Inquérito antitruste da FTC sobre o Facebook avaliará suas aquisições
A Comissão Federal do Comércio (FTC) dos Estados Unidos está estudando as aquisições do Facebook, como parte de sua investigação antitruste sobre o gigante da mídia social para determinar se este conduziu uma campanha para tomar o controle de potenciais rivais antes que pudessem se tornar ameaça, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.
As práticas de aquisição da empresa são componente central na investigação pela FTC, disseram as fontes. O Facebook revelou a investigação antitruste da FTC ao anunciar seus resultados na semana passada, mas ofereceu poucos detalhes.
Investigadores da FTC estão buscando indícios de se o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, adquiriu startups de tecnologia a fim de impedi-las de desafiar o império do Facebook, segundo fontes. A FTC começou a contatar fundadores de empresas adquiridas pelo Facebook, disseram algumas das pessoas.
O Facebook não respondeu de imediato a um pedido de comentário. Em seu anúncio na semana passada, o Facebook informou que a FTC estava investigando "as áreas de redes sociais ou serviços de mídia social, publicidade digital e/ou aplicativos móveis ou online".
Em depoimento ao Congresso dos Estados Unidos no mês passado, Matt Perault, diretor de políticas públicas do Facebook, disse a um subcomitê antitruste da Câmara dos Deputados que as aquisições da empresa haviam alimentado a inovação e reunido empresas cujos pontos fortes se complementam.
As companhias adquiridas pelo Facebook "tiveram mais oportunidade de inovar, como parte do Facebook, do que teria sido o caso se continuassem independentes, melhorando a experiência propiciada aos usuários e resultando em mais, e não menos, escolhas para as pessoas em geral", disse Perault em um depoimento previamente preparado.
Um porta-voz da FTC se recusou a comentar. A investigação surge depois da conclusão por acordo de um caso separado no qual a comissão multou o Facebook em US$ 5 bilhões por supostos delitos relacionados à privacidade.
O Facebook adquiriu cerca de 90 empresas ao longo dos últimos 15 anos, de acordo com dados compilados pela S&P Global.
Entre elas estão o app de compartilhamento de fotos Instagram e o serviço de mensagens WhatsApp, que reforçaram a posição dominante do Facebook na mídia social e nos sistemas de mensagens.
Outra aquisição que pode despertar interesse é a da Onavo Mobile, em 2013. O Facebook usou a tecnologia de rastreamento de comportamento da Onavo para identificar e selecionar empresas de rápido crescimento como alvos potenciais de aquisição, ou para observar novas categorias de produtos.
O The Wall Street Journal noticiou em 2017 que o Facebook usou dados da Onavo para decidir adquirir o WhatsApp. Documentos divulgados por legisladores britânicos no final do ano passado confirmaram a importância da Onavo para a estratégia do Facebook. O Facebook terminou por fechar o controverso app.
Outras grandes empresas de tecnologia, como o Google, do grupo Alphabet, também se envolveram em ondas de aquisições; um painel antitruste britânico afirmou em março que as cinco maiores empresas de tecnologia realizaram mais de 400 aquisições nos últimos 10 anos.
A FTC vem sinalizando há meses seu interesse em determinar se as empresas de tecnologia estão sufocando a competição ao adquirir sistematicamente startups que poderiam um dia se tornar suas concorrentes.
Quando a comissão formou um grupo de trabalho em fevereiro para estudar potenciais violações antitruste no setor de tecnologia, Bruce Hoffman, diretor da divisão de competição da FTC, disse que estava na hora de estudar a questão.
"Essa é uma teoria completamente legítima e real de dano à competição", disse Hoffman em discurso no ano passado, embora tivesse enfatizado que a FTC necessitaria de "base factual e econômica" para determinar se uma startup adquirida realmente poderia ter se tornado concorrente significativa.
Hoffman também alertou que reprimir esse tipo de aquisição poderia ter consequências negativas.
As grandes empresas de tecnologia podem ser capazes de levar tecnologias inovadoras mais rápido ao mercado, e os mercados de capital para startups poderiam encolher caso a oportunidade de aquisição por uma grande empresa de tecnologia vier a ser restringida, ele disse.
Se a FTC identificar problemas antitruste em uma das passadas aquisições do Facebook, a comissão teria diversas opções de ação, da ordem de cindir determinadas aquisições à imposição de restrições sobre a conduta do Facebook com relação a alguns dos ativos adquiridos. Mas qualquer medida desse tipo pode conduzir a disputas judiciais.
A investigação da FTC não é o único inquérito antitruste que a empresa enfrenta.
O Departamento da Justiça americano anunciou na semana passada que estava lançando uma ampla revisão do "como e se" plataformas online se envolveram em práticas que reduzem a competição, sufocam a inovação ou prejudicam os consumidores de qualquer outra forma. Isso inclui a mídia social, segundo o departamento.
Secretarias de justiça de estados americanos e as autoridades regulatórias europeias também estão estudando questões competitivas em torno do Facebook.
The Wall Street Journal, tradução de Paulo Migliacci
Brent Kendall, John D. McKinnon e Deepa Seetharaman