Novidade com futuro incerto, patinete elétrico chega às ruas de SP
O mercado de patinetes elétricos compartilhados é incipiente e de futuro duvidoso em São Paulo, mas está movimentado. Em menos de um mês, startups anunciaram parcerias com grandes marcas, fusão, expansão da frota de veículos e novas operações. Até o início de janeiro, ao menos quatro empresas ofertarão patinetes na rua.
A expectativa dos empresários é que a onda vinda da Califórnia e popularizada em cidades da Europa e da China atinja os brasileiros e sensibilize autoridades para investir em infraestrutura para o transporte individual.
Além dos desafios de adaptação a uma nova forma de locomoção, os patinetes enfrentam obstáculos de regulação e segurança em diversas cidades, e aqui não é diferente.
Há três meses, a Yellow implementou o serviço de bicicletas compartilhadas sem estações físicas na zona oeste São Paulo. Elas podem ser estacionadas em local público e destravadas pelo próximo passageiro, por meio de leitura de código QR Code em aplicativo de celular.
A empresa, fundada pelos criadores do aplicativo 99 e pelo ex-presidente da Caloi, foi pioneira no sistema de estacionamento livre no Brasil. Na última semana, colocou patinetes elétricos na região do Itaim Bibi (zona oeste), mas com um sistema diferente: os patinetes ficam em pontos privados, como no prédio do Google, na av. Faria Lima.
Outras marcas seguem a mesma linha. Nenhuma opta pelo dockless, no qual os patinetes são largados em qualquer lugar.
A Yellow levantou US$ 63 milhões (R$ 232,9 milhões) em setembro para disponibilizar mil patinetes até o fim do ano. Apesar do tamanho, não tem a mesma distribuição da Ride. A startup, com investimento próprio de R$ 5 milhões, tem 45 estações na cidade.
São pontos privados como lojas, lanchonetes, bares, prédios comerciais e academias de crossfit amigáveis à reputação descolada do patinete. Todos ficam em bairros ricos, como Pinheiros e Vila Olímpia.
Marcelo Loureiro, presidente da empresa, viu o modelo nascer em Los Angeles com a americana Birds, e resolveu testá-lo em São Paulo em setembro de 2017. Comprou patinetes na China, de onde sai a maior parte dos veículos (em especial da gigante Xiaomi), e colocou 150 unidades na rua.
“Já enfrentamos todas as dificuldades de operar aqui: chuva, regulamentação inexistente, ladrões e usuários que deixam no lugar errado. Roubaram dez patinetes em três meses e recuperamos outros 15 que seriam levados. Quem vier para o mercado vai passar por isso”, diz.
Todos os dias, os patinetes são recolhidos, recarregados por cinco horas, limpos e avaliados. Por volta das 5h, saem do galpão para a redistribuição nas estações, onde estão livres à clientela às 7h.
Para ampliar os clientes, hoje em cem por dia, a empresa fez uma fusão com a mexicana Grin (colocarão mais 500 patinetes elétricos nas ruas) e fez uma parceria com a colombiana Rappi, aplicativo de tele-entrega, para facilitar o serviço pelo seu aplicativo.
O público ainda está restrito, em sua maioria, a empresários de terno que se deslocam em curtos trajetos próximos ao Google e ao Facebook. Na região da av. Paulista e do parque do Ibirapuera, o interesse é mais diluído.
“No nosso caso, está 50% a 50%. Tem quem usa para ir de A a B pagando pouco e tem quem usa para se divertir. Nos fins de semana, arrisco dizer que 80% é turista”, diz Mauricio Duarte, fundador da Scoo, empresa com mil patinetes no Brasil e erguida com investimento próprio de US$ 1 milhão (R$ 3,7 milhões).
A Scoo também quer expandir. Sua meta é conseguir até US$ 25 milhões (R$ 92,4 milhões) de investidores nos próximos anos e apostar em outras modalidades, como patinetes elétricos para patrulhamento e uso corporativo.
A portuguesa Iomo, que atua em Lisboa e inicia operação em Santos na segunda quinzena de novembro, aposta na demanda das regiões metropolitanas.
“Em São Paulo a pessoa chega, tem o trem; em São Caetano, chega e tem que caminhar. Gostaríamos de ajudar nesse trajeto. Algumas cidades da Europa fazem integração do bilhete único com patinete e bicicleta. O patinete viraria uma solução de mobilidade com apoio do setor público”, diz Rafael Castro, um dos donos da empresa.
Em um evento de mobilidade em São Paulo, o patinete foi avaliado como um meio de transporte viável a um futuro próximo. Quem defende seu uso se baseia no argumento da mobilidade como serviço, não como produto.
“A mobilidade elétrica cresce no mundo todo, o próprio carro vai virar elétrico. Há muito investimento em patinete nos EUA, a indústria acredita nessa modalidade, principalmente como alternativa para dar fluidez dos centros para os bairros”, diz Renato de Castro, especialista em mobilidade e cidades inteligentes.
As empresas de patinetes elétricos compartilhados baseiam sua operação em resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que trata de veículos ciclo-elétricos e ciclomotores. Nesse caso, a legislação determina velocidade máxima de 20km/h em ciclovias e ciclofaixas e até 6km/h em locais com pedestres.
Os preços dos serviços em São Paulo custam de R$ 0,15 a R$ 0,35 por minuto, mais R$ 1 de desbloqueio.
Os patinetes têm velocímetro, freio, acelerador e indicador de bateria.