Marina Silva critica teto de gastos e defende melhor formação de professores
A presidenciável Marina Silva (Rede) criticou o teto de gastos implementado pelo governo Michel Temer (MDB) e disse que a medida compromete educação, saúde, segurança pública e outras áreas essenciais, nesta segunda-feira (13), em São Paulo.
A ex-senadora, que participou de debate promovido pelo movimento Todos pela Educação e pela Folha, afirmou que o controle de gastos públicos não pode ser feito “com prejuízo de áreas fundamentais”.
“Talvez só o governo do presidente Michel Temer concorde com a forma como a educação está, a segurança, a saúde, a infraestrutura, a moradia, o saneamento”, disse ela, fazendo referência ao congelamento de investimentos.
"Nós vamos, sim, controlar o gasto público. Fazer a crítica à forma como está se propondo não significa em hipótese alguma irresponsabilidade fiscal."
A candidata —que várias vezes lembrou ser professora— defendeu enfaticamente a formação de docentes. Disse que é preciso priorizar a valorização da carreira e proporcionar uma remuneração digna.
"Os professores são cada vez mais desvalorizados. Do ponto de vista econômico, social, cultural. E eu digo isso porque fui durante muito tempo professora de ensino médio."
Outra necessidade, continuou ela, é tirar o peso sobre o docente, que hoje carrega uma carga insuportável. "Os problemas da sociedade vêm para cima do professor. Ele tem que ensinar, acolher, inscrever o aluno em ideais identificatórios."
Marina afirmou ainda que o governo federal deve atuar em parceria com governos estaduais e municipais, contribuindo na gestão da educação pública. “Nem tudo se resume a [repassar] recursos.”
Questionada sobre a reforma do ensino médio, ela defendeu que a grade não seja apenas profissionalizante, excluindo disciplinas de ciências humanas como filosofia.
O problema, disse, é que hoje “os jovens não veem um sentido prático na escola” e por isso a evasão escolar nessa fase é alta.
“Boa parte dos problemas já tem respostas técnicas e às vezes até financeiras. O que falta é o compromisso ético de fazer”, afirmou a presidenciável.
Ela falou também em institucionalizar conquistas na área do ensino, para que haja continuidade de iniciativas na área. Marina defende essa lógica em todos os setores do governo, dizendo que políticas bem-sucedidas devem continuar independentemente de que governo ou gestor foi responsável por criá-las.
No término do evento, ao responder sobre o fato de o governo Temer ter esvaziado a discussão sobre gênero da nova versão da Base Nacional Comum Curricular, a presidenciável afirmou que “o debate contra qualquer forma de discriminação deve estar em qualquer espaço”, mas não deixou claro se proporia alterações.
A versão do documento homologada pelo governo no fim do ano passado em meio à controvérsia. Grupos religiosos tinham pressionado para que estratégias de combate à discriminação de gênero fossem retiradas da base, o que despertou reações contrárias.
“A educação é o espaço onde a gente tem a possibilidade de trabalhar para que todas as pessoas sejam respeitadas. Homens, mulheres, negros, índios, independentemente da condição social, da orientação sexual", afirmou a candidata. "E isso pode e deve ser feito sem significar nenhum tipo de proselitismo. Nem ideológico nem religioso nem de qualquer natureza."
A entrevista com Marina, transmitida pela internet, faz parte de uma série de conversas com postulantes à Presidência, batizada de Diálogos Educação Já.
No auditório estavam convidados como o ex-ministro da Educação (governo Dilma) Renato Janine Ribeiro, o ex-secretário municipal de Educação de São Paulo Cesar Callegari e a socióloga Neca Setubal, que contribuiu na campanha da ex-senadora em 2014.
Vice na chapa de Marina, Eduardo Jorge (PV) acompanhou a candidata.
Os presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas do Datafolha estão sendo chamados, um de cada vez, para debater propostas para a educação pública no Brasil.
O primeiro convidado foi Ciro Gomes (PDT), que também atacou o teto de gastos aprovado por Temer e disse que revogará a medida se for eleito.