Líder que derrubou comunismo na Romênia será julgado por crimes contra a humanidade
O ex-presidente romeno Ion Iliescu, 89, será julgado por crimes contra a humanidade por seu papel nos eventos sangrentos que se seguiram à revolta anticomunista e à queda de Nicolae Ceaucescu em 1989, anunciou na segunda-feira (8) o Ministério Público do país.
"Este é um momento particularmente importante para a Justiça romena, que cumpre uma dívida de honra com a história", disse o promotor Augustin Lazar, ao falar sobre a acusação em Bucareste. A data para o julgamento não foi marcada.
Os procuradores acusam Iliescu de chefiar um grupo que tinha o objetivo de conquistar o poder. Segundo os procuradores, este grupo usou estratégias envolvendo a televisão e outros meios para realizar "amplas e complexas atividades de enganação e desinformação" depois que Ceausescu fugiu da capital, em 22 de dezembro de 1989.
Essas ações teriam gerado uma psicose geral, que deu início a "confrontos fraticidas, tiroteios caóticos e ordens militares contraditórias", que levaram à morte de 862 pessoas e a ferimentos em outras 2.150.
Cerca de 13 milhões de balas foram disparadas na ocasião. A condenação e a execução de Ceausescu e de sua mulher, Elena, foram parte do plano criado por este grupo, de acordo com os procuradores.
A repressão da revolta anticomunista ordenada por Ceaucescu deixou, por sua parte, cerca de 200 mortos.
Ceaucescu comandou a Romênia por 24 anos, sob regime comunista e com forte repressão à população. Ele e a mulher tentaram fugir do país quando começou a revolta popular de 1989, mas foram capturados após alguns dias. Os dois foram fuzilados após um julgamento sumário, realizado por um governo provisório, em 25 de dezembro de 1989.
Iliescu foi apontado como presidente interino em 26 de dezembro, e eleito presidente em 1990, como 85% dos votos. Ele ficou no poder até 1996 e voltou para um segundo mandato de 2000 a 2004.
Em seu segundo período como presidente, a Romênia entrou para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e encaminhou a entrada do país na União Europeia, ocorrida em 2007.
No ano passado, durante sua acusação, Iliescu disse ser alvo de uma farsa e assegurou que apenas cumpriu seu dever.