Tamanho da Língua aborda temas como a expansão do idioma mundo afora (é a sétima mais falada) e a diversidade de sotaques.
Somados, os vídeos se aproximam hoje de 500 mil visualizações, um número bastante expressivo para um projeto jornalístico. Como escreveu o colunista da Folha Sérgio Rodrigues, o tamanho da língua é desmedido.
Naief Haddad é repórter especial