África está entre as ambições globais do Reino Unido após o 'brexit'
Em viagem à Cidade do Cabo nesta terça-feira (28), a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou uma "nova associação" entre o seu país e a África para compensar as perdas econômicas em consequência do "brexit" (a saída do país da União Europeia).
"Hoje posso anunciar uma nova ambição: eu quero que o Reino Unido se transforme no principal investidor dos países do G7 na África até 2022", declarou a premiê no discurso em que divulgou o plano de dar prioridade aos investimentos no continente africano. "Eu quero criar uma nova parceria entre o Reino Unido e nossos amigos da África, construída em torno da prosperidade e segurança compartilhadas."
"Todo mundo tem interesse em que se criem empregos para atacar as causas e os sintomas do extremismo e da instabilidade, para administrar os fluxos migratórios e para fomentar um crescimento sustentável", completou May, em um encontro com empresários.
"Se não conseguirmos isso, as consequências econômicas e ambientais chegarão rapidamente aos quatro cantos do nosso mundo interconectado", advertiu a primeira-ministra, reforçando que os impactos serão globais.
Plano B após o 'brexit'
Como dirigente de um país comercial, que depende dos mercados globais, “eu quero ver as economias africanas fortes, com as quais empresas britânicas possam fazer negócios de forma livre e justa", disse Theresa May.
Desde que os britânicos decidiram abandonar a União Europeia (UE) no referendo de junho de 2016, o Reino Unido multiplica os contatos diplomáticos para firmar acordos comerciais que substituam os estabelecidos com Bruxelas.
A primeira-ministra anunciou a assinatura de contratos de investimentos de 4 bilhões de libras (R$ 21,3 bilhões) nas economias africanas. May acrescentou que o Reino Unido também sediará uma cúpula de investimentos na África no próximo ano, em Londres, e que abrirá novas missões diplomáticas em todo o continente.
"Não se pode competir com a potência econômica de certos países", afirmou, referindo-se à China, atualmente o maior investidor no continente africano, mas "podemos oferecer investimentos de longo prazo e de alta qualidade", completou May.
A primeira viagem da primeira-ministra à África do Sul, Nigéria e Quênia desde que ela assumiu o cargo, em 2016, é vista por analistas como um esforço para carimbar sua autoridade e garantir apoio num momento em que sua permanência no cargo pode estar em risco.
Há meses, ela é criticada em seu país tanto pelos defensores como pelos críticos do "brexit", que duvidam de sua capacidade para administrar a saída da UE.
A líder conservadora disse a jornalistas que seu governo está "fazendo os preparativos necessários" para evitar uma catástrofe, caso não chegue a um acordo com Bruxelas.
Uma "falta de acordo" seria "preferível a um mau acordo", repetiu em declarações publicadas nesta terça-feira na imprensa britânica.
Um parceiro sul-africano
Theresa May se reuniu com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, com quem assinou um acordo comercial. "Estamos muito contentes com a contribuição do Reino Unido à nossa busca por investimentos", apontou Ramaphosa.
A economia sul-africana sofre com um baixo crescimento econômico e um alto desemprego (mais de 27%), além das consequências dos escândalos de corrupção sob a presidência de Jacob Zuma, que renunciou em fevereiro.
Ramaphosa espera que as negociações entre Londres e Bruxelas levem a um acordo "que restaure a estabilidade da economia e dos mercados, assim como a proteção de postos de trabalho", porque, segundo ele, o "brexit" "também tem seu impacto sobre nossa economia".