Motorola Solutions: o foco é nas missões críticas e em “salvar vidas”
A Motorola Solutions foi inaugurada em 1928, tendo conquistado diversos marcos tecnológicos e inovações nos seus 90 anos de história. Para fazer um ponto de situação da empresa, e sobretudo na sua atuação em Portugal, Juan Rodrigues, diretor e general manager da empresa em solo nacional, começou por fazer uma breve “viagem” pela sua história. Foi a inventora do primeiro autorrádio para automóvel e transmitiu a primeira comunicação para a Lua, como apenas alguns marcos da empresa nos seus 90 anos. “Ouvir os clientes e encontrar soluções de encontro às suas necessidades, são o nosso fio condutor”, refere o executivo.
Juan Rodrigues explica que a Motorola Mobility, embora conhecida sobretudo pelos seus telemóveis, nada tem a ver com a Motorola Solutions. A primeira foi vendida primeiro à Google e depois Lenovo, atual fabricante que utiliza a marca para os seus produtos.
A Motorola Solutions centra-se sobretudo em soluções de missões críticas, ou seja, tecnologias que podem colocar em perigo a vida de pessoas ou investimentos, caso algo falhe.
A missão da empresa é ajudar os governos (empresas logísticas, fábricas, polícias ou bombeiros) a manterem-se em contacto. A gestão da informação, com cada vez mais dados, requer que seja filtrada para que a informação correta seja entregue à pessoa certa, no tempo correto. Para tal a empresa utiliza cinco plataformas tecnológicas. Em primeiro a LAN Mobile Radio, que é a sua base de soluções. Esta transmite a voz, que é o serviço crítico, “sem voz, algo está mal”, refere o executivo da empresa. A segunda tecnologia é o protocolo Public Safety LTE que é um complemento à sua rede de rádio, permitindo acrescentar vídeos, através de uma ligação mais rápida.
A terceira plataforma é a tecnologia de vigilância de vídeo, tendo adquirido a Avigilante, uma especialista de vídeo com IA e realidade virtual. O quarto pilar é o software de centro de comando, para gerir as decisões do comando de operações. Por fim, os serviços de suporte e gestão para que os polícias e bombeiros, e outras pessoas críticas, não tenham de se preocupar com problemas técnicos.
Líder nas comunicações de emergência
A Motorola Solutions afirma-se como líder de sistemas de radio mobile para profissionais, com mais de 13.000 redes instaladas pelo mundo, suportado pelas plataformas de tecnologia APCO P25 e TETRA (X-Core) que é a mais recente versão. Esta permite integrar vídeo e inteligência artificial na rede. “Em Portugal foi assinado um contrato com a SIRESP em 2016, e temos nas regiões autónomas a plataforma integrada, esperando-se em 2019 a introdução em Portugal Continental”, referiu Juan Rodrigues. A plataforma permite integrar BIG DATA ou Public Safety LTE.
O X-Core é um “armário” com um cérebro e servidores, que está preparado para o futuro, mas pronto no presente. Nesse sentido, foi introduzido um novo rádio, o ST7500, equipado com Bluetooth 4.1, Wi-Fi, encriptação de hardware (end-to-End), tendo a particularidade de ser possível integrá-lo a uma rede LTE. Nesse sentido, é possível utilizar um smartphone para manter ligação ao dispositivo via Bluetooth em conversações de emergência.
A empresa explica que utiliza o LTE Public Safety em situações críticas, dando o exemplo dos jogos de futebol, onde a rede está sobrecarregada pelo número de pessoas. No LTE comercial, que são os telemóveis das pessoas, é impossível comunicar, mas com o standart Public Safety LTE é possível “furar” a barreira sobrecarregada e transferir dados, seja voz como vídeo, permitindo aos agentes colaborarem online.
