Projeto investe na formação política de herdeiros de empresas

Entre as dezenas de movimentos de renovação política criados nos últimos anos, destaca-se o Legado para a Juventude Brasileira, destinado à formação de novas lideranças empresariais, mas é um dos poucos que não terá candidatos nestas eleições. 

Foi na época das grandes manifestações de protesto de 2013 que a educadora Daniela Rogatis apresentou ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a ideia de criar cursos de formação para os herdeiros de grandes empresas para despertar neles “vontade de permanecer no Brasil, investir e criar um futuro no nosso país”. 

Especialista em desafios e gestão do legado familiar, Daniela Rogatis já tinha feito uma pesquisa em diversos países latino-americanos, com destaque para a Venezuela, sobre êxodo de jovens que saem para estudar e acabam não voltando, relata Marina Cançado, que este ano assumiu a direção executiva do programa, ao lado do professor Joel Pinheiro da Fonseca, colunista da Folha. FHC e Rogatis continuam no conselho.

Os dois primeiros cursos sobre o papel do Brasil na relação com as grandes potências foram ministrados pelo próprio FHC e, o terceiro, sobre as perspectivas econômicas, por ex-integrantes do seu governo, como Armínio Fraga, Pedro Malan e Gustavo Franco. 


O legado se define como um movimento “apartidário que quer conectar os jovens das famílias empresárias brasileiras ao seu papel de liderança no país”. 

Nestes cinco anos, ingressaram no movimento cerca de 250 jovens herdeiros, entre 20 e 40 anos, de 100 grandes empresas de diversos setores da economia, de 17 estados brasileiros. “Mais importante do que tratar de nomes e pessoas específicas, acreditamos no poder de articulação dessa rede de jovens”, diz a diretoria executiva, ao não revelar quais empresas e jovens lideranças participam do programa. 

Ao final do primeiro ciclo, alguns os participantes resolveram criar uma associação sem fins lucrativos, a Agenda Brasil do Futuro, para avançar em alguns dos temas que haviam priorizado. 

Formada em Administração pela FGV-EAESP e pós-graduada em Liderança para a Competividade da América Latina pela Universidade de Georgetown, em Washington, Marina Cançado 
constata como os jovens se transformaram durante o programa pelos conteúdos, pessoas e reflexões dos cursos.

“Isso já gerou uma série de resultados concretos, como desistência de ir morar fora, novo rumo em termos de carreira, mais clareza sobre seu papel como brasileiro e herdeiro”. 

No plano coletivo, a diretora executiva cita os trabalhos feitos junto ao setor público. “Eles aprenderam a colocar a mão na massa no que diz respeito às transformações coletivas. Hoje atuam financiando, testando diferentes formas de solucionar os desafios de pessoas do setor público. Para isso não é preciso ter um cargo eletivo nem dentro da máquina pública, mas servir de elo entre os diferentes setores da sociedade civil”.

Por isso, o LJB não terá candidatos nas próximas eleições. “É a conexão destes jovens com lideranças de diversos setores que será capaz de redesenhar o Brasil. Não acreditamos na renovação pela renovação. Precisamos de uma renovação mais profunda no olhar e no fazer política”.

Ao mesmo tempo em que ressalta “a necessidade de reconhecermos os bons profissionais públicos”, Cançado aponta o atraso na informatização dos serviços. “Estamos atrasadíssimos. Viajei o Brasil por conta de um trabalho para o Bolsa Família e a lacuna de infraestrutura que encontrei é absurda”.
 
Neste choque de realidade com o Brasil real, os jovens herdeiros partiram da teoria à prática sem esperar o final dos cursos. A ideia inicial era fazer só um curso de formação para reconectar o jovem com o país e fortalecer o senso de responsabilidade para com ele, mas logo na primeira turma o grupo começou a se organizar para fazer algo concreto com o que tinha aprendido e refletido.
 
Em 2018, os planos são de promover a expansão do movimento por outras regiões do país com o objetivo de criar uma rede de juventude empresarial local, que é a prioridade de Marina Cansado e Joel Pinheiro da Fonseca. 

Para fazer este trabalho, o financiamento do LJB vem da anuidade do programa de formação (cerca de R$ 40 mil por participante). 

Uma parte desse recurso é reservada para custear professores, estrutura e logística, e outra para financiar as iniciativas concretas, como foi o caso da Agenda Brasil do Futuro, que já atua junto a órgãos públicos, prefeituras e governos estaduais. 

Por seu trabalho para fazer a ligação entre sociedade civil, setor privado e setor público, Marina foi nomeada para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República e assumiu a relatoria da pauta de Desburocratização e Governo Digital que acompanha 200 projetos prioritários de modernização do Estado. 

No cipoal de siglas de renovação política que se preparam para participar já destas eleições, em sua maioria formados a partir de movimentos sociais e de lutas identitárias, o LJB é uma iniciativa diferenciada que procura olhar para o futuro, como explica Marina Cançado:
 
“Esta não é uma agenda de curto prazo, tampouco é uma agenda de reparos. É um trabalho de uma geração e de uma vida encontrar a convergência na sociedade para avançar numa lógica de século 21 nesse momento histórico em que estamos”. 

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