Inquérito da Nissan diz que Ghosn usou dinheiro da empresa para enriquecer irmã
Uma pessoa informada sobre a investigação da Nissan sobre Carlos Ghosn afirmou que a empresa descobriu que ele usou uma subsidiária na Holanda a fim de gastar cerca de US$ 18 milhões (R$ 68 milhões) na compra e na reforma de residências pessoais, entre as quais um apartamento no Rio de Janeiro e uma casa em Beirute (Líbano).
Além disso, disse a pessoa, Ghosn usou a subsidiária holandesa para realizar múltiplos pagamentos à sua irmã mais velha, por trabalhos de consultoria.
Em um caso, ela recebeu uma comissão de US$ 60 mil (R$ 228 mil) por assessoria sobre habitação no Rio, mas a Nissan não encontrou provas de que a irmã dele tivesse de fato executado o trabalho, disse a pessoa. A irmã de Ghosn não foi localizada para comentar.
Ghosn foi detido na segunda-feira (19) por ordem da procuradoria pública japonesa, por suspeita de conspiração para ocultar cerca de US$ 44 milhões do valor total da sua remuneração, em cinco anos, nos documentos financeiros oficiais da Nissan.
Ele continua preso. Não foi possível contatá-lo para que comentasse o assunto.
A rede estatal de rádio e TV japonesa NHK afirmou que Motonari Otsuru, ex-procurador público que agora trabalha no setor privado, está representando Ghosn. O escritório do advogado se recusou a comentar.
As supostas acusações surgem em um momento de pressão sobre a Nissan da parte de sua parceira em uma aliança de montadoras, a Renault, da França, e do governo da França, para que justifique por que Ghosn foi derrubado, depois de liderar o resgate da montadora japonesa no começo da década de 2000.
Hiroto Saikawa, presidente-executivo da Nissan, disse que, se as pessoas soubessem o que ele sabe sobre as ações de Ghosn, apoiariam as decisões da empresa.
Em uma reunião de conselho que durou cerca de quatro horas nesta quinta-feira (22), os conselheiros foram informados sobre as acusações.
Segundo um conselheiro, mesmo que apenas um décimo delas sejam verdade, isso já seria motivo para destituição".
Uma pessoa informada sobre o conselho da Renault disse que este havia solicitado que a Nissan adiasse a decisão sobre Ghosn até que as autoridades de Tóquio revelassem mais informações.
Em um sinal da fricção entre a parceira francesa e a japonesa, o conselho da Nissan ignorou o pedido e confirmou a destituição de Ghosn de seu posto como presidente do conselho da montadora.
A Nissan esnobou de novo a parceira quanto à seleção de um novo presidente para seu conselho.
Em carta ao conselho da Renault, à qual o Wall Street Journal teve acesso, o conselho da montadora japonesa afirmou que não permitiria que a Renault apontasse um substituto porque Ghosn continua a ser parte do conselho da Nissan e, na opinião do grupo japonês, a Renault não tem direito a representação adicional em seu conselho.
Um porta-voz da Nissan afirmou que excluir Ghosn de seu conselho requereria votação pelos acionistas.
A solicitação da Renault à Nissan sobre mais informações quanto às acusações contra Ghosn também terminou bloqueada.
Uma carta do conselho da Nissan informou que a companhia não podia oferecer informações porque existia a possibilidade de que isso fosse visto como interferência com a investigação separada conduzida pela procuradoria pública de Tóquio.
Um porta-voz da Renault se recusou a comentar.
Um comunicado divulgado pela Nissan depois da reunião de seu conselho afirmava que Ghosn havia cometido sérios delitos de conduta em três áreas: ao reportar incorretamente sua remuneração, por muitos anos; ao usar um fundo de investimento da empresa para fins pessoais; e ao cobrar despesas da companhia indevidamente.
A montadora japonesa afirmou que Greg Kelly, por muito tempo assessor de Ghosn, era "o mandante quanto a isso".
Kelly foi destituído de seu posto como diretor representante. Ele também está preso, e não foi possível contatá-lo para que comentasse. Não se sabe se ele já está sendo representado por um advogado.
A pessoa informada sobre a investigação da Nissan afirmou que a empresa dispunha de documentação extensa sobre as atividades de Ghosn.
Em um email, o executivo supostamente instou um empregado da Nissan a agir mais rápido quanto à transferência de dinheiro pela subsidiária da empresa na Holanda, chamada Zi-A Capital, para que a reforma de sua casa em Beirute pudesse avançar, disse a pessoa.
Um tribunal de Tóquio aprovou nesta quarta (21) a detenção de Ghosn por mais dez dias. Nesta quinta-feira, um repórter do The Wall Street Journal que visitou o centro de detenção de Tóquio foi informado por um representante da organização que Ghosn e Kelly estavam proibidos de receber visitas.
Traduzido do inglês por Paulo Migliacci