O candidato que disputou 95 eleições e perdeu todas
Recordista mundial em eleições disputadas —e perdidas—, o canadense John Turmel, de 67 anos, está em campanha novamente. Em 22 de outubro, ele concorre com outros seis candidatos à prefeitura de Brantford, cidade de 98 mil habitantes na província de Ontário, onde vive.
Esta é a 96ª eleição disputada por Turmel. Ao longo de quatro décadas, ele já concorreu a cargos locais, estaduais e federais, na maioria das vezes como independente, em outras por agremiações como o Partido dos Pobres de Ontário, fundado por ele em 2011, o Partido Abolicionista do Canadá, que fundou em 1993, ou o Partido do Crédito Social do Canadá. A única vez em que não foi derrotado foi em 2008, quando o pleito foi cancelado.
Esse desempenho garantiu ao canadense um lugar no Livro Guinness dos Recordes Mundiais como o candidato com o maior número de derrotas. Mas Turmel afirma não se importar com o título e diz que as campanhas são uma oportunidade de divulgar suas ideias.
“Mesmo tendo perdido 95 eleições, eu estou dizendo às pessoas como podem se salvar. Como isso poderia me incomodar?”, disse Turmel à BBC News Brasil.
Ele lamenta, no entanto, o fato de a imprensa dar mais atenção ao recorde do que a sua plataforma, focada em temas como abolição das taxas de juros e criação de um sistema comunitário de permuta de bens e serviços, com uso de uma moeda baseada no tempo que cada um gasta em determinada atividade.
“Taxas de juros levam as pessoas à falência, à pobreza, ao desemprego. Eu me tornei conhecido como o manifestante contra os juros, protestava em frente aos bancos por todo o país, tem sido minha missão”, relata.
Pôquer e início de carreira
Turmel tem um diploma em Engenharia Elétrica e costuma aparecer em vídeos e debates com um capacete de construção civil com a frase “Turmel, o Engenheiro”, mas foi por conta da carreira como jogador de pôquer profissional que acabou ingressando na política.
“Fui um famoso jogador por 42 anos. Há dois anos comecei a receber aposentadoria e parei de jogar. Para mim sempre foi um trabalho, nunca um vício”, salienta.
Em 1979, cansado de enfrentar problemas com a polícia por conta de jogos clandestinos que organizava, decidiu concorrer ao Parlamento com a proposta de legalizar os jogos de azar.
Ele recebeu apenas 193 votos, 0,35% do total, mas o resultado não abalou sua vocação política. Ao longo dos anos, sua plataforma se ampliou para incluir temas como legalização da maconha e da prostituição.
Comumente descrito na imprensa como “superperdedor”, Turmel usa outros termos superlativos para se referir a si próprio, como “John, o superengenheiro antipobreza”, “primeiro-ministro do planeta”, “grande jogador canadense” ou “rei dos pobres”.
Ele mantém um site e um canal no YouTube em que detalha suas propostas, muitas vezes em formato de poesia. Os vídeos cobrem assuntos variados, desde suas ideias sobre economia até outros em que descreve as mudanças climáticas como uma farsa, enumera os efeitos benéficos de beber a própria urina ou aparece tocando acordeão.
Debates e polícia
Vários vídeos mostram o candidato sendo retirado pela polícia de debates para os quais não havia sido convidado.
“Se eu não posso falar na TV, o jogo está manipulado, então eu vou lutar para poder aparecer na TV, para receber a mesma quantidade de tempo”, ressalta.
“Muitas e muitas vezes, quando fazem um debate e eu sou excluído, compareço do mesmo jeito, e os obrigo a chamar a política para me retirar do local”, descreve.
O canadense esclarece que não foi excluído de debates na atual campanha municipal, mas sim em disputas nacionais. Ele calcula que já foi retirado de debates pela polícia em torno de 50 vezes ao longo de sua carreira. “Devo ser o candidato político que mais foi detido na história.”
Turmel diz não culpar os eleitores por tantas derrotas. “As pessoas não sabem o que estou propondo, já que não posso participar da maioria dos debates e a mídia não fala sobre minhas propostas, mas só do número de eleições que perdi.”
Ao responder se quando entra em uma eleição acredita que sairá vitorioso, ele diz reconhecer que as chances são poucas, mas não desanima.
“Eu sempre tenho esperança. Esperança de que as pessoas vão acordar ou de que um milagre vai acontecer.”