Jornalistas deixarão Venezuela após serem detidos durante entrevista com Maduro
O jornalista Jorge Ramos e uma equipe da Univisión, um dos principais canais hispânicos dos Estados Unidos, deixarão a Venezuela nesta terça-feira (26), após serem detidos por mais de duas horas na sede da Presidência do país, enquanto entrevistavam o ditador Nicolás Maduro.
"Esperamos na terça-feira poder partir ao meio-dia rumo à Miami", disse Ramos a agências de notícias. Ele garantiu que tinha todas as autorizações para fazer o trabalho jornalístico.
Ramos, apresentador da Univisión, explicou que estava entrevistando Maduro quando mostrou um vídeo de jovens que comiam alimentos do lixo. Neste momento, o ditador "interrompeu a entrevista e saiu".
"Eu perguntara se ele era um presidente ou um ditador, porque milhões de venezuelanos não o consideram um presidente legítimo, sobre as acusações de Juan Guaidó [líder opositor reconhecido como presidente interino por 50 países] de que ele era um usurpador do poder", disse Ramos.
"Ficamos detidos, não há outra palavra, por mais de duas horas no palácio de Miraflores", completou o jornalista, que estava com uma equipe de seis pessoas.
Após o incidente, os jornalistas retornaram para o hotel em Caracas.
"Se isto acontece com correspondentes estrangeiros, o que acontece com os venezuelanos?", disse o mexicano Ramos em entrevista por telefone com a Univisión depois que ele e sua equipe foram liberados à noite.
A TV indicou que Maduro "se irritou com as perguntas de uma entrevista e determinou deter a gravação, apreender os equipamentos e reter os seis jornalistas".
Os jornalistas esperam a devolução de câmeras, cartões de memória e celulares, indicou Ramos.
Ramos, que já protagonizou um bate-boca com o presidente americano, Donald Trump, contou que o ministro da Comunicação venezuelano, Jorge Rodríguez lhes disse durante a entrevista que a mesma não estava autorizada.
"Esta é uma violação total à liberdade de expressão, uma violação aos direitos humanos; eles acreditam que a entrevista é deles, não nossa", prosseguiu.
O Departamento de Estado informou que recebeu a notificação de que Ramos e sua equipe estavam retidos contra sua vontade no Palácio de Miraflores. "Insistimos em sua libertação imediata; o mundo está de olho", reagiu o Departamento de Estado no Twitter.
Guaidó também criticou o episódio no Twitter. "Condenamos os atos violentos do usurpador com o jornalista @jorgeramosnews e sua equipe da Univisión. O desespero do usurpador é cada dia mais evidente, não conseguiu responder as perguntas", escreveu.
O senador Marco Rubio, defensor nos Estados Unidos da oposição venezuelana, repudiou o fato no Twitter dizendo que "este é um regime arrogante que se sente invulnerável e agora age com total impunidade".
A presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), María Elvira Domínguez, disse que esta ação "equivale a um sequestro".