Rio seria diferente se fosse mais bem urbanizado em 1960, diz presidente da MRV
O Minha Casa, Minha Vida contribuiu para o planejamento urbanístico e, se o Rio de Janeiro tivesse sido mais bem urbanizado na década de 60, provavelmente não enfrentaria alguns dos problemas atuais, afirma Eduardo Fischer, um dos presidentes da incorporadora MRV.
Questionamentos feitos ao programa são fruto das críticas à faixa 1, que subsidia até 90% do valor do imóvel para famílias de baixa renda, segundo o executivo.
Críticos afirmam que apesar de representarem quase dois terços do mercado imobiliário nacional, as moradias do programa alimentaram a especulação imobiliária e não estruturaram o crescimento das cidades.
Que balanço você faz do Minha Casa, Minha Vida e como enxerga as críticas feitas ao programa?
Habitação é um problema sério no Brasil. O Minha Casa, Minha Vida completou dez anos e é mal interpretado. Essas discussões em geral estão ligadas à faixa 1, uma área totalmente subsidiada, na qual não atuamos.
Em São Paulo, você anda pelo extremo leste ou pelo extremo sul e vê o que são as mazelas de não ter um planejamento urbanístico e um projeto de habitação popular no Brasil. Se o Rio de Janeiro fosse melhor urbanizado na década de 60, talvez não vivesse o que está passando hoje. Todos os países endereçam habitação de baixa renda porque é uma das maiores mazelas.
[Na faixa 1] A pessoa está em uma lista, às vezes ganha um apartamento em um lugar totalmente diferente de onde gostaria de morar. É algo que não se sustenta. Já eu tenho que tentar conquistar meu cliente [nas faixas 2 e 3], vou entregar o melhor produto possível.
Você considera que o MCMV foi bem-sucedido?
O MCMV deu muito certo. Tirando o faixa 1, você transfere poder para quem compra. O que o programa faz é facilitar o acesso para quem tem necessidade maior. Não tem como contornar o fato de que uma camada de população mais pobre precisa de moradia também. Isso precisa ser resolvido por projeto de Estado, mas sempre acredito que dar para elas o poder de compra e deixar que resolvam é a melhor solução, mesmo no faixa 1.
Talvez para a pessoa muito pobre, o aluguel social seja uma solução. Mas do faixa 1 para cima, a solução construída [no MCMV] é a melhor delas.
No cenário macroeconômico, o que mais tem afetado o setor?
A questão fiscal está gerando uma série de desequilíbrios. Há algumas semanas o ministério da Economia cortou parte do orçamento por conta desse início de ano mais desequilibrado. Isso afeta o Ministério do Desenvolvimento Regional, gera instabilidade.
A médio prazo, se discute muito o que fazer com o FGTS. Ele tem um aspecto relevantíssimo que é a base do financiamento da habitação de baixa renda no Brasil.
O mais urgente hoje é resolver esses gargalos momentâneos que têm acontecido, principalmente de restrição no orçamento, pois afetam o andamento dos projetos.
Alguma dessas questões já afetou os planos da MRV para este ano, por exemplo?
Eu só mudo meu planejamento se algo muito sério acontece. Não é o caso. Tem muito mais demanda que oferta. E nosso negócio tem um ciclo muito longo. Olhamos para nosso negócio hoje para o cliente só receber a chave daqui a cinco anos. Se ficarmos preocupados com o que acontece a cada semana, não tem empresa.
Continuo otimista com o setor e esses soluços são normais, quem cresceu aqui [no Brasil] já os viu. Só mudaria meus planos se houvesse uma mudança muito radical no cenário atual, algo que não consigo enxergar.
Leia a coluna completa aqui.