Pesquisa mostra que 83% estão insatisfeitos com democracia no Brasil

Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (29) pelo Pew Research Center mostra que a maioria da população está insatisfeita com o funcionamento da democracia em seus países.

De acordo com levantamento feito em 27 nações —entre elas o ​Brasil—, 51% das pessoas estão descontentes com a democracia, enquanto 45% avaliam de forma positiva o desempenho do sistema político.

No Brasil, por sua vez, a diferença entre contentes e descontentes é ainda maior: 83% se declaram insatisfeitos, enquanto somente 16% se dizem satisfeitos com a democracia —16 pontos percentuais a mais de insatisfeitos em relação a 2017, quando 67% afirmavam estar descontentes.

A pesquisa foi feita entre maio e agosto de 2018, ou seja, durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB) e antes da eleição de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto —o novo presidente tomou posse em janeiro deste ano.

Nos EUA, a insatisfação com a democracia é de 58%. Desde 2017, já com o presidente republicano Donald Trump no comando da Casa Branca, o número dos descontentes aumentou 7%.

Para a análise feita pelo instituto foram levadas em consideração questões sobre economia, política, sociedade e segurança.

O resultado mostrou que, dentre os fatores pesquisados, a insatisfação com a democracia está intimamente relacionada à frustração econômica, ao cerceamento de direitos individuais, ao tratamento que a Justiça dá aos cidadãos, e também à avaliação de que os políticos, além de corruptos, não se preocupam com o povo.

As dúvidas sobre economia, a raiva de uma elite considerada corrupta e inatingível e a ansiedade sobre rápidas mudanças sociais é justamente o que tem alimentado agitações políticas no mundo e impulsionando o descrédito na democracia, segundo os pesquisadores.

O cenário político ainda conflagrado levanta uma pergunta importante: a insatisfação com a democracia é suficiente para que as pessoas tenham disposição de apoiar outras formas de governo, inclusive as não-democráticas?

O Pew Research Center concluiu que os insatisfeitos com a democracia tendem a ser menos comprometidos com a democracia representativa e, portanto, mais inclinados a apoiar outras formas de governo, com o de um líder forte ou até mesmo o comandado pelas Forças Armadas, mas não há números absolutos que ilustrem essas constatações no levantamento.

Em 24 dos 27 países pesquisados, a frustração com a economia aparece como um dos pontos-chave para a insatisfação com a democracia.

Pessoas que disseram que a economia está ruim em seus países têm 71% de chance de se dizerem também insatisfeitas com a democracia. No Brasil, assim como na Grécia e na Tunísia, porém, foram tão poucos os entrevistados que avaliaram a economia como boa que não foi possível fazer essa relação.

Além do pessimismo com a situação financeira dos países, os dados mostram que a maioria da população acredita que a eleição traz pouca mudança para o status quo. Por outro lado, as pessoas estão, na média mundial, mais otimistas em relação à proteção à liberdade de expressão, à criação de oportunidades para melhorar de vida e à segurança pública.

No Brasil, o cenário é um pouco diferente —e também mais sombrio nesse aspecto. Na média dos 27 países pesquisados, 62% avaliam que a liberdade de expressão está protegida dentro dos seus territórios nacionais. Entre os brasileiros, 42% têm essa percepção, enquanto 55% acham esse direito não está devidamente protegido no país.

Na média mundial, 57% acham que as pessoas têm boa chance de melhorar de vida em seus países, mas no Brasil esse índice fica em 46%.

Em relação ao tratamento que a Justiça dá aos cidadãos, o Brasil volta a se alinhar ao resto do mundo: 72% dos brasileiros acham que a Justiça não lida de forma justa com todas as pessoas. Na média mundial, o número fica em 53%.

Entre os entrevistados dos 27 países, 61% acham que os políticos não se preocupam com o cidadão comum, 54% acreditam que a maioria deles é corrupta, e 60% avaliam que não importa quem seja eleito, as coisas não vão mudar de maneira significativa.

No Brasil, o pessimismo segue. São 78% os que acham que a classe política não se preocupa com a população e 42% os que acreditam que a maioria dela é corrupta —56% não avaliam dessa forma.

 

A diferença está na crença nas eleições: 60% dos brasileiros avaliam que, sim, as eleições são capazes de trazer mudança.

O cansaço diante da política tradicional e a ânsia por mudanças de governo multiplicou a ascensão de líderes anti-establishment, como Bolsonaro no Brasil e Trump nos EUA, além de partidos populistas, como na Europa.

Entre os europeus, soma-se aos fatores que contribuem com a insatisfação em relação à democracia a visão que eles têm sobre União Europeia e imigrantes —desde 2015, a região tem recebido uma onda de refugiados, principalmente na Grécia e Itália. Nesses dois países, são mais de 70% os insatisfeitos com o funcionamento da democracia, por exemplo.

O ódio à UE e aos imigrantes tem sido tema recorrente na retórica e nas plataformas de partidos populistas --de direita e de esquerda-- que têm ganhado apoio nos últimos anos.

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