Interferência do governo no diesel deve reforçar pressão por privatização da Petrobras, diz conselheiro
A interferência do governo Bolsonaro no reajuste do preço do diesel preocupou os representantes dos acionistas minoritários do conselho da Petrobras, que estão defendendo abertamente a privatização da empresa.
“Episódios como esse precisam reforçar a pressão da sociedade para a privatização da área de refino e até da própria Petrobras”, disse à Folha, Marcelo Mesquita, conselheiro da estatal. “Ninguém questiona o preço da batata ou do arroz. O preço de qualquer produto sobe e desce”.
Por decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a Petrobras segurou um reajuste de 5,7% no preço do diesel pouco tempo depois de anuncia-lo nesta quinta-feira (12). A decisão preocupou o mercado, que teme uma interferência parecida com o que havia no governo Dilma Rousseff. Nesta sexta-feira, as ações da estatal caíam cerca de 5%.
Mesquita é conselheiro da Petrobras desde agosto de 2016 e foi eleito pelos acionistas minoritários detentores de ações ordinárias da empresa (com direito a voto). Ele é também sócio da gestora Leblon Equities e um veterano do mercado de capitais.
Segundo o executivo, o país vive uma situação esdrúxula provocada pelo fato de termos, de um lado, uma estatal monopolista no fornecimento de diesel e, de outro, o forte impacto para a economia que pode ser provocado por uma greve do caminhoneiros.
“Quando o fornecedor do produto é estatal e monopolista, sempre haverá a discussão se as decisões são políticas ou técnicas. Sempre teremos ingerência dos clientes ou de determinado acionista”, afirmou Mesquita.
Segundo ele, a decisão de reajustar ou não o preço do diesel não passou pelo conselho da Petrobras, porque trata-se de uma discussão técnica da administração da empresa, que é tomada considerando diversos fatores de forma a garantir, ao longo do tempo, a paridade com os preços internacionais.
Mesquita afirma que seu papel como conselheiro é insistir pela privatização da área de refino e até da própria Petrobras, porque, dessa maneira, essa discussão de reajustar ou não o diesel deixa de fazer sentido. O executivo afirma que os estudos sobre a venda de refinarias estão em andamento no colegiado.