Marina encara hip hop por eleitor jovem, mas animado mesmo, só Eduardo Jorge
O sonho de alguns admiradores da candidata Marina Silva é fazer a presidenciável soltar o coque e deixar a cabeleira voar ao lado da MC Soffia, rapper de 14 anos que canta contra o preconceito racial em vídeos do YouTube.
Ainda não conseguiram.
Mas, em busca do eleitor jovem perdido, Marina até encarou um hip hop: escalou o Pegada Black, grupo brasiliense de dança, para uma performance no palco da convenção que selou sua candidatura à Presidência.
A plateia da convenção balançou ao som da música negra, e o vice de Marina, o médico Eduardo Jorge (PV), bateu o pé no chão, animadinho. Marina ficou imóvel.
Jorge, aliás, é tido como a “arma secreta” da candidatura para reconquistar os jovens. Com suas tiradas, foi onipresente na memesfera em 2014, quando se candidatou à Presidência pelo PV.
Na convenção, foi aplaudidíssimo, e não decepcionou –invocou até a princesa Leia, da "Guerra nas Estrelas".
“Ninguém pode ser mensageiro da revolução ambiental se não fez a revolução humana dentro de si; nós somos um cosmo, da complexidade de uma galáxia, e vamos colocar inclusive a princesa Leia para nos ajudar nesse processo de resistência da república contra impérios.”
Foi ovacionado ao defender o veganismo e vegetarianismo. “Precisamos do abolicionismo animal, os animais têm direito a terra, ninguém disse que eles estão aqui para ser nossos escravos e torturados diariamente para colocar um pedaço de carne na mesa.”
Marina precisa recuperar um de seus maiores trunfos, o eleitorado jovem. Em dezembro de 2015, tinha a preferência de 32% dos jovens (16 a 24 anos), diante de 24% das intenções de voto no geral. Hoje, seu apoio no segmento caiu para 10%, semelhante à intenção de votos geral em um cenário com Lula.
“A Marina podia deixar o cabelo que nem o meu, o dela é mais baixo, mas ela podia usar pente garfo”, comentava Ruan Medeiros, 19 anos, estudante de ciências ambientais na UnB, que usa cabelo afro.
Ruan vai votar pela primeira vez neste ano. Ele é voluntário da campanha do líder indígena Kamuu Wapixana a deputado distrital no DF. Acompanhou Kamuu no ensaio para a apresentação da convenção e acabou convocado para um dos shows, porque faltava gente –fez um esquete com capa preta, à la "Thriller", do Michael Jackson, com a placa: Desigualdade.
Ele entende bem do assunto: mora em Samambaia Sul, sua mãe é diarista e seu pai faz bicos na construção.
No palco da apresentação, tinha mais negros do que entre os cerca de 150 convidados e candidatos que estavam sentados atrás de Marina –ali na área VIP, não passavam de seis.
Mas a importância da diversidade foi ressaltada em todas as falas da convenção.
Joênia Wapixana, primeira indígena a atuar como advogada no Brasil, é candidata a deputada federal de Roraima. “Povos indígenas não fazem parte do passado, somos o presente –ensinamos os portugueses a tomar banho, eles não sabiam higiene pessoal.”
Ela afirmava que Marina é negra e indígena. “Você é o povo brasileiro.”
Meirinha (Meire Joyce), candidata a deputada federal na Bahia, é vereadora em Irecê e a primeira pessoa com nanismo a ser parlamentar. “Sofro bullying até hoje. Ficam me dizendo, se nem os grandes conseguem, essa pequena vai conseguir? Essa daí só tem voto de crianças, eles dizem.”
A comunidade trans também estava representada, na figura da advogada e professora Giowana Cambroni, 38, candidata a deputada federal no Rio. “Marina não tem preconceito”, dizia. "Mas gostaria de que fosse um pouco mais incisiva nas questões que afetam a comunidade LGBT.”
Giowana, Joenia e Meirinha se reuniram no palco para a última apresentação musical, em que músicos com roupa de capoeira e uma cantora de Birkenstock cantaram "Reconvexo", sucesso de Maria Bethania.
Foi uma catarse: todo mundo levantou e foi para o palco, batendo palma. Eduardo Jorge ensaiou uns passos de dança de braços dados com correligionárias.
Marina continuou sentada.
A candidata estava cansada. Na sexta-feira, ficou trabalhando em seu discurso até de madrugada, acordou e foi para a convenção sem nem tomar café da manhã. Teve que pedir para a filha correr e comprar uma beterraba “bem pigmentada” para ela passar nos lábios –ela tem alergia à maioria dos batons.
Mas quis deixar claro que sua saúde está ótima.
“Sou milagre da vida e dos médicos –5 malárias, 3 hepatites, uma leishmaniose, 1 contaminação por metais—, mas estou aqui, saudável, há 60 anos, 4 filhos, e com este porte admirável.”
Durante sua fala, ela espantou o cansaço e levantou a plateia com seu discurso.
Já a pilha de seu animado companheiro de chapa acabou. Mesmo com a eloquência da ambientalista e o alto volume do áudio, Eduardo Jorge cochilou diversas vezes enquanto Marina falava.