Sem dinheiro, Museu Pelé pode ser administrado pelo Santos
O Santos Futebol Clube voltou a carga para assumir o museu que leva o nome de Pelé, localizado no centro histórico da cidade do litoral sul de São Paulo (a 85 km da capital).
Atualmente, o equipamento é administrado pela Prefeitura de Santos, mas enfrenta dificuldades financeiras e até mesmo estruturais.
“O clube formalizou neste mês uma proposta de parceria para administrar o Museu. Na semana passada, também recebemos um grupo de São Paulo, que trabalhou com a Pinacoteca do Estado, e está interessado. A proposta [do Santos] está com o executivo, agora”, disse à Folha o secretário de turismo da cidade, Odair Gonzalez.
O Museu viu naufragar a última tentativa de parceria, em junho de 2017, com a empresa argentina Museos Desportivos, reconhecida por trabalhos na área de museologia em clubes como Boca Juniors, River Plate, Benfica (POR) e Juventus (ITA).
O projeto dos argentinos era de uma renovação total na exposição do Museu para aumentar o público, ainda inferior ao de equipamentos da cidade como o aquário, orquidário Municipal, Museu do Café e já contava com uma equipe com arquitetos, historiadores e cenógrafos.
Procurada pela reportagem, a empresa não quis falar sobre o assunto, enquanto a Prefeitura explicou que poderia ter novidades até o fim de março, mas, depois, também não optou por não se posicionar.
O interesse do clube em gerir o local não é novo. No fim de janeiro, o presidente José Carlos Peres admitiu publicamente conversas com o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB). Por meio de sua assessoria, o dirigente disse que não é de costume do Santos falar durante as negociações, mas que existem conversas e uma possibilidade de acerto entre as partes.
O projeto santista é para “desintoxicar a Vila Belmiro”, ou seja, remanejar quase 100 funcionários que trabalham nas dependências do estádio – nas áreas de marketing, suprimento, patrimônio, financeiro e TI – para espaços não utilizados no Museu. O clube conta com mais de 160 pessoas somente no setor administrativo.
O equipamento passa por dificuldades. Inaugurado dias após a estreia da seleção na Copa, em 15 de junho de 2014, o local fecha no vermelho desde a sua fundação. O déficit mensal é de aproximadamente de R$ 70 mil e já ocasionou um histórico de problemas de contas atrasadas, como o pagamento à concessionária de energia elétrica.
O principal temor do Santos, no entanto, é com relação a situação estrutural do casarão tombado de 4.134 m², que apresenta uma série de problemas e pode acarretar em gastos altos. O clube também passa por dificuldades financeiras tendo, inclusive, atrasado o pagamento dos salários a funcionários e jogadores.
Em março, o museu ficou fechado pelo descolamento de reboco em paredes, uma delas abrindo um buraco próximo a uma janela, e devido à queda de parte do teto onde ficam expostas as peças. A prefeitura chegou a suspender as visitas por quatro dias por medida preventiva.
Além disso, apresenta em sua fachada problemas de infiltrações e alagamentos em decorrência de chuvas.
Na próxima semana, a prefeitura informou que devem ser iniciadas as obras de reparo, como a troca de uma grande calha e, posteriormente, da vedação da cobertura de vidro do museu, que liga dois blocos do prédio. A obra custará pouco mais de R$ 80 mil e poderá demorar até seis meses para ficar pronta.
“O município certamente tem total interesse no repasse do equipamento, em eliminar custos. É visível o estado e as condições em que se encontram o museu. A parceria seria importante”, explicou o vereador Antonio Carlos Banha Joaquim (PMDB), responsável pelo pedido de apuração pelo Ministério Público das verbas públicas utilizadas na construção e manutenção do Museu Pelé.
Para ser construído, o museu recebeu aproximadamente R$ 50 milhões de verba dos governos federal, estadual e municipal em conjunto com alguns patrocinadores angariados pela Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Ama Brasil, primeira gestora do equipamento.
Em 2015, mesmo em meio a uma grave crise financeira, o Santos chegou a estampar o nome do museu no espaço mais nobre de sua camisa, dando a entender que a parceria estava alinhada.
“Existiram muitas dificuldades. Não é algo fácil de acertar, há muitos detalhes, leis municipais, estaduais, a questão do acervo e financeiramente não é um grande negócio. Dá para fazer, claro, mas são diversos aspectos que precisam ser superados”, disse Modesto Roma Júnior, presidente do clube entre 2015 e 2017.
Na ocasião, a Prefeitura assegurou que a exposição não teve repasse de valores e que não representava qualquer tipo de acordo entre as partes.
A assessoria de Pelé disse que a gestão e a responsabilidade sobre o acervo pertencem a prefeitura e que não há posição sobre o assunto.