Nos EUA, apenas cinco estados têm votação totalmente eletrônica
A segurança das urnas eletrônicas, que permeou o debate político no Brasil durante as eleições, também é uma questão em voga nos Estados Unidos. Mas em menor grau: apenas 5 dos 50 estados americanos adotam a votação totalmente digital, enquanto outros usam cédulas de papel e outros equipamentos.
Poucos meses atrás, o estado da Geórgia, primeiro dos Estados Unidos a adotar o DRE (máquina eletrônica sensível ao toque), foi palco de um embate que poderia abrir precedente para que as urnas digitais fossem abandonadas no país.
Após um especialista em segurança cibernética apontar uma falha no sistema eleitoral do local, que permitia o acesso a dados de mais de 6 milhões de eleitores, ativistas processaram o estado solicitando que fossem adotadas cédulas em papel nas eleições legislativas e de governos estaduais desta terça-feira (6).
A demanda foi rejeitada por uma juíza federal em setembro, que entendeu que a troca de todos os equipamentos a menos de oito semanas do pleito poderia comprometer o processo, apesar de ter reconhecido os riscos do sistema.
O governo americano garante que está preparado para lidar com ameaças de inimigos. Na última sexta (2), durante um evento em Nova York, a secretária de Segurança Nacional, Kirstjen Nielsen, afirmou que “serão as eleições mais seguras” que os americanos já tiveram e que não há evidências de tentativas de interferência externa na infraestrutura eleitoral neste ano.
O risco de ciberataques e de influência externa no pleito, que colocou os americanos em alerta após as investidas de agentes russos na disputa presidencial de 2016, é um dos motivos que explica a resistência de estados a adotar a urna eletrônica, segundo analistas.
“A boa notícia é que a maioria dos sistemas não é conectada à internet”, afirma Theodore Allen, professor associado da escola de engenharia da Universidade Estadual de Ohio e especialista em sistemas eleitorais. “Mas existem riscos de ciberataques, seja por meio da interferência na contagem de votos ou no sistema de registro do eleitor.”
Mas não é o único: a facilidade de se auditar votos em papel e a falta de investimentos para modernizar os sistemas, por exemplo, também contribuem para a manutenção de equipamentos mais antigos.
Cada distrito dos EUA, onde o voto não é obrigatório, tem liberdade para escolher o modelo de votação que melhor lhe convém, desde cédulas de papel até voto por email.
Uma das vantagens de existir tanta variedade de modalidades de voto é a dificuldade de um americano ou ator estrangeiro invadir todos os sistemas, afirma Paul Herrnson, cientista político e coautor de “Voting Technology: The Not-So-Simple Act of Casting a Ballot” (Tecnologia de Votação: O Ato Não Tão Simples de Votar, sem edição em português).
Além disso, alguns modelos podem se mostrar melhor para alguns estados do que outros, já que o número de candidatos na disputa e de medidas postas para consulta popular variam entre eles.
Um dos processos é aquele em que a cédula de papel é marcada com caneta e depositada em um scanner, que então registra o voto.
De acordo com o laboratório de dados eleitorais e de ciências do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), foi o modelo mais usado nas últimas três eleições presidenciais e é o que mais tem se popularizado.
Outro equipamento associado ao papel é o “punch card”, que perfura a cédula ao lado do nome do candidato escolhido. O papel, então, é depositado em uma urna. Foi muito usado entre as décadas de 80 e os anos 2000, mas hoje seu uso não é mais permitido em eleições a nível federal.
A forma de votação com cédula mais simples é aquela na qual o eleitor seleciona os candidatos preferidos com um “X” e entrega o papel para um mesário. A modalidade, no entanto, dá mais trabalho, já que os votos são contados de forma manual. Talvez, por isso, não seja um dos mais populares no país.
O modelo mais "vintage" é o da máquina de alavanca, que também não pode mais ser usado em eleições presidenciais. O eleitor entra na cabine, fecha a cortina e, por meio de alavancas, escolhe seu candidato. Não é visto com frequência, já que muitas máquinas quebraram e não foram repostas.
O DRE (sigla para Direct Recording Electronic) pode ser totalmente eletrônico ou então emitir um comprovante de voto para evitar eventuais erros. De acordo com o site Ballotpedia, que compila dados sobre eleições americanas, ao menos 17 estados oferecem a tecnologia com o recibo.
Em alguns casos, os americanos podem votar também por email ou aplicativo. O estado da Virgínia Ocidental, por exemplo, é o primeiro a oferecer um aplicativo móvel com tecnologia blockchain para militares em serviço fora do país poderem votar.
O voto por email, por sua vez, é adotado em ao menos 22 estados, segundo a NCSL (Conferência Nacional de Legislaturas Estaduais). O eleitor recebe a cédula em casa e, após o preenchimento, a envia de volta por email ou a entrega pessoalmente em um colégio eleitoral.
Apesar das novas tecnologias, Roy Saltman, autor de “The History and Politics of Voting Technology” (A História e a Política da Tecnologia de Votação, sem edição no Brasil), acredita que “a votação totalmente eletrônica não é mais o futuro e, eventualmente, vai acabar”. “As pessoas querem um registro em papel do voto.”
Já Herrnson acredita que a falta de confiança dos americanos no sistema eleitoral também seria um fator contra a modernização das eleições. “E tem a questão do dinheiro, a prioridade é investir em estradas, hospitais e escolas.”
Em 37 estados e na capital federal, existe alguma forma de o eleitor votar antes das eleições gerais (inclusive por email).
Até sexta-feira (2), mais de 28 milhões de votos já haviam sido registrados.
Em 18 estados e na capital federal, o número já superou o das últimas eleições de meio de mandato presidencial, realizadas em 2014, segundo o The New York Times.