Trump acusa chineses de roubar segredos da maior empresa de chips dos EUA

Autoridades dos EUA acusaram uma empresa estatal chinesa, sua parceira em Taiwan e diversas pessoas de roubar segredos comerciais da Micron Technology, a maior fabricante americana de chips de memória, de acordo com um indiciamento revelado nesta quinta (1º).

O indiciamento é a mais recente em uma onda de acusações quanto a supostos casos de roubo de tecnologia por empresas chinesas, resultado da posição agressiva adotada pelo governo Trump contra Pequim.

Os acusados no indiciamento criminal são a United Microelectronics Corp. (UMC), fabricante de semicondutores sediada em Taiwan e com ações negociadas na Bolsa de Nova York, a estatal chinesa Fujian Jinhua Integrated Circuit e três cidadãos taiwaneses.

O secretário da Justiça dos EUA, Jeff Sessions, também criticou a China, afirmando que o país estava violando um acordo que assinou com o governo Obama sob o qual ambos concordavam em não apoiar ataques cibernéticos ou roubo de segredos empresariais.

“Em 2015, a China assumiu publicamente o compromisso de não usar empresas americanas como alvo para ganho econômico”, disse Sessions. “É evidente que esse compromisso não foi respeitado.”

Representantes da Fujian Jinhua, UMC e Micron não se proncunciaram, tampouco a embaixada chinesa em Washington. Não estava claro quem representaria os indivíduos acusados.

A revelação do indiciamento, obtido em setembro e anunciado nesta quinta-feira, surge dias depois que o Departamento do Comércio americano desferiu um golpe potencialmente fatal contra a Fujian Jinhua ao proibir exportações e transferências de tecnologia de origem americana para a empresa, que depende dessa tecnologia para produzir seus chips. 

A Fujian Jinhua, uma startup que conta com US$ 5,7 bilhões em capital fornecido pelo Estado chinês, tem parte essencial no plano da China para criar um setor de semicondutores de classe mundial e deixar para trás a dependência quanto a tecnologia estrangeira.

Também na quinta-feira, Sessions anunciou uma nova “iniciativa China” para combater melhor o roubo de segredos comerciais, propinas, lobby estrangeiro ilegal e transações comerciais que possam dar a investidores estrangeiros acesso a tecnologias americanas críticas.

Sessions disse que um novo grupo de trabalho com pessoal do Departamento da Justiça, incluindo procuradores federais de distritos judiciais na Califórnia, Texas e outros estados, reforçaria o engajamento entre as forças policiais e de justiça americanas e as universidades do país, onde o Departamento da Justiça acredita que iniciativas do Partido Comunista chinês tomem por alvo tecnologias essenciais e ameacem a liberdade acadêmica.

As autoridades americanas reforçaram a pressão sobre Pequim quanto ao que descrevem como campanha extensa para interferir nos assuntos dos Estados Unidos e obter indevidamente tecnologias críticas de empresas americanas. Alguns dias atrás, procuradores federais americanos revelaram acusações contra dois agentes dos serviços de inteligência chineses e oito outras pessoas que supostamente trabalhavam com eles em uma campanha que durou anos para roubar informações sobre uma turbina de aviação comercial que estava sendo desenvolvida por duas empresas, uma americana e uma francesa.

Com uma combinação entre ataques cibernéticos e recrutamento de espiões, os ataques de Pequim a empresas custam centenas de bilhões de dólares ao ano à economia dos Estados Unidos, de acordo com algumas estimativas do governo. No mês passado, Chris Wray, diretor do Serviço Federal de Investigações (FBI), disse que sua agência tinha investigações de espionagem ativas que implicavam a China em seus 56 escritórios de campo, abarcando todos os setores econômicos. Wray também descreveu a China como principal prioridade de contrainteligência do FBI.

“Confrontaremos os comportamentos malignos da China, e a encorajaremos a se conduzir da maneira a que aspira: como um dos principais países do planeta”, disse John Demers, diretor da divisão de segurança nacional do Departamento da Justiça.

A retórica áspera de funcionários importantes do Departamento da Justiça contrasta com a descrição do presidente Trump sobre um “telefonema longo e muito bom” ao presidente chinês Xi Jinping, na manhã da quinta-feira, sobre tópicos como o comércio e a Coreia do Norte.

A ação do Departamento da Justiça contra a UMC e a Fujian Jinhua surge depois que a Micron abriu processo contra ambas em um tribunal federal da Califórnia, em dezembro, acusando-as de roubo de talentos e segredos comerciais. A Fujian Jinhua contestou o caso e o processo continua. A Fujian Jinhua em seguida abriu processo contra a Micron em janeiro, em um tribunal chinês na província de Fujian - cujo governo é um dos proprietários da empresa - e obteve uma liminar impedindo algumas subsidiárias da Micron de vender no mercado chinês produtos sobre os quais ambas as empresas invocam patentes. A Micron afirmou que o processo da Fujian Jinhua não passava de uma retaliação espúria e criticou Pequim quanto ao tratamento que estava recebendo.

As acusações da quinta-feira reforçaram o consenso crescente de que a China está violando o pacto bilateral assinado em 2015 entre Xi e o então presidente Barack Obama sobre roubos cibernéticos, ainda que autoridades tenham dito que não viam o caso da Micron como uma questão de crime cibernético especificamente. Agentes dos serviços de inteligência americanos e diversas empresas privadas de segurança na computação acreditam que o acordo tenha resultado em queda real na espionagem chinesa, mas que as atividades prejudiciais tenham retornado desde a posse de Trump, com a escalada das hostilidades comerciais e em outros campos.

The Wall Street Journal, traduzido do inglês por Paulo Migliacci

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