O surfe da vida em Portugal, a Indonésia gelada
Posted By Mariana Broggi on nov 19, 2018 in Destaque, Lifestyle, Surfe Feminino |
Créditos de imagem: Mari Broggi.
Era uma manhã linda. Cheguei por volta das 7 horas no Aeroporto de Lisboa. Nunca tinha visto um nascer do sol com uma luz daquela. “Hoje em dia muitos filmes são feitos aqui em Portugal só por causa dessa luz”, explicou meu namorado quando já estávamos na estrada com destino a nossa nova casa, em Peniche. É, essa escolha dos cineastas faz todo sentido…
Por Mariana Broggi
Ele percebeu o quão impressionada eu estava. Completamente sem palavras, olhava pra todos os lados como uma criança ansiosa pra desfrutar, pela primeira vez, de um brinquedo novo. Minha mente quase não acompanhava as variáveis de cenários deslumbrantes em meio a luz alaranjada, que brilhava conforme o movimento do carro, em relação ao sol e às árvores.
Era inexplicável aquele visual.
Sorte, Deus ou atração?
“Que recepção! Melhor que isso, só se tiver altas ondas”, pensei. E por Deus, Netuno, Iemanjá, minhas vibrações, não sei exatamente o que ou quem, só sei que fui presenteada com mais essa! Cheguei em Peniche, deixei as bagagens, descansei e acordei pilhada pra surfar, afinal, era fim da primavera e eu queria aproveitar e surfar pela primeira vez fora do Brasil sem congelar tanto (risos).
A praia mais perto daqui de casa é a Praia da Almagreira. Ironia do destino, mas de todas que conheci até agora, foi a que eu achei mais linda. E é a mais vazia (é muito vazia). Cercada por paredões e dunas de areia, tem inúmeras bancadas de esquerdas e direitas perfeitas por toda sua grande extensão. Um verdadeiro paraíso do surfe.
Eu não conseguia esconder minha euforia. Quem era o frio perto daquelas linhas perfeitas rolando? Nunca tinha visto ondas daquela qualidade. Alucinei!
Confesso que até hoje (estou aqui há 2 semanas) aquele foi o dia mais quente. Tá aí mais uma sorte que eu tive, ou vibração, caso você não acredite em sorte. Como um amigo que costuma dizer: “atraímos o que emanamos”, e eu concordo (risos). Mas, fica a seu critério. Só sei que foi mágico.
Vale (muito) a pena passar frio
Fazia 17 graus, o que é muito quente perto do inverno que está por vir. Reza a lenda, que chega a uns 6, 7 graus de manhãzinha por aqui, sem contar o vento que, Ave Maria! Não para UM segundo! É tipo “Furacão 2000” o dia inteiro, ou seja, prepara o longjohn, a toca, a botinha e a luva pra surfar!
Coloquei a roupa de borracha que trouxe do Brasil, uma 3.2 que deve caber mais umas três pessoas junto comigo ali de tão larga, e fui na raça pra água gelada..
Coloquei a roupa de borracha que trouxe do Brasil, uma 3.2 que deve caber mais umas três pessoas junto comigo ali de tão larga, e fui na raça pra água gelada. (Ah, aqui os portugueses não falam que a água é gelada e sim, fresca. Fala sério, eu não sei o que eles consideram gelado, porque olha…)
A verdade é que cada segundo de frio vale a pena graças a qualidade das ondas. Você só vai precisar de uma boa roupa (e grossa, 4.3 no mínimo, durante o inverno) e talvez uns acessórios para os mais friorentos como eu. Qualquer amante do surfe delira ao ver tanta bancada boa numa costa tão pequena. Como dizem por aí, Portugal é a Indonésia de água gelada. Tem onda longa de manobra, point break (fundo de pedra), bancada de areia, e muiiito tubo. Muita onda pesada, muita onda grande, muita série na cabeça. Eu senti bem isso dois dias depois quando tomei umas bombas de 2m na Praia do Baleal, aquela clássica hora que o filho chora e a mãe não vê, mas aí é história pra outro texto…
O surfe e o pôr do sol da vida
Caí próximo ao Pico da Mota, ainda não sei se tem nome aquele point. No primeiro joelhinho meu namorado já me olhou pra ver como eu reagia à imersão no gelo. Eu me saí bem naquele dia, até porque a água não estava tão gelada assim, em comparação com agora (me perdoe o palavreado, mas tá foda!).
Mari registra o pôr do sol de cinema.
Cheguei felizona no outside e logo recebi mais um presente. A direita da vida veio escrito “Mariana”. Poucos momentos da vida eu tive o prazer de me sentir tão leve e realizada quanto me senti ali. Só o surf me dá essa emoção, quem surfa sabe. Minha primeira onda fora do Brasil foi talvez uma das melhores ondas da minha vida. Essa sensação única de levitar sobre as ondas… É isso que me move!
Não sei quanto tempo fiquei na água, perdi a noção de tudo depois de várias ondas perfeitas de cerca de 1 metrão. Só me dei conta quando tudo foi tomado de novo pela luz alaranjada do pôr do sol mais lindo que já vi até hoje (e minha roupa larga começou a permitir a entrada de muita água “fresca”).
Essa luz e essas ondas que Portugal tem, só vendo pra entender. Ainda me faltam palavras…
Por ora, só tenho a agradecer por tantas descobertas. Esse país ganhou meu coração no primeiro dia.