Parlamento britânico impulsiona chances de brexit sem acordo com a Europa
O governo Theresa May perdeu nesta quinta-feira (14) uma nova batalha no Parlamento britânico, o que deve enfraquecê-lo ainda mais nas negociações com a União Europeia (UE) para alterar o acordo de saída do Reino Unido do bloco.
Mas desta vez a conta pode sair mais cara para o Legislativo do que para a líder conservadora. É que o plenário, de certa forma, votou contra si próprio, já que a moção governamental apreciada na quinta dizia apenas que a Casa “reitera seu apoio à abordagem de saída da EU expressa por ela” pouco mais de duas semanas atrás.
Ou seja, os parlamentares, ou a maioria deles, foram incoerentes em relação ao acordado em 29 de janeiro, quando deram sinal verde a duas propostas: a de que a exclusão de um artigo polêmico do documento fechado com Bruxelas bastaria para o Legislativo finalmente aprovar o pacto e a de que o cenário de um “no deal” (ruptura a seco, sem qualquer acordo) deveria ser descartado.
Apesar de as decisões do Parlamento não serem vinculantes, ou seja, de o governo não ser obrigado a segui-las, May se pautou por elas para tentar reabrir as negociações com as autoridades europeias.
O tópico que causa contrariedade no Legislativo é o que fixa um dispositivo para evitar, após o brexit, o restabelecimento de controles de mercadorias na fronteira entre as Irlandas, a única divisa terrestre entre UE e Reino Unido: uma união aduaneira temporária entre os dois blocos.
A ala mais radical do Partido Conservador acha que o mecanismo, que só entraria em vigor em caso extremo, pode deixar os britânicos presos ao sistema europeu indefinidamente.
May tentou obter da UE um “prazo de validade” para a união aduaneira ou a possibilidade de Londres se retirar dela unilateralmente. O outro lado não cedeu até aqui.
Na quinta, foi novamente o segmento mais favorável a um brexit duro do Partido Conservador que selou o revés de May —a ironia é que é esse grupo, integrado por não mais do que 50 parlamentares, que a primeira-ministra mais se esmera em agradar nas tratativas do brexit.
Eles querem a exclusão do “backstop” (nome em inglês desse “seguro” contra a volta de uma fronteira restritiva nas Irlandas), mas não aceitam que o governo tire da mesa a hipótese de um “no deal”.
No entendimento dessa ala, o fantasma de um caos logístico e alfandegário (certamente no Reino Unido, mas também na Europa continental) na ausência de um acordo é uma bela carta na manga para constranger a UE a reabrir e editar o acordo finalizado em novembro de 2018.