Sócios do Santos rejeitam impeachment de Peres em votação

Os sócios do Santos reprovaram neste sábado (29) os dois processos que pediam o impeachment do presidente José Carlos Peres, 70. O pleito foi extenso, iniciado às 10h e encerrado somente após às 20h.

A decisão mantém Peres à frente do clube e evita o primeiro impedimento de um presidente em 106 anos de história. Em um colégio de 3.165 votantes para o primeiro processo e 3.171 para o segundo (17.345 sócios estavam aptos), prevaleceu o “não” para os dois pareceres aprovados pelo Conselho Deliberativo, em votação no último dia (10). 

 Ao todo, o primeiro processo teve 2001 votos favoráveis (63,2%) a Peres, e o segundo, 2064 (65%).

Votara contra o presidente 1155 associados no primeiro processo (36,5%) e 1088 no segundo (34,3%). Houve ainda um voto em branco e oito nulos no primeiro, e oito votos em branco e 11 nulos no segundo. 

Eram necessários 50% mais um votos contrários para a saída do dirigente. Após quase nove meses, Peres – eleito em dezembro para um mandato de três anos, até 2020– poderia ser desligado precocemente do poder. A disputa foi o ápice da guerra política instaurada na Vila Belmiro.

 

O “racha” entre grupos, centralizado, principalmente, entre apoiadores de Peres e de Orlando Rollo, vice-presidente, ganhou momentaneamente capítulos finais.
 
Com a vitória de Peres, Rollo, principal desafeto político do dirigente, terá vida ainda mais difícil dentro Vila Belmiro. Recentemente, o presidente santista já havia determinado que nenhuma orientação ou ordem vinda do próprio vice fosse seguida pelos funcionários sem que ele aprovasse. Eles ainda trocaram farpas públicas.
 
A votação ocorreu dentro do ginásio da Vila, com dez urnas sob forte esquema de segurança. Diferentemente das últimas disputas no clube, marcadas por muitas confusões e discussões, o pleito não apresentou maiores polêmicas.
 
Na última, por exemplo, Rollo disse ter sido agredido por correligionários do então presidente Modesto Roma Júnior e questionou a legitimidade do voto de um grupo de torcedores. Ainda houve problemas em torno de duas urnas por supostas tentativas de fraude.
 
Desta vez, o clube adotou segurança semelhante ao modelo utilizado nos jogos considerados decisivos. A eleição contou com policiamento externo e interno, além de cerca de 60 seguranças do clube e 120 de uma empresa contratada.
 
A eleição foi iniciada às 10h30, após o registro de cem associados, número mínimo exigido pelo estatuto do clube para dar início ao processo.

Ameaças x vitimismo


 Peres chegou à votação vestindo um colete à prova de balas. O dirigente justificou que ele e a sua família receberam uma série de ameaças de morte durante a semana.
 
“[Estou utilizando] para a minha segurança, tenho recebido muitas ameaças de morte. Ligaram para a minha mãe, que tem 90 anos, mora em Curitiba, para dizer que ela e todos os meus irmãos todos iam morrer. É um terrorismo. Isso já está na Polícia Federal para investigações”, disse.
 
Próximo aos portões do estádio, oposicionistas do presidente distribuíram camisas com os dizeres “por um Santos FC novo diga sim”, sugerindo aprovação do processo de impeachment. Os associados, no entanto, foram vetados de utilizá-las na votação.
 
O entorno ainda contou faixas como “Fora Peres de Santos devolva o título de cidadão santista”, “Peres persona non grata, forasteiro, quem fez o Santos do mundo foi a província, mais respeito!” e “cidade x José Carlos Peres”, em resposta a declarações do dirigente ao longo do mandato quando chamou, em entrevistas, a Vila Belmiro de “puxadinho” e disse que era preciso abandonar o pensamento provinciano com relação ao clube.
 
Peres reclamou de dificuldades para chegar a Vila Belmiro. Explicou ter acionado o atual governador do Estado, Márcio França, para agir junto à Ecovias, concessionária do sistema Anchieta-Imigrantes, e facilitar para os mais de 250 santistas que vieram de ônibus da capital.
 
Durante o pleito, o ex-presidente Modesto Roma Júnior, opositor de José Carlos Peres na última eleição, criticou a postura de Peres e ainda sugeriu a renúncia, não só de Peres, mas também de Rollo.
 
Orlando Rollo também não poupou novas críticas direcionadas a Peres. Após trocar uma série de insultos e acusações via imprensa nos últimos dias, o dirigente ironizou o uso do colete à prova de balas adotado pelo dirigente.
 
 “Ele não para de se vitimizar, essa palhaçada de vir de colete e mostrar. Trabalho há 16 anos na área de segurança pública. Quem está com medo, não vai mostrar aos seus algozes. É uma tentativa de quinta categoria de se vitimizar”, disse. "O meu colete é a camisa do Santos", completou.
 

Entenda o impeachment

 
Peres foi alvo de dois pareceres que recomendaram pelo seu impedimento. O primeiro, com 34 páginas, encabeçado por Alexandre Santos e Silva, e o segundo, com 12, liderado por Esmeraldo Tarquínio de Campos Neto.
 
Ambos foram primeiramente aprovados por dois terços do conselho para, só depois, seguirem à assembleia destinada aos associados.
 
Durante a semana, um conselheiro ainda tentou por meio de uma liminar barrar o processo de impedimento. Ela foi cassada horas depois. Peres, por sua vez, negou qualquer influência.
 
O processo foi bancado pela acusação a Peres de ser sócio de empresas de agenciamento de jogadores enquanto presidia o clube. O dirigente justificou que a empresa jamais atuou no mercado, não emitiu notas e existia apenas no papel. Além disso, as companhias foram encerradas neste ano.
 
A outra acusação sobre Peres é a de que editou portaria definindo que todas as contratações realizadas pelo Santos deveriam ser determinadas pelo presidente, algo que vai contra o estatuto do clube, que prevê as decisões colegiadas, tomadas pelo Comitê Gestor, grupo formado por presidente, vice-presidente e até sete membros.
 
Ainda foram apontadas irregularidades na negociação para a contratação do zagueiro equatoriano Jackson Porozo, 17. O Santos prometeu repassar 30% do lucro de uma venda futura para a Hi Talent, empresa que não fez qualquer investimento na negociação e que já teve como um dos cotistas Ricardo Crivelli, ex-sócio de Peres e contratado por ele para ser coordenador das categorias de base.
 
Apelidado de Lica, ele está afastado do cargo, acusado de abuso sexual. Crivelli nega ter cometido o crime e o caso é investigado pela polícia.

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