No 1º de Maio, trabalhador ataca trabalhador
Com 28 milhões de desempregados, desalentados ou trabalhando menos de 40 horas semanais no Brasil, Jair Bolsonaro queimou a largada e perdeu tempo nos primeiros 120 dias de governo. Sem se dedicar à reforma da Previdência, dissipou o otimismo que chegou com ele à Presidência.
Mas há algo de estrutural na quase depressão que tomou conta do Brasil. Não existe paralelo, desde a redemocratização, na lentidão com que a economia anda desde o fim da recessão de 2014-2016.
Até ela, em todas as quatro crises importantes pós-ditadura (1989-1992, 1998-1999, 2003 e 2008-2009), o PIB reagiu rápido no acumulado dos três trimestres seguintes ao fim da recessão.
Desta vez, tivemos dois anos seguidos (2017 e 2018) de crescimento perto de 1% e entramos no terceiro (2019) sem perspectiva de melhora.
O que há de errado, então, se a inflação e os juros estão baixos, há capacidade ociosa e o Brasil tem quase US$ 400 bilhões em reservas cambiais?
Objetivamente, a grande diferença entre a saída das crises anteriores e da atual é a relação entre o tamanho de nossa dívida pública como proporção do PIB —o melhor indicador da solvência das contas públicas.
Na crise de 2003, por exemplo, essa relação era menor que 60%. Ao sair da recessão, o país cresceu 3,6% no acumulado de três trimestres. Na de 2008-2009, a relação seguia em 60%, e crescemos 7,6%.
A diferença agora é que saímos da recessão de 2014-2016 com a relação dívida/PIB acima de 70%. Ela hoje já está perto de 80% —e subindo rápido.
Para quem ainda não se convenceu, essa é a principal razão de ser da reforma da Previdência. Pois o que mais gera aumento do déficit público e da dívida é o descontrole do sistema de pensões e aposentadorias.
Em recuperações anteriores, foram sempre os investimentos das empresas que lideraram a retomada. Desta vez, ninguém investe ou emprega temendo que o governo suba impostos mais à frente para cobrir rombos, arruinando margens de lucro.
FHC, Lula e Dilma também ajustaram a Previdência diante do envelhecimento da população e de seu impacto nas contas públicas. Mesmo assim, as centrais sindicais elegeram a reforma como alvo neste 1º de Maio e marcaram uma greve geral (com exceção da UGT).
Não deve dar em nada, mas é outro exemplo da irracionalidade brasileira. Uma nova aposta contra o futuro.