Para que as entidades não tenham de investir em redes privadas, a Motorola Solutions propõe o LTE Ultra Portable Infrastructure para criar uma “bolha” no teatro das operações (dois quilómetros de cobertura), ou ligá-la mesmo a uma rede fixa, transportada num automóvel, com nove quilómetros de cobertura. Desta forma, a empresa garante que nas situações críticas a comunicação de emergência nunca é interrompida.
A Motorola apresentou o LEX L11 que parece um telemóvel comum, mas tem funcionalidades muito próximas de um Walkie-Talkie, com botão de emergência e um “push to talk”. Tem dois cartões, um para utilizar nas redes públicas (LTE), outro para rede privada (Tetra).
Utilizado pelas forças da ONU, num país africano, por exemplo, sem qualquer comunicação, o sistema de comunicação da Motorola Solutions permite estabelecer rapidamente as comunicações. Nesse sentido, o sistema de vigilância e analítica em vídeo, utiliza inteligência artificial para efeitos forenses ou para análises em tempo real, através de streaming. “No futuro será possível utilizar centros de comando através de realidade virtual”, salienta o executivo. Enviar agentes, recolher evidências ou tomar decisões críticas poderão ser feitas em realidade virtual, lembrando o filme “Relatório Minoritário”, dentro dos próximos três anos.
A utilização de inteligência artificial nas câmaras pessoais dos agentes policiais identifica os alvos na multidão, comunicando com o centro de operações para analisar possíveis agentes perigosos. A tecnologia pode ser utilizada num parque de estacionamento para ler matrículas de carros que não pagaram impostos ou estejam envolvidos em crimes, por exemplo.
Para garantir que os serviços de suporte estejam sempre funcionais, a empresa tem redes de operações a funcionar pelo globo 24/7.
A Motorola Solutions adquiriu algumas empresas para integrar novos serviços, nomeadamente a Kodiak e a Twisted Pair, que permitem utilizar uma aplicação “semelhante ao WhatsApp para missões críticas”, refere o responsável da empresa.
Em Portugal, a tecnologia da Motorola está integrada na rede SIRESP, mas para além das comunicações de emergência, é possível vê-la a atuar na Carris ou no Metro, por exemplo, partilhando com os passageiros o tempo estimado da chegada dos comboios e autocarros nas paragens. Em Portugal, a Motorola Solutions tem 56 pessoas a trabalhar nos projetos, “os engenheiros portugueses são bastante conceituados no estrangeiro e constantemente requisitados”, afirma o executivo, acrescentando que muitos dos projetos “são secretos”.
A empresa está a investir cerca de 500 milhões de dólares anualmente em investigação e desenvolvimento, a nível global. Mantém 4.500 patentes e 1.200 patentes pendentes. Em 2017, a empresa teve receitas na casa dos 6,4 mil milhões de dólares, dos quais 4,5 mil milhões correspondem a produtos e sistemas integrados e 1,9 mil milhões em serviços e software. Ao fim destes 90 anos, contrariando “o que muitos chamam de empresa-zombie”, refere Juan Rodrigues, a Motorola Solutions está presente em mais de 100 países, tem mais de 100.000 clientes e mais de 13.000 redes para missões críticas.
Sobre os incêndios que assolaram o nosso país em 2017, e questionado pelo SAPO TEK sobre a responsabilidade da empresa nas apontadas falhas de comunicações, Juan Rodrigues destaca que a responsabilidade da Motorola era garantir que nenhum equipamento falhasse. “De todos os relatórios feitos sobre os incêndios, nenhuma falha de comunicação foi apontada aos equipamentos da Motorola. As únicas substituições feitas foram aparelhos que queimaram. Nunca houve uma falha devido a equipamentos”, ressalva o responsável da Motorola Solutions.
A empresa, que optou por não adquirir a SIRESP, mantendo a sua participação de 14,9%, refere que a rede correspondente à sua maior área de negócio em Portugal. Ainda assim, o contrato acaba em 2021, mas a empresa tem a sua infraestrutura já preparada para o futuro.