Mostra no Rio exibe telas de são Francisco, o mais popular santo católico

Uma pintura de três metros de altura por quase dois de largura retrata são Francisco recebendo de Cristo, através de linhas que se assemelham a raios vindos das nuvens, os estigmas, que são os ferimentos nas mãos e nos pés do Redentor crucificado. Ao fundo da cena, vê-se algumas montanhas verdes e outras nevadas, além de um céu cintilante com nuvens propositadamente borradas.

Intitulada “São Francisco Recebe os Estigmas”, a pintura do renascentista Tiziano (1480-1576) foi concluída pouco depois da metade do século 16, quando o artista tinha 80 anos. “Ele pintava diretamente na tela e nunca trabalhou com assistentes. A paisagem foi feita com os dedos, e não com pinceis, o que faz você se lembrar dos impressionistas, que viriam três séculos mais tarde”, diz o curador Stefano Papetti.

Papetti, diretor da Pinacoteca de Ascoli Piceno, município italiano onde são Francisco passou alguns anos de sua vida, reuniu a grande tela de Tiziano e mais 26 representações do santo conhecido por seu voto de pobreza e dedicação aos animais na mostra “São Francisco na Arte de Mestres Italianos”, inaugurada na terça-feira (6), no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Datadas dos períodos renascentista e barroco (séculos 15 a 17), as obras vieram de pinacotecas, coleções particulares e igrejas da região central da Itália, não por acaso as cidades nas quais o “Pobrezinho” —nas palavras do outro curador da mostra, Giovanni Morello— viveu os seus 44 anos.

Nascido em 1181 em Assis, “Francisco não se interessava por dinheiro, vivia uma vida simples e em sintonia com a natureza. Este último fator o torna moderno, de alguma forma”, diz Papetti, em referência à valorização do verde em voga atualmente. 

O curador afirma ainda que o santo é o mais popular da história, tendo sido representado por artistas de todo o mundo. A poderosa influência advém do fato de que Francisco foi o único beato a receber os estigmas, tornando-o muito próximo a Cristo.

A maioria das pinturas da mostra retratam, justamente, cenas ao redor das chagas. Há um estandarte duplo —um quadro com pinturas dos dois lados—​ no centro do espaço expositivo do museu no qual o bolonhês Guido Reni pintou os estigmas como se naturalmente fizessem parte das palmas das mãos. A tela apresenta um Francisco mais idealizado, menos realista.

“Como não há retrato de São Francisco em vida, cada pintor o representou de um jeito”, diz Papetti. A diversidade de abordagens constitui o segundo núcleo da exposição, na qual o santo aparece careca e altivo, cercado por discípulos no quadro de cores fortes de Perugino; ou com expressão de devoção no óleo de tons sombrios “São Francisco de Assis Mostrando o Crucifixo”, de Annibale Carracci.

A mostra tem ainda um terceiro núcleo, chamado “Conversas Sagradas”. Na seção, a imagem de Francisco vem associada à Virgem com o Menino, à Cruz de Cristo e a outros santos franciscanos. A tela emblemática, aqui, é um trabalho de Andrea Lilio que traz o jogo de claro-escuro tão caro à obra do maior pintor barroco, Caravaggio.

Montada pela primeira vez na Itália, em 2016, “São Francisco na Arte de Mestres Italianos” chega ao Rio depois de ter passado pela Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte. 


São Francisco na Arte de Mestres Italianos
​Museu Nacional de Belas Artes - av. Rio Branco, 199, Rio de Janeiro. Até 27/1/2019. De ter. asex., das 10h às 18h; sáb., dom. efer., das 13h às 18h. R$ 8; grátis aos domingos

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