Se quer ter filhos, escolha um bom pai

Os homens não vão mudar apenas porque nós, mulheres, finalmente, resolvemos dizer que não está bom assim. Que não queremos mais apenas “ajuda” nas tarefas domésticas, que ele tem que saber como usar o raio da máquina de lavar, e ter que encarar a terrível descoberta do caminho que percorrem as roupas do varal até o guarda-roupa, que lavanderia, costureira e padaria existem porque há pessoas, e não apenas mulheres, que utilizam esses serviços.

Os homens não se transformam só porque passaram a dividir o teto com mais alguém ou porque se tornaram pais. Nunca precisaram agir de forma diferente, sempre seguiram um roteiro pré-definido que apenas recentemente ousamos confrontar. Alguns são diferentes, verdade, mas não a maioria. Por isso há uma quantidade enorme de mulheres infelizes, que acreditavam ter se casado com caras muito legais (e eles são até dar de cara com uma vassoura), que se revelaram uns bostas na hora de lavar a louça (todos os dias) ou assumir a paternidade de forma integral e não apenas o papel de babá folguista.

Eles hão de mudar, mas não será hoje. Levará tempo. Enquanto isso, a gente precisa fazer melhores escolhas. Se você quer muito ter um filho, não basta encontrar um cara decente, divertido, inteligente, bom de cama. Ele tem que ser dotado de várias outras qualidades que não prestamos atenção quando estamos encharcadas de ocitocina no cérebro e nas regiões mais lúdicas.

Se ele diz que não gosta de criança, acredite. Se ele diz que não quer ter filhos, acredite. Se ele diz que não tem jeito com criança, acredite, é um eufemismo para adiantar que vai sobrar para você. Se ele diz que trabalha demais, que viaja demais, que não tem tempo para nada, a não ser para a religiosa dupla chopinho & futebol, acredite. Quando a criança chegar, não diga que ele não avisou. Avisou, mas você estava distraída fazendo o enxoval.

Os homens avisam, as pessoas avisam. Mas a gente ignora quando está muito egoísta e focado no que queremos. Eu, por exemplo, jamais teria um filho comigo. Quero dizer, se eu fosse um homem louco para ser pai e me encantasse pela ótima parceira de boteco e de viagens que sou, faria uma investigação bastante completa antes de me comprometer numa parceria esperma e óvulo. Sou ótima pessoa, mas com pouquíssima aptidão e engajamento para a maternidade e assuntos ligados a crianças. E isso não pode ser ignorado. Mas é exatamente o que fazem as mulheres quando resolvem se casar e ter filhos.

Sempre quando o assunto volta à pauta aqui em casa, penso que meu marido deveria pensar bem. Não sei se eu seria uma boa mãe, pelo menos não aquela mãe que todo mundo espera que uma mãe seja. Tão dedicada que está sempre com sono, cansada, sem tempo para ir à manicure, à depilação, que vê Galinha Pintadinha seis vezes seguidas, sem libido e sem vontade de viver alguma coisa que não seja o milagre do nascimento.

Enquanto escrevo, meu estômago dá uma embrulhada, e eu desconfio que não seja porque o almoço me caiu mal, mas porque não me vejo abrindo mão da vida que tenho, por mais que a promessa seja sentir o maior amor da vida, como se prega por aí.

E isso não significa que eu não tenha vontade ou não pense em colocar no mundo uma coisinha linda, mistura de nós dois. Significa que não passa pela minha cabeça assumir a maternidade como a maioria das mulheres faz. Ou seja, fazendo praticamente tudo sozinhas. E se você tem babá, conta com a ajuda dos avós, por favor, guarde sua lição de moral porque não seria a minha realidade. A diferença entre mim, muitas mulheres e 99% dos homens é que não tenho problema em dizer que meu sono, minha happy hour, minhas viagens, minhas regras.

A tarefa de ter que cuidar do rebento no muque e sozinha não é para mim. Não fosse ter casado com um cara que seria, quem sabe será, um pai muito melhor do que eu seria, quem sabe serei, mãe, eu jamais pensaria em me aventurar em ter filho com um qualquer, por mais querido que fosse. Não basta ser querido, tem que participar com sangue, suor e lágrimas desse momento de tanta abdicação. Por isso digo que, se fosse meu digníssimo, pensaria muito bem, porque se rolar bebê aqui em casa, vai sobrar e muito para ele. E não é 50/50, não.

Já me relacionei com caras com quem eu iria para a lua. Legais, divertidos, inteligentes. Mas com quem não criaria nem uma tartaruga, quanto mais um filho, porque ela acabaria fugindo, morrendo ou procriando sem que ele percebesse. É empoderamento que queremos? Pois bem, não dá para ser só romântica. Se desejamos ter filhos, sem correr o risco de enfrentar a maternidade de um jeito solitário, precisamos escolher muito bem os pais. 

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