Por que o Campeonato Brasileiro não nos seduz?
Meu brilhante amigo José Trajano disse, em outubro de 2013, que o Cruzeiro não parecia um time de Campeonato Brasileiro. "Às vezes parece o Arsenal, ou o Bayern, que vai reto, em direção ao gol. De um campeonato de 20 times, só um dá gosto", afirmava. Está no YouTube.
Também está nos registros que Fernando Calazans dizia a mesma coisa sobre o Brasileiro de 2003, o primeiro por pontos corridos. Em 16 anos, nunca se terminou um campeonato com o sentimento geral de que foi bom.
Pela fórmula de disputa, aquele primeiro torneio de pontos corridos pareceu para muita gente a salvação do futebol do país. Teve a pior média de público em seis anos e queda na média de gols de 5% em comparação ao ano anterior. Havia 26 clubes e 46 rodadas, razões possíveis para o declínio.
É ótimo o Brasileiro por pontos corridos. Nosso fracasso é começar sua 17ª edição sem escapar da mesma análise. Não tem um time encantador no país e talvez só nos encantemos com o campeão. Talvez.
Foi o caso do Corinthians de Tite, em 2015, do Santos de Robinho, em 2004, do Cruzeiro de Alex, em 2003...
O 17º torneio da Premier League foi o de 2009. A média de gols havia diminuído 6,3%, o público subiu 66% em relação à edição de estreia. Nos últimos dez anos, a média de público cresceu 8%, e os gols subiram na mesma proporção.
É covardia comparar os jogos do Brasileiro com os clássicos na Inglaterra, Espanha e Alemanha. É muito mais chato ver o Atlético de Madrid do que o Barcelona, o Bremen do que o Bayern. Mas não é covarde comparar avanços das ligas.
O Brasileiro de 2003 teve avaliação ruim da crítica, igual ao de 2002 e ao de 2004, 2006... 2018... Há 17 temporadas, o Brasileiro é unânime. É ruim. Pode ser rigor excessivo, saudosismo ou ter comparações incomparáveis com a elite da Europa. Mas a pergunta aqui é outra: por que o Brasileiro não nos seduz?
Ano passado houve a maior média de presença nas arquibancadas em 31 anos. Muita gente vai assistir ao Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo...
O Brasileiro? Ah... Premier League e Espanhol são muito melhores. Virou verdade absoluta, mesmo que poucos assistam a Celta x Huesca.
E ninguém se incomoda? O presidente da CBF, Rogério Caboclo, precisa se incomodar. O ano passado também registrou a pior média de gols em 28 temporadas. Em teoria, menos gols levariam menos espectadores. Isso não se confirma, porque a paixão clubística diminui o senso crítico ou porque anos de estrada dos jornalistas tiram a paixão. Em qualquer hipótese, a necessidade é trabalhar para elevar o nível técnico.
A transformação do ciclo vicioso em virtuoso inclui menos trocas de técnicos e mudanças de elencos, mais sequência de trabalho e formação de equipes. Sem mudar tanto, uma equipe de setembro será muito melhor do que era em janeiro. A esperança de ter um time especial no Brasileiro que nasce são Flamengo, Santos, Grêmio e Cruzeiro. Palmeiras, Corinthians e São Paulo têm chance de taça, mas são pragmáticos.
Os campeonatos da Europa pedem socorro por outros motivos. A Juventus é octa, o Bayern tem chance do hepta, o PSG ganhou 6 dos últimos 7 torneios, o Benfica pode vencer o 5º em 6 anos, Barcelona e Real Madrid ganharam 14 dos últimos 15 campeonatos. Só na Inglaterra o equilíbrio sobrevive. O Liverpool tenta evitar que o City seja o primeiro bicampeão em dez anos.
A Copa União, tentativa de liga, existiu no Brasil cinco anos antes de os ingleses decidirem fazer uma empresa de seu campeonato. Pararam de brigar por migalhas. Começaram a ganhar milhões. Faz 32 anos que sonhamos com o mesmo